Fêmeas que ditam regras sobre liderança

A maioria das sociedades humanas é patrilinear, ou seja, se fundamenta na descendência paterna e por isso o machismo tomou conta. Nosso legado biológico é apenas um dos aspectos que explicam por que as mulheres são sub-representadas em papeis de liderança. O outro fator,conforme estudos realizados , é cultural.

Num mundo machista como o nosso, onde não há igualdade de oportunidades, nós mulheres temos que buscar inspiração no mundo animal, nas fêmeas que nasceram para liderar e ditam regras sobre comportamento  entre os grupos familiares.Elas guiam e formam estruturas hierárquicas matriarcais bem complexas.

As elefantas e as orcas, por exemplo, são as mais significativas nessa missão. Depois vem as hienas-malhadas, leões fêmeas, bonobos (primatas mais próximos dos humanos) e as lêmures. Elas fazem parte de um seleto grupo em que as fêmeas ditam as regras no mundo animal.

Esta conclusão é de uma pesquisa sobre reino animal feita por Jennifer Smith, professora de comportamento animal do Mills College, em Oakland, nos EUA. Junto com três colegas, os pesquisadores identificaram estas seis espécies de mamíferos que apresentam liderança feminina.

Para chegar a esta conclusão, a equipe pesquisou primeiro espécies sociais – aquelas com interação forte entre os membros – em que se verificava qualquer característica de liderança.

As líderes bonobos, embora menores que os machos, intervêm com frequência como pacificadoras. Elas se unem para vencer machos agressivos e não gostam de violência. Com as fêmeas no comando, a sociedade dos bonobos é muito mais tranquila.

As hienas fêmeas são maiores que os machos e determinam a direção em que o grupo deve seguir. Elas caçam em grupos e ditam as regras. Normalmente, as fêmeas famintas que estão amamentando comandam.Elas não lideram apenas combates, também apaziguam conflitos dentro dos clãs.

Nas famílias de elefantes e orcas, as fêmeas mais velhas assumem a liderança. As sábias “avós” orcas ajudam o restante da família a prosperar por saber onde se encontram os salmões, por exemplo.

Vicki Fishlock, cientista da instituição Amboseli Trust for Elephants, no Quênia,diz que os elefantes são exemplos de hierarquia, costumam seguir as orientações da matriarca mais velha  da manada. A líder fica responsável por orientar algo entre 8 e 100 elefantes, dependendo do espaço geográfico em que se encontrar e no tamanho da sua família.

Cynthia Moss, diretora e fundadora do Amboseli Trust for Elephants, que estuda os elefantes desde os anos 1970 afirma que “As elefantas nasceram para liderar. Não há qualquer disputa com os machos por liderança. Eles vivem separados e não atuam como líderes entre os grupos familiares de elefantes”.

“Acho que há muito a se aprender com essas sociedades não-humanas”, diz a cientista Jennifer Smith responsável pelo estudo sobre liderança animal.

Mark van Vugt, coautor do estudo e professor de psicologia evolutiva da Universidade de Amsterdã, na Holanda, diz que é importante não confundir liderança com dominação. “Liderança é algo que acontece porque existe um problema que precisa ser resolvido por algum tipo de ação coordenada”.

Ele diz que exemplos de solução de problemas podem ser encontrados na procura por alimentos, defesa contra predadores ou resolução de conflitos. A dominação, por outro lado, tem mais a ver com a competição entre indivíduos. Segundo a definição do cientista, líderes bem-sucedidos têm seguidores espontâneos – ou seja, não precisam convencer as pessoas a se juntarem a eles.

Cerca de 99% do DNA humano é igual ao dos chimpanzés e bonobos, primatas mais próximos do homem. Mas enquanto os chimpanzés tendem a ser liderados por machos, os bonobos contam com lideranças femininas.

Segundo Jena Hickey, da Universidade Cornell, esses pacatos bichos costumam viver em grupos liderados por fêmeas e estão habituados a resolver seus conflitos internos por meio do sexo.

São as fêmeas que elaboram os planos de viagem, explica Takeshi Furuichi, da Universidade de Kyoto, no Japão, que estuda bonobos na República Democrática do Congo. São elas também que se alimentam primeiro, porque organizam o jantar.

O leão é o rei que reina mas não governa na selva. Quem manda e lidera são as leoas. De acordo com a Africat Foundation, esses grandes felinos vivem em sociedades matriarcais com cuidado comunal, com cada grupo contando em média com 13 fêmeas – que geralmente são descendentes das que ocupavam a mesma posição por várias gerações.

Além de orientar seus “súditos” as leoas também coordenam as caçadas do grupo. Como elas não se relacionam com os machos residentes, os pretendentes de fora precisam derrotar os locais para que possam ter uma chance de se reproduzirem.

Há muitas lições do reino animal para seguirmos no nosso cotidiano. A liderança feminina, conforme sugere o mundo animal, tem mais chance de surgir quando as mulheres formam grupos de cooperação.

Os seres humanos se esforçam para acabar com a desigualdade de gênero e colocar mais mulheres em cargos de chefia, será que é possível aprender algo com essas “exceções” do reino animal?

Embora se relacionar com os colegas de maneira semelhante às hienas e bonobos seja algo muito pouco provável para os humanos, costurar alianças à maneira dessas espécies pode ser absolutamente vital.

Uma lição que pode ser tirada da análise da liderança feminina entre os mamíferos é a importância crucial das coalizões: de quem você é amigo nos círculos sociais e o conhecimento adquirido com a idade e a experiência.

“Os humanos são hábeis em promover inovações culturais que um podem mudar nosso próprio ambiente”, concluiu a equipe de Smith. Segundo os cientistas  poderíamos moldar um futuro com mais oportunidades de liderança para as mulheres.

Isso até vem mudando nos últimos anos, com um crescente número de líderes femininas sendo escolhidas, mas ainda estamos longe de uma situação em que ambos os sexos realmente tenham poderes iguais. A política é um exemplo disso.