Vila Planalto volta a ter rota cultural e turística

A Vila Planalto é a memória operária viva. O símbolo da resistência dos pioneiros sobreviveu com a construção dos palácios, à pressão dos governos militares, aos projetos de transferência dos moradores dos antigos acampamentos para outras localidades e se tornou um local com qualidade de vida aos pés do poder.

É uma comunidade urbana da Região Administrativa de Brasília que fica entre o Palácio do Planalto e o Palácio da Alvorada. Não há uma data exata de sua fundação. Historiadores estimam que tudo começou em maio de 1957 quando recebeu os operários das empresas Rabelo e Pacheco Fernandes, as primeiras firmas a se instalarem no imenso canteiro de obras da nova capital, ainda em 1956, para construírem, respectivamente, o Palácio da Alvorada e o Brasília Palace Hotel. Com a conclusão dos prédios os operários iniciaram a construção do Eixo Monumental e da Praça dos Três Poderes.

Assim como os pioneiros, as construções de madeira da Vila Planalto, resistem em meio às novas e enormes residências de alvenaria.Uma das casas originais fica na Rua do Açougue e a outra, na Rua Mato Grosso,mas o mais importante símbolo do tempo é a Paróquia Nossa Senhora do Rosário e Pompeia. O prédio é um marco histórico, cultural e arquitetônico da Vila Planalto fundado em 2 de abril de 1959.

E foi neste local que respira história que o GDF anunciou melhorias para a Vila Planalto na sexta-feira (14). O local vai passar por um processo de requalificação. É o que prevê o projeto retomado pela atual gestão da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), a partir do qual a área vai ganhar obras de urbanização, drenagem, iluminação pública e sinalização turística e cultural.

O projeto da rota turístico-cultural está a cargo da Seduh, com o apoio das secretarias das Cidades (Secid), Cultura e Economia Criativa (Secec) e Turismo (Setur), além da Administração Regional do Plano Piloto, da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), da CEB, da Caesb e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/DF).
O trajeto da rota turístico-cultural engloba ruas compartilhadas, com mais espaço e vez para pedestres, sinalização dos pontos turísticos, drenagem, preservação do conjunto tombado pelo patrimônio histórico, adequação de obras desconformes e edificações irregulares, qualificação dos espaços urbanos e desenvolvimento social e turístico.

Anamaria de Aragão, coordenadora de projetos da Seduh, disse que tirar o projeto da gaveta é reviver as memórias da região. “É importante para a pessoa que venha visitar saber da história e dos marcos da Vila, que não tem mais identificação e precisam ser rememorados”, afirma. O plano de requalificação da Vila Planalto estava adormecido desde 2012, quando foi elaborado pela Secretaria de Obras.
Mateus de Oliveira, secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação falou da importância do trabalho integrado. “Mais importante é a demonstração de união dos órgãos de governo, empenhados em tirar projetos do papel e torná-los realidade. Uma engrenagem não funciona se todas as peças não estiverem alinhadas. É um projeto que pode parecer pouco diante de tudo que a Vila representa, mas é muito importante para a história de Brasília”.
Candido Teles, diretor-presidente da Novacap, falou de suas memórias afetivas com o local. “É um marco. Morei na Vila Planalto na década de 1960. Foi nessa igreja que assisti à minha primeira missa”. Teles falou que a Novacap é parceira e que o projeto é muito bom. “Vamos fazer esse trabalho, que é uma dívida do GDF com a Vila. É uma dívida e o governador Ibaneis Rocha vai pagar essa dívida”.
Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa, elogiou a união e a iniciativa da comunidade local. “Parabenizo pela mobilização que fizeram nesse projeto. A Vila é uma joia encravada no Distrito Federal.
E o secretário Bartolomeu tem razão. Esta joia foi tombada em 21 de abril de 1988, por meio de um decreto do Governo do Distrito Federal, que considerou as construções públicas de madeira da Vila Planalto Patrimônio Histórico do Distrito Federal.
A pequena cidade de pouco mais de 7 mil habitantes, tem excelente qualidade de vida, um comércio pujante e um disputado polo gastronômico. Sem violência, com ruas estreitas, pracinhas arborizadas e até construções de madeira, ainda mantém as características e os costumes interioranos.
A Vila Planalto perdeu grande parte de sua área para a construção do Lago Paranoá, ministérios e até os anexos do Senado e Palácio do Planalto. É que com o início das obras na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, a Novacap permitiu que outras construtoras erguessem, simultaneamente, seus acampamentos em locais próximos aos já existentes. Em 1958, havia 22 acampamentos ao redor do conjunto das obras prioritárias para a cidade. Na época, a Vila Planalto ocupava uma área que extrapola em muito a atual. Ela se estendia de onde agora estão os anexos dos ministérios, o Senado Federal, o Palácio do Planalto, os setores de Embaixadas e Clubes Norte, indo até perto do Palácio da Alvorada. O Lago Paranoá cobriu parte de alguns desses acampamentos.
Fotos: Arquivo Público e Renato Alves / Agência Brasília