Claudia Goldin vence o Nobel de Economia por estudo inovador sobre disparidade de gênero no mercado de trabalho

O Prêmio Nobel de Economia de 2023 foi concedido a Claudia Goldin, professora da Universidade de Harvard, por seus trabalhos sobre mulheres no mercado de trabalho. Ela é a terceira mulher a vencer o prêmio desde sua primeira edição, em 1969.
Os estudos da vencedora mostraram que, parte da explicação para que, ainda hoje, ocorra uma grande disparidade salarial e de oportunidades entre homens e mulheres (gender gap, em inglês) é a fase da vida em que mulheres precisam tomar decisões importantes para suas carreiras, ainda muito jovens, quando devem fazer escolhas sobre assuntos como a maternidade, por exemplo.
Goldin mostrou que apesar do crescimento econômico, o ganho das mulheres não se equipararam aos dos homens e a diferença persiste, mesmo que as mulheres tenham alcançado níveis mais altos de educação do que os homens.
“Compreender o papel das mulheres no mercado de trabalho é importante para a sociedade. Graças à pesquisa pioneira de Claudia Goldin, agora sabemos muito mais sobre os fatores subjacentes e quais barreiras podem precisar ser abordadas no futuro”, explicou Jakob Svensson, presidente do Comitê do Prêmio em Ciências Econômicas.
Segundo Randi Hjalmarsson, membro do comitê do prêmio, Claudia Goldin teve de fazer um trabalho de detetive para encontrar os dados necessários para sua pesquisa. As estatísticas sistemáticas do mercado de trabalho não foram registradas em alguns períodos e, quando existiam, faltavam informações sobre as mulheres.
“A laureada deste ano em Ciências Econômicas, Claudia Goldin, forneceu o primeiro relato abrangente dos ganhos e da participação das mulheres no mercado de trabalho ao longo dos séculos”, disse a academia em comunicado. “Sua pesquisa revela as causas da mudança, bem como as principais fontes da disparidade de gênero remanescente”, informou a academia.

Uma das descobertas de Goldin é que os filhos são um dos principais fatores que influenciam a desigualdade salarial entre homens e mulheres em países de rendimento elevado. Isso ocorre porque os empregadores esperam que o trabalhador esteja sempre disponível e também o fato de as mulheres assumirem maior responsabilidade no cuidado dos filhos, impactando seus rendimentos.
“Se as expectativas das mulheres jovens forem formadas pelas experiências das gerações anteriores — por exemplo, das suas mães, que não voltaram a trabalhar até os filhos crescerem — então o desenvolvimento será lento”, afirma a instituição responsável pela premiação, em nota.
“Historicamente, grande parte da disparidade salarial entre homens e mulheres poderia ser explicada por diferenças na educação e nas escolhas profissionais. Contudo, Goldin demonstrou que a maior parte desta diferença de rendimento ocorre agora entre mulheres que exercem a mesma profissão, mas que surgem em grande parte com o nascimento do primeiro filho”, declarou Hans Ellegren, secretário-geral da Academia Real Sueca de Ciências.
O prêmio de Economia, oficialmente chamado de “Prêmio do Banco da Suécia em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel”, foi criado em 1968 e concedido pela primeira vez em 1969. Claudia Goldin vai receber o prêmio de 11 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de US$ 999 mil
Claudia Dale Goldin, tem 77 anos, nasceu em Nova York e é PhD pela Universidade de Chicago. Ela é codiretora do Grupo de Estudos sobre Gêneros na Economia do National Bureau of Economic Research (NBER). É uma historiadora econômica e economista trabalhista americana que atualmente é Professora Henry Lee de Economia na Universidade de Harvard.
Estudo de Goldin

A pesquisa de Claudia Goldin recorreu a mais de 200 anos de dados nos Estados Unidos sobre a participação feminina no mercado de trabalho. Diferente do que a pesquisadora imaginava, essa participação não ocorreu de uma maneira ascendente, mas em uma curva em formato de “U”.
Até o século XVIII, as mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho por conta da própria dinâmica social: elas trabalhavam dentro das propriedades da família em uma sociedade agrária.
No entanto, no início do século XIX, com a transição para uma sociedade industrial — que levou ao trabalho fora de casa —, o percentual de mulheres casadas no mercado teve uma redução drástica.
O cenário mudou novamente no começo do século XX, quando o setor de serviços ganhou força e chamou, mais uma vez, as mulheres ao mercado de trabalho. Também foi nesse período que o nível de educação das mulheres passou a aumentar, ultrapassando, inclusive, os níveis de escolaridade dos homens em países desenvolvidos.
Além disso, Claudia Goldin demonstrou que o acesso à pílula anticoncepcional teve um importante papel para a aceleração dessa participação, já que ofereceu uma maior possibilidade para planejamento de vida e de carreira.
Mesmo com o método contraceptivo oferecendo a oportunidade de planejamento familiar, a maternidade ainda tem o poder de reforçar o gender gap. Isso porque as dinâmicas ainda presentes no mercado de trabalho tendem a dificultar a ascensão profissional das mães.

Parabéns professora doutora Claudia Goldin, pelo Prêmio Nobel de Economia 2023! Sua pesquisa inovadora sobre as mulheres no mercado de trabalho é um verdadeiro marco. Seus estudos revelam a importância das escolhas que as mulheres precisam fazer em suas carreiras, particularmente aquelas relacionadas à maternidade, e como essas escolhas afetam a disparidade salarial e de oportunidades entre homens e mulheres.
Sua dedicação em compreender a evolução da participação feminina ao longo dos séculos e o impacto das mudanças sociais e tecnológicas é inspiradora. Parabéns por receber este prestigioso prêmio. Seus trabalhos têm o poder de gerar mudanças significativas no mercado de trabalho e na sociedade como um todo.
Fotos: Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach e Reprodução