Gaultier se despede das passarelas com show irreverente e disruptivo
O estilista francês Jean Paul Gaultier orquestrou uma despedida das passarelas para ficar na história. Aos 67 anos e 50 de moda, ele fez um verdadeiro show para se despedir das passarelas durante a Semana de Moda de Alta-Costura de Paris, dia 22/01.
No elegante teatro musical de Châtelet, com orquestra e cantores ao vivo, apresentou mais de 200 looks em um ambiente de euforia, descontração e com a presença de estilistas, celebridades e modelos de todas as idades. O mundo da moda estava lá para aplaudi-lo.
Dentre as celebridades, estava o decano Pierre Cardin, com quem Gaultier trabalhou, Carla Bruni, o cantor Boy George, que também desfilou, Nicolas Ghesquière, que trabalhou com Jean Paul, Tanel Bedrossiantz, seu eterno modelo que também desfilou, Christian Louboutin, autor de parte dos sapatos da passarela, Ines De La Fressange, Christian Lacroix, Isabel Marant, e as musas como Farida Khelfa, Rossy di Palma e Dita von Teese, que estava linda na passarela.
O desfile começou com a representação de um funeral, com modelos em looks pretos totalmente estáticas. Com Boy George cantando Back to Black de Amy Winehouse,um caixão entrou no cenário com dois seios cônicos presos na tampa. Uma coroa de flores dizia “Moda para sempre”.
Gaultier é um dos estilistas mais importantes de todos os tempos que desafiou a tradição da beleza tradicional incluindo todas as orientações sexuais em seus desfiles, muito antes dos demais. Também foi precursor na fusão de gêneros na passarela.
Nos anos 1980, revolucionou a moda com suas criações geniais, como o corpete cônico usado por Madonna, a saia masculina e a camiseta listrada de marinheiro, uma reinterpretação em homenagem à sua avó, que o “vestia de azul”.
Gaultier fez um upcycling de seu acervo, num grande revival em mais de uma hora de desfile.que se dividiu em diversos quadros, com referência a longa carreira.
Não faltaram os espartilhos, as riscas, os atilhos, as fivelas, nem as peças pregadas por cima de outras, numa referência ao desfile de alta costura primavera-verão 2003. Gaultier também aproveitou gravatas de seda em produções.
Rossy de Palma, Mylene Farmer e as irmãs Bella e Gigi Hadid desembarcarem na passarela usando as últimas criações com base de jeans, cintos de couro, seda e tule.
A estampa tartan, símbolos religiosos, plumas, estilo burlesco e também punk deram tom eufórico e diverso para a coleção.
O estilista francês já não desfilava mais na semana de moda do prêt-à-porter de Paris desde 2014, quando demonstrou sua consciência ambiental e se mostrou bastante crítico ao desperdício provocado pela indústria da Moda.
“Eu tenho andado a pensar que há demasiada roupa. Então, que tal reciclá-la. Em fez de a queimar, ou qualquer coisa desse gênero, podemos transformá-la noutra coisa. Isto faz parte da minha educação, por causa dos mercados de segunda mão e coisas assim. Então, para mim, isto foi uma aventura e eu estava mesmo entusiasmado para ver o que conseguiríamos fazer. Existem talvez 50 looks que são completamente novos. O resto é uma mistura de ready to wear, coisas que comprei na China”, explicou Jean Paul Gaultier ao WWD.
Gaultier sempre foi irreverente e disruptivo. Foi o autor da inclusão e da representatividade na moda, com desfiles ousados e marcantes. Jean Paul disse que seu último desfile foi como o primeiro: cheio de surpresas e confusão. “A vida é assim mesmo, cheia de imprevistos. A gente precisa ser um camaleão!”.
Jean Paul Gaultier se despede das passarelas mas, com certeza, continuará construindo aparências.
Fotos: Getty Imagens
