“Aquarelas do Descobrimento” de Carybé, está em cartaz em Lisboa

Carybé em Lisboa - bernadetealves.com

No dia 9 de março de 1500, a armada comandada por Pedro Álvares Cabral partiu de Lisboa, na expedição que resultou na descoberta do Brasil. Na mesma data, 519 anos depois, um dos mais importantes trabalhos inspirados neste acontecimento faz o caminho inverso. No dia 9 de março de 2019, foi inaugurada no Palácio da Independência, em Lisboa, a exposição “Carybé – Aquarelas do Descobrimento”.

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Artistas brasileiros prestigiam abertura da exposição de Carybé, em Lisboa

A exposição, de um dos artistas plásticos que melhor retratou o Brasil, é inspirada na Carta de Pero Vaz de Caminha. A iniciativa da Embaixada do Brasil em Portugal, tem por objetivo reforçar ainda mais os históricos laços que unem Brasil e Portugal, ressaltando a singularidade da cultura brasileira ao mesmo tempo que revela as afinidades que aproximam os dois povos.

O embaixador do Brasil Luiz Alberto Figueiredo Machado, diz que a exposição de Carybé fortalece a posição da Embaixada como promotora das artes brasileiras no exterior. “A vertente cultural é dos pilares mais importantes do relacionamento entre Brasil e Portugal”.

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Carybé e suas obras

“É a primeira vez que esta exposição sai do Brasil e o destino não poderia ser outro, que não Portugal. Temos a expectativa de que as obras, por sua delicadeza, beleza e sentido histórico, atraiam grande público para a exposição”, completa o embaixador.

A abertura da mostra que traz desenhos do artista sobre o descobrimento do Brasil e tradições religiosas africanas, foi prestigiada pelos artistas brasileiros Lúcia Veríssimo, Luana Piovani, Marcello Antony e Carol Villar.

“Aquarelas do Descobrimento” tem como curadora Solange Bernabó, filha de Carybé. O trabalho procurou privilegiar a sintonia entre os momentos do artista, com a sua técnica privilegiada, e o marco da história do Brasil revelado em traços leves, coloridos e minuciosos.

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Obra “Puxada de Rede”, de Carybé

“Carybé foi um exímio desenhista e aquarelista, arte aparentemente simples, mas que exige maestria técnica e não permite correções. Partindo do relato escrito por Caminha, usou sua imaginação e conhecimento, para transformá-lo em imagens, dando-nos a sensação de termos testemunhado os acontecimentos que há mais de cinco séculos deram origem ao Brasil”, afirma Solange Bernabó.

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Obra “Iyami Oxorangá”, de Carybé

Carybé nasceu como Hector Julio Páride Bernabó, em Lanús, na Argentina, em 1911. Passou a infância e a adolescência no Rio de Janeiro. Foi aos 8 anos, como escuteiro no Clube de Regatas Flamengo e membro da Patrulha dos Peixes, que surgiu a alcunha. A inspiração veio da feroz piranha Pygocentrus Cariba, das margens dos rios Orinoco e Amazonas.

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Obra “Canoeiros”, de Carybé

Do Rio de Janeiro, Carybé viajou o mundo até mudar-se definitivamente para o Brasil em 1949.  Naturalizou-se brasileiro oito anos depois e viveu em Salvador até a sua morte, em 1997. A relação do artista com o país que escolheu para viver, sempre esteve declarada na sua obra. Tanto nas diversas exposições internacionais que realizou, quanto em trabalhos que levavam a sua arte para o quotidiano das pessoas.

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É dele o mapa do Brasil personalizado que decorava os aviões Electra II, da Varig, nos anos 60, e os murais em fachadas de prédios comerciais de vários estados brasileiros. No exterior destaque para: painéis que retratam a diversidade cultural do continente americano e a conquista do oeste estadunidense pelos colonos peregrinos e que adornam o Aeroporto Internacional de Miami, nos Estados Unidos; o quadro “São Sebastião”, no acervo dos Museus do Vaticano; uma pintura no Castelo de Balmoral, residência de férias da Rainha Elizabeth II, em Escócia.

Carybé também ilustrou livros de autores importantes como Gabriel García Márquez, Pierre Verger e do seu grande amigo Jorge Amado.

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As obras que integram a exposição do artista plástico que, ao longo da sua brilhante carreira, retratou o Brasil como nenhum outro é uma versão em aquarela sobre o registro mais antigo da existência do país: a Carta de Pero Vaz de Caminha. Originalmente, os desenhos foram feitos em tinta nanquim e publicados em preto e branco no livro “Carta a El Rey Dom Manuel”, uma releitura do documento histórico idealizada pelo escritor Rubem Braga.

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Em cores vivas e traços leves, Carybé dá vida a momentos mais marcantes da narrativa portuguesa sobre o Brasil: a navegação da esquadra; o avistar das terras; o primeiro contato entre portugueses e índios; a troca de culturas; a primeira missa; o pau-brasil. Cenas dos primeiros encontros que, mais tarde, com a contribuição igualmente fundamental dos africanos, dariam origem ao povo brasileiro. As 52 obras possuem formato 50x40cm, emolduradas com vidro e passe-partout.

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Palácio da Independência em Lisboa

Com economia em alta e bons serviços públicos, Portugal vem atraindo brasileiros da classe média nos últimos anos. Aproveitando o movimento, o país recebe neste primeiro semestre uma amostra da cultura brasileira, com exposição e shows.  A exposição “Carybé – Aquarelas do Descobrimento” fica em cartaz até o dia 4 de maio, no Palácio da Independência, Morada: Largo de São Domingos, 11, Rossio (Ao pé do Teatro Nacional Dona Maria II).