Diálogos Amazônicos: rede que busca soluções para o desenvolvimento sustentável e proteção das pessoas

Diálogos Amazônicos, evento que antecede à Cúpula da Amazônia, teve inicio no dia 4, no Hangar Centro de Convenções, em Belém, com o objetivo de apontar soluções sustentáveis para proteger a maior floresta tropical do mundo e melhorar a vida nas cidades amazônicas.
A cerimônia de abertura teve a apresentação da atriz paraense Dira Paes e a participação de diversos movimentos sociais, populares, quilombolas, indígenas, representantes dos povos dos oito países da região e autoridades, entre as quais se destaca a participação do maior líder indígena do país e referência mundial, o cacique Raoni.

O evento integra a programação da Cúpula da Amazônia e seus resultados serão apresentados por representantes da sociedade civil aos líderes reunidos na Cúpula. As atividades foram divididas entre plenárias (organizadas pelo Governo Federal, com ampla participação social) e atividades auto-organizadas por entidades da sociedade civil, academia, centros de pesquisa e agências governamentais.

A líder indígena paraense Concita Guaxipiguara Sompré, mestra em dinâmicas territoriais e sociedade na Amazônia, presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA) e co-fundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), iniciou sua fala pedindo respeito. ” nós, povos indígenas da Amazônia e de todos os outros biomas, estamos aqui para dizer: basta de violência!”

“Não adianta dizer que o que acontece em nossos territórios não afeta a humanidade, porque o rio corre para o mar e o mar devolve tudo para a terra. Porque é assim: tudo que acontece tem um retorno”, afirmou Concita Sompré.
Concita disse disse que a terra, a Mãe Terra, está pedindo socorro, que o crescimento econômico e o desenvolvimento não pode estar acima da vida, que os povos indígenas tem defendido seus territórios com seus corpos e espíritos e faz um apelo: “Parem de nos matar!”

Segundo especialistas, é preciso que os países amazônicos superem problemas comuns para enfrentar a crise climática.
Erradicação do trabalho escravo foi debatida no primeiro dia do ‘Diálogos Amazônicos‘ com a participação de representantes do Brasil, Colômbia, Equador e Peru, e expositores governamentais do Brasil, da Bolívia e do Suriname. São movimentos sociais de todos os países amazônicos olhando para seus problemas, potencialidades e possibilidades da floresta amazônica.
O titular do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, disse estar “muito feliz participar deste evento. O Ministério se sente bastante responsável por esse momento tão especial, que se juntam temas que envolvem direitos humanos, proteção ambiental e a economia. Eu acredito que esse momento tem que ser visto como algo histórico, onde se abram novas oportunidades para discussão de temas relevantes”, frisou o ministro.
A mesa “Mulheres pelo bem viver, a justiça climática e combate à desigualdade”. O debate contou com a participação das ministras Marina Silva (Meio Ambiente), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Cida Goncalves (Mulheres); e da presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou que o objetivo da Cúpula da Amazônia é estabelecer “um mandato” para que os países da região trabalhem conjuntamente em busca de um modelo de desenvolvimento que propicie a sustentabilidade em todas as suas dimensões.

“É uma expectativa muito grande de, em plena mudança climática, de destruição avançada da nossa floresta, de todas as formas de criminalidade, do garimpo ilegal, a gente possa sair daqui com uma declaração que vai nos trazer esperança”, destacou a ministra. Marina Silva disse esperar que, a partir da cúpula, possa trabalhar em conjunto com os ministros do meio Ambiente dos demais países amazônicos.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, responsável pela organização dos Diálogos Amazônicos, defendeu que “a participação social é o centro da criação de um projeto coletivo” e informou que o evento produzirá relatórios a serem apresentados aos presidentes da Cúpula.

A pauta do racismo ambiental foi levantada por Anielle Franco. O conceito envolve comunidades racializadas e os locais onde elas pessoas vivem — o fato de uma comunidade de maioria negra morar em regiões de encosta, sujeitas a deslizamentos de terra, por exemplo.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse que “As mulheres negras, quilombolas e indígenas sustentam a força desse país”, em referência aos dados do Censo Quilombola, que demonstraram que um terço da população quilombola do Brasil está concentrada no Pará.

A presidente da Funai, Joênia Wapichana, destacou a importância da participação dos indígenas nos debates de preservação ambiental e mudança de clima, mas também sobre o Marco Temporal. “Quando nós falamos de direito coletivo, envolve mulheres, jovens, crianças, idosos. É um ponto de ligação constitucional da Funai que é justamente voltar a lutar pela demarcação das terras indígenas. O governo Lula agora, com seis meses, a Funai já retoma principalmente esse direito central que é a demarcação das terras. É a nossa demanda prioritária”, observou Wapichana.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou, durante o Diálogos Amazônicos, a transferência de tecnologias de monitoramento entre os países amazônicos que compõem a Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia (OTCA).
“A ciência e a tecnologia perpassam praticamente todos os desafios de sustentabilidade da Amazônia, não só o monitoramento, mas o próprio desenvolvimento por meio da biodiversidade e dessa riqueza que é tão diversa na Amazônia. Para transformar os fármacos, os minerais, a diversidade de flora em algum produto ou serviço, tudo isso precisa da ciência e tecnologia, desenvolvimento e pesquisa”, declarou.

Segundo Luciana, o país tem a expertise no monitoramento do bioma amazônico, pelas ferramentas que o Brasil contém, incluindo a “constelação de satélites robusta” que o país possui, “que agora, com o passo que estamos dando para o Cbers-6, que é um desenvolvimento de tecnologia comum que desenvolvemos com a China desde a década de 1980, vamos poder fazer o imageamento através das nuvens na Amazônia”.

Além da transferência de tecnologia, será oferecido capacitação aos cientistas dos demais países pelo Inpe. Nesta segunda-feira, a ministra anunciará, ainda, o programa Mais Ciência na Amazônia, com investimentos no valor de R$ 3,4 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), entre 2024 e 2026.
“Saúde, soberania e segurança alimentar e nutricional” foi o tema da plenária que aconteceu durante a tarde de ontem. Representando o governo no debate estavam os ministros Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social; e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. Lideranças brasileiras e estrangeiras também marcaram presença.

As cinco plenárias principais dos Diálogos Amazônicos formularão relatórios que serão lidos aos líderes dos oito países que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), durante a Cúpula da Amazônia, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chega à capital paraense na próxima terça-feira, 8 de agosto.
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