Moro se demite e dá senha para reviravolta política

O ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, reuniu a imprensa nesta sexta-feira, 24 de abril, para anunciar que se demite do governo Bolsonaro devido a quebra da promessa de “carta branca” para escolher e nomear seus auxiliares, feita pelo presidente Jair Bolsonaro e interferência política na Polícia Federal. Com isso, ruiu um dos principais pilares da eleição de Bolsonaro em 2018: o discurso de combate intransigente à corrupção.
“Faça a coisa certa sempre”, diz Moro.”Essa é a máxima adotada no Ministério da Justiça e Segurança Pública e não importa as circunstâncias, arquem com as consequências e isso faz parte”.
Ao deixar o governo que ajudou a eleger em 2018, Sérgio Moro declarou: “Tenho que preservar minha biografia, mas acima de tudo tenho que preservar o compromisso com o presidente de que seríamos firmes no combate à corrupção, a autonomia da PF contra interferências políticas”.
O ex-juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, que deixou a função em novembro de 2018, depois de 22 anos de magistratura para assumir como ministro da Justiça e Segurança Pública, declarou que o mandatário do país trocou o comando da PF para ter acesso a investigações e relatórios da entidade, o que é proibido pela legislação.

O agora ex-ministro da Justiça e Segunça Pública, era um dos pilares de sustentação do governo desde a campanha eleitoral de 2018, emprestou a sua credibilidade de líder da Lava Jato ao discurso de Bolsonaro de que pretendia acabar com a corrupção no país. Moro não só saiu como escancarou a fragilidade desse discurso.
Sergio Moro sai do Ministério da Justiça dizendo coisas muito graves sobre o presidente. “Ontem, conversei com o presidente e houve essa insistência [sobre a troca no comando da PF]. Falei que seria uma interferência política e ele disse que seria mesmo”.

“O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”.
“Imaginem se durante a própria Lava Jato, ministro, diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, o ex-presidente, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento?”
“Foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante esses trabalhos de investigação. É certo que o governo na época [do PT] tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção.”
Moro assegurou que a demissão de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal não teve sua assinatura de fato no Diário Oficial da União. A assinatura digital de Moro não aconteceu, de acordo com o próprio. Ele ficou sabendo após a publicação.
“Eu não assinei esse decreto e em nenhum momento o diretor da PF apresentou um pedido oficial de exoneração”. Segundo Moro, foi Bolsonaro quem demitiu Valeixo. O mesmo já havia acontecido com o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, que foi demitido, mas Bolsonaro anunciou como uma exoneração de comum acordo.”

O segundo fato grave relatado por Moro é que a queda de Valeixo tem como causa o desejo de Bolsonaro estabelecer uma linha direta com o comandante da Polícia Federal e alguns de seus superintendentes estaduais. Nas palavras do ex-ministro, “Bolsonaro disse que queria ter uma pessoa de contato pessoal na Polícia Federal, com quem pudesse colher informações e relatórios de inteligência. Não é o papel da PF prestar esse tipo de informação. As investigações têm que ser preservadas”.

No pronunciamento feito à imprensa nesta sexta-feira, em Brasília, Moro afirmou que sai do ministério para preservar a própria biografia e para não contradizer o compromisso que assumiu com Bolsonaro: de que o governo seria firme no combate à corrupção.
