Bolsonaro e Macri discutem futuro do Mercosul e crise na Venezuela
O presidente argentino, Maurício Macri, foi recebido com honras de chefe de Estado ao chegar no Palácio do Planalto para encontro com o presidente Jair Bolsonaro, na quarta-feira. Para a visita oficial Macri veio acompanhado dos ministros das Relações Exteriores, da Produção, da Defesa, da Fazenda, de Segurança Pública, além do de Justiça e Direitos Humanos.
As negociações para acordos bilaterais, além de medidas de flexibilização do Mercosul (bloco que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, uma vez que a Venezuela está suspensa momentaneamente), foram discutidas pelas chancelarias de Brasil e Argentina.

A ideia é flexibilizar as regras do Mercosul que proíbem integrantes do bloco sul-americano de negociar individualmente acordos de livres comércio com outros países. De acordo com integrantes da chancelaria brasileira, a prioridade dos argentinos é em fechar o acordo de livre comércio com o bloco europeu.
Segundo fontes do Itamaraty, a proposta que pode pôr fim à exigência de acordos coletivos de livre comércio com outros países ainda é “genérica” e sem “contornos claros”, informaram integrantes do governo brasileiro. Ainda de acordo com essas fontes, a ideia precisa ser formatada com os outros sócios do bloco.
A crise venezuelana preocupa os presidentes Bolsonaro e Macri. Assim como o Brasil, a Argentina assinou, no âmbito do Grupo de Lima, que reúne 14 países, declaração conjunta em que não reconhece a legitimidade do segundo mandato do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e defende novas eleições.
O mandato de Maduro é considerado “ilegítimo” pelo governo brasileiro. A crise política, econômica e social, tem reflexo no Brasil com o fluxo migratório registrado em Roraima.

Ajustando o discurso de campanha com a nova realidade de presidente da República, Bolsonaro disse que as declarações que deu cobrando um Mercosul mais enxuto vão na linha de avaliar quais estruturas e órgãos são realmente necessários ao funcionamento do bloco.
“Confiamos na modernização do Mercosul, tanto em seu aperfeiçoamento interno quanto na expansão de suas relações com o mundo”, disse Bolsonaro no Ministério das Relações Exteriores. Os presidentes se comprometeram a dar novo ímpeto às negociações entre o bloco que integra o Uruguai e o Paraguai com a União Europeia. O Brasil é o primeiro parceiro comercial da Argentina. E a Argentina é o terceiro no Brasil.
Macri considera que o consenso em relação à Venezuela é o exemplo mais claro da “convergência de posições ideológicas” com a Argentina. Bolsonaro tem sido muito mais contido em limitar-se a apontar que é necessário recuperar o curso da democracia, da liberdade e da segurança na Venezuela.
Ambos os governos participam do grupo regional que promove a restauração da democracia na Venezuela e considera o mandato de Maduro ilegítimo. Apenas o México, que agora quer mediar a Venezuela, se distanciou do chamado Grupo de Lima.
Macri não aceitou nenhuma pergunta dos jornalistas. Segundo fontes da diplomacia argentina, o presidente salientou, “quando se está bem, um ajuda o outro. Precisamos de nós dois para fazermos bem”. E para isso parecem concordar em reforçar o Mercosul.
Os dois mandatários estiveram juntos em dois momentos. Primeiro em uma reunião de trabalho na sede da presidência brasileira acompanhados por dez ministros. Bolsonaro e Macri abordaram questões como a luta contra o crime organizado, a defesa e a energia elétrica. No Palácio foi assinado um termo bilateral de extradição, o único acordo firmado durante a visita.

A reunião foi coordenada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Participaram o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Maurício Valeixo, diretor da Polícia Federal, e Erika Marena, diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional. Do lado argentino, os ministros de Justiça e Direitos Humanos, Germán Garavano, de Segurança Pública, Patrícia Bullrich, e Gaston Schulmeister, diretor de Cooperação Internacional de Segurança.
Depois em um almoço no Itamaraty, a sede do Ministério das Relações Exteriores. Nessa segunda reunião, ao receber Macri, Bolsonaro fez seu característico sinal de arma com a mão. Esperava que o argentino o imitasse, o que não ocorreu. Ao invés disso, ganhou um sorriso e um abraço.


