Greta Gerwig é a primeira cineasta mulher a ultrapassar a marca US$ 1 bilhão de bilheteria com “Barbie”

Com apenas três semanas de exibição, o blockbuster da diretora e roteirista Greta Gerwig arrecadou a impressionante quantia de US$ 1,03 bilhão nas bilheterias globais, de acordo com estimativas oficiais da Warner Bros. Isso faz de Gerwig a primeira diretora mulher com um filme de bilhões de dólares.
A boneca Barbie é um ícone em todo o mundo. Crianças em centenas de países cresceram com as bonecas e suas lindas imagens e para gerações de mulheres Barbie remete as lembranças do passado. Isso deu ao filme um sólido trampolim para aclamação internacional.

O incrível sucesso do longa da boneca da Mattel não é nada inesperado. “Estou neste jogo há 30 anos e o fenômeno Barbie e Barbenheimer é tão sem precedentes quanto imprevisível”, disse Paul Dergarabedian, analista sênior de mídia da Comscore.

Ele acrescentou que a campanha de marketing do filme foi o primeiro indício de que “Barbie” seria um sucesso de bilheteria. “A campanha de marketing para ‘Barbie’ colocou em movimento uma cadeia de eventos que levou a palavra Barbenheimer a ser adicionada ao léxico popular em virtude de sua data de lançamento. Foi aí que todos nós soubemos que algo muito especial e único criaria um resultado muito maior do que o esperado para o filme, não apenas no fim de semana de estreia, mas também em sua exibição global nos cinemas.”

O sucesso global foi impulsionado pelas vendas de bilheteria em alguns dos maiores mercados de cinema do mundo, incluindo Reino Unido, México e Austrália. “Barbie” também teve um bom desempenho na China, o segundo maior mercado do mundo e que tem se tornado cada vez mais isolado nos últimos anos.
O fantástico mundo da Barbie

Na trama, Barbie e Ken deixam a Barbie Land e embarcam em uma aventura no mundo real. Cabe ressaltar a atuação de Margot Robbie (Barbie) e Ryan Gosling (Ken). Em cena, é nítido notar o quanto Margot é Barbie, demonstrando pleno controle da atuação em cada sequência, especialmente quando o momento é de que outra colega de cena brilhe – caso mais exemplar é o monólogo de Gloria (America Ferreira), naquele que talvez seja o leitmotiv da produção.

Mais do que um filme feminista sobre feminismo, Barbie é um filme feminino não apenas para mulheres, mas para todos. A validade das suas críticas reverbera ainda mais pela amplitude que a personagem-título tem na cultura pop, tendo atravessado gerações como um ícone, para o bem ou para o mal.

Barbie (Margot Robbie) e outras Barbies vivem em Barbieland, um mundo em que tudo é perfeito, como nos melhores sonhos das crianças. Porém, um dia ela acorda e se vê em crise existencial. Para tentar entender o que está acontecendo ela busca ajuda de outra boneca e descobre que terá que ir ao mundo real para resolver esse problema diretamente com a criança que brinca com ela.

Narrado em estilo conto de fadas, a diretora não perde a oportunidade de contextualizar, de maneira incisiva, o que Barbie representa no mundo, e a sequência inicial inspirada em 2001: Uma Odisseia no Espaço não deixa dúvidas disso. O espectador se vê em um filme dentro do filme, contrapondo a sua própria realidade (mundo real) com o contraponto de Barbieland. Em outras palavras, fica claro que a solução lá tem resposta cá, e com isso recebemos o convite para entrar na aventura.

Chama muito a atenção a construção do universo de Barbieland. Além de construções e apetrechos cor-de-rosa dos mais variados, desses que veríamos em lojas de brinquedos, há um jeito especial de se locomover e “vivenciar” novas aventuras todos os dias. Nem mesmo a “simulação” das refeições escapa ao olhar atento de Gerwig, como se desse vida à uma grande cidade de bonecas.
A direção de arte, a maquiagem e os figurinos são trabalhos exemplares e impossíveis de serem vistos como meros adereços. Grande parte do sucesso da trama depende dessa ambientação, que é feita de maneira primorosa.
Barbie no mundo real: o espelho do patriarcado

É quando Barbie chega ao mundo real que temos um choque de realidade. Entretanto, o choque em si não é por vermos algo diferente daquilo que vemos no dia a dia, mas sim por nos darmos conta de que normalizamos situações como as de mulheres expostas à violência e ao descrédito apenas e simplesmente pelo fato de não pertencerem ao gênero dominante.
O mundo construído pelo “patriarcado” e para o “patriarcado” é uma representação dos seus anseios e uma autoafirmação de suas inseguranças. Vivemos e convivemos com isso, e pior para as mulheres que nem sempre têm alternativas para lutar contra essas imposições. As coisas são como são ou, pelo menos, foram assim até hoje, não parecendo haver esperanças.

Ao inverter os papeis e os mundos nos quais ambos estão, Barbie nos coloca diante de um espelho, nos forçando a entender que aquilo que muitas vezes é normalizado, na prática, deveria ser no mínimo questionado. O roteiro, escrito em conjunto com Noah Baumbach (Ruído Branco) – marido de Greta Gerwig – é corajoso no sentido de criticar quem o financia. Ainda que desse embate a Mattel, empresa detentora dos direitos das bonecas, saia vencedora de qualquer forma.
Margot Robbie admitiu que o filme “vem com muita bagagem e muitas conexões nostálgicas” para homenagear o legado da boneca. A renomada figurinista na indústria cinematográfica Jacqueline Durran foi a encarregada de reproduzir alguns dos looks mais icônicos da Barbie.

A trilha sonora de “Barbie” conta com músicas de Ava Max, Billie Eilish, Charli XCX, Dominic Fike, Dua Lipa, Fifty Fifty, Gayle, Haim, Ice Spice, Kali, Karol G, Khalid, Lizzo, Nicki Minaj, PinkPantheress, Ryan Gosling, Tame Impala e Kid Laroi.
O excesso de rosa no filme Barbie levou à falta global de tinta desta cor, segundo a designer do filme.
Fotos: Divulgação/Warner Bros e Reprodução