Brasília vira lenda indígena no enredo da Vila Isabel para o Carnaval 2020

A Escola de Samba Unidos de Vila Isabel promoveu no sábado dia 13, um evento de apresentação do enredo para o carnaval 2020, com a presença dos governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC ) e do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB) e também do secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Adão Cândido.

Durante a festa, a nova rainha de bateria, Aline Riscado, também foi coroada. O presidente da escola, Fernando Fernandes, sugeriu que as mulheres dos governadores do DF e do RJ, Mayara Noronha e Helena Witzel respectivamente, participem do desfile.

O enredo recebeu o título “Gigante pela própria natureza – Jaçanã e um índio chamado Brasil”. Na lenda indígena criada pela Unidos de Vila Isabel, o Brasil assume as feições de um pequeno curumim que “pesca com vontade danada de gente grande” que ao adentrar nas matas sua canoa se transforma na ave jaçanã no mundo dos sonhos. Então, ele escuta a ave dizer:
“Pequeno menino, quero lhe contar sobre a sua irmã tão mais nova que é quase filha! Será forte e esperançosa, um ponto de luz no universo que nascerá em abril. Sabe-se que ela terá muito a dar aos homens e mulheres de boa vontade na terra e que será grande, gigante, reta, moderna, só podendo ser entendida se soubermos sobre sua pátria-família, a verdadeira mãe e geradora da sua irmã nessa cantiga.”
Em cima da ave, o curumim sobrevoa as regiões do território vasto e diverso que ele habita. Nos cinco cantos, o povo clama por “amor e união em uma nova casa pronta”. “O que os cabeças-amarelas, os pretos, os filhos do mar, das Minas e os futuros Candangos recitavam e apontavam será aqui: sua irmã, o lugar de fé que unirá aquela gente, aquele povo todo, para o mundo jorrando leite e mel com gosto…
A terra mística no alto desse Planalto que se levantará tentando nos dar ‘sessenta’ anos em cinco de avanço sem percalço com tanta gente junta que se esparramarão para além das Asas da casa, deitando-se até em seu entorno com as cores das suas culturas servindo de reboco! Vem, menino Brasil, anime-se! Sua irmã Brasília será ave que voa e rodopia”, diz a jaçanã.
Ao final do sonho, a ave se funde à terra, libera uma luz forte e volta a ser canoa. O menino acorda de supetão e volta correndo para a aldeia para contar à mãe as visões que acabara de ter, mas ela também lhe revela uma notícia:

“Filho meu, Brasil pequenino… Descobri hoje com o xamã que você terá uma irmã! Em sua homenagem se chamará Brasília! Uma menina-Brasília que será gigante pela própria natureza!” Lucio Costa e Oscar Niemeyer são mencionados como “dois pajés”, que vão “modelar” a capital federal.

A sinopse onde Brasília vira lenda indígena e serve de alimento criativo para a composição do samba, tem quase cinco páginas e foi elaborada pelo sambista e compositor Edson Pereira em parceria com os antropólogos Clark Mangabeira e Victor Marques.
A temática valoriza a miscigenação e a junção de povos de diversas regiões em Brasília, ao colocar que a alma da cidade são os brasileiros que aqui fizeram suas vidas num caldeirão de brasilidade.

Brasília é retratada como uma possibilidade de união e igualdade entre os povos, uma casa nova aos brasileiros. Na lenda apresentada, Brasília será modelada por dois pajés (Lucio Costa e Oscar Niemeyer), realizada pelo Cacique (JK), e feita pelos Candangos. São citados, ainda, os traços retos e modernos da capital, o sonho de Dom Bosco, o Lago Paranoá e as cidades-satélites. Os candangos ganham papel de destaque.
“Estou muito feliz de estar aqui neste momento, representando a capital do Brasil. Vamos levar a história da nossa cidade para a avenida e mostrar ao mundo quem somos”, afirmou o governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha, durante a festa na quadra da Vila Isabel, nesta noite.
Para assinar o samba desta linda história, a Unidos da Vila Isabel, pretende convidar Martinho da Vila para assinar o samba. Ele é presidente de honra da Vila Isabel e foi destaque no carro abre-alas do carnaval de 2018, no dia em que completou 80 anos.
O compositor Edson Pereira lembrou que o carnaval tem compromisso com a cultura, com o conhecimento que precisa ser externado. “Hoje, o brasileiro enxerga Brasília como a capital da política e da corrupção. O momento que estamos vivendo contribui para isso”, disse Pereira.
A Vila Isabel foi fundada em 4 de abril de 1946 por Seu China. A Quadra da escola tem 4 mil m² com capacidade para 7 mil pessoas e é presidida por Fernando Fernandes. Recebeu, em 2007, titulação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por fazer parte da base que decretou o título de Patrimônio Cultural do Brasil às Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo. Vila Isabel foi campeã do grupo especial em 1988, 2006 e 2013.
Além da homenagem na Sapucaí, segundo o GDF, a escola carioca “vai contribuir com organização do carnaval tradicional de Brasília com a transmissão de conhecimento e tecnologia para a realização dos desfiles em diversas áreas como confecção de alegorias e fantasias, samba enredo e estrutura interna”.