Brasília é um paraíso climático para a uva e o vinho

O Distrito Federal tem intensa luminosidade, amplitude térmica entre o dia e a noite, onde a temperatura varia entre 7ºC, de madrugada, a 28ºC ou 35ºC nas horas mais quentes do dia, período chuvoso entre outubro a abril, e altitude de mil metros, características que contribuem para a plantação de videiras na região, segundo engenheiros agrônomos e enólogos.
As condições climáticas favorecem vitivinicultores do Planalto Central instalados às margens da BR-251, Brasília-Unaí, e os brasilienses já saboreiam deliciosas uvas. Mesmo local onde também há plantação de girassóis, que tanto tem atraído visitantes nesta época de floração.

O primeiro vinho brasiliense já está pronto. É um sirah e chama-se Seu Claudino, homenagem que o produtor Ronaldo Triacca presta ao pai, um dos agricultores pioneiros que vieram do Sul do país para cultivar terras do cerrado no Projeto de Assentamento Dirigido do Distrito Federal, o PAD-DF.
O vinho foi lançado na Villa Triacca Eco Pousada e Vinho, de propriedade de Ronaldo Triacca, que também é presidente da AgroBrasília, uma das principais feiras de exposição do Centro-Oeste. O empreendedor e a esposa Ana Cenci, com desenvoltura e arrojo na condução da Villa Triacca, querem colocar o Distrito Federal e Goiás na rota do vinho do Brasil.

O vinho tinto seco Seu Claudino foi elaborado com uvas de um único vinhedo da variedade sirah. Tem aroma frutado e teor alcoólico de 14%. Embora jovem já é bem encorpado. A vinificação ficou a cargo da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais com acompanhamento da enóloga Isabela Peregrino, mineira de Lavras,que teve formação em controle de qualidade em uma vinícola da Califórnia (EUA), e formação na escola de Bento Gonçalves.
Isabela elogia a qualidade e o tom violáceo do sirah, não comum numa planta jovem, que costuma apresentar cor suave. “O vinho tem grande potencial e vai bater de frente com o que está sendo feito por aí”.
Para o primeiro “filho” Ronaldo e Ana não mediram esforços. As garrafas do “Seu Claudino”, safra 2019, foram fabricadas no Chile, em vidro grosso pesado, na cor marrom esverdeada, que os franceses denominam vert antique. O rótulo verde-escuro, com riscos dourados, traz a caricatura do gaúcho Seu Claudino, neto de italianos, ainda jovem, de chapéu de palha. No reverso da garrafa uma referência ao sonho de Dom Bosco, profetizando leite e mel no Planalto Central.
A Villa Triacca fica a 50km de Brasília, BR-25, km 6, direção Brasília-Unaí. A fazenda plantava soja, maçãs e peras, e na sequencia as vinhas. O local tem trilhas ecológicas para caminhadas e bicicleta, piscina com aquecimento solar, um lago para esportes aquáticos, duas nascentes de água mineral que abastecem todo o complexo turístico e agrícola. As acomodações possuem vista para o lago, varanda com rede e todo o conforto para um agradável final de semana. Um local para viajar pela gastronomia de norte à sul e saborear o primeiro vinho produzido em Brasília.Uma ótima opção de passeio pós pandemia. Telefones: (61) 4103-2792 e (61) 98463-1939.
Quem tomou o vinho Seu Claudinho da Villa Triacca é só elogios. O enólogo gaúcho Marcos Vian, que fez curso de especialização na Espanha e na França, e é contratado por diversas vinícolas fora do Rio Grande do Sul para elaborar vinhos, ficou impressionado com o desempenho da viticultura da região.

Marcos Vian destacou que “com recursos limitados o vinho já atingiu aromas maduros e frescor, imagina quando houver uma estrutura de vinificação maior e recursos tecnológicos locais, vamos ter excelentes notícias, porque há uma grande expectativa não só em torno do sirah, mas também de malbec, cabernet sauvignon, tempranillo e até primitivo, uvas mais quentes que estão sendo plantadas no Planalto Central”.
Marcos Vian foi escolhido para fazer o próximo sirah brasiliense da safra 2020, que será colhida em agosto. Ele explica que a uva sirah é originária da cidade de Shiraz, na Pérsia, importante centro comercial da antiguidade. A uva se deu muito bem na França e na Austrália e, mais recentemente, é usada na Argentina, Estados Unidos, Chile, Portugal e Brasil.
Além de Triacca outros dez agricultores também investem na plantação de uva no PAD-DF e formam uma “família com importante aptidão agrícola”. Para alavancar o negócio e reduzir custos decidiram unir esforços para criar uma vinícola, com previsão de inauguração em maio de 2021 e com espaço para eventos.

A Vinícola Brasília é uma sociedade colaborativa, formada por: Miro Vinhos e Vinhedos Ltda; a Ercoara – Cordeiro e Vinho; a Hartos – Vitivinicultura; a Vinícola Marchese; a Oma Sena Vinhos e Vinhedos; a Horus Vinhos e Vinhedos do Planalto; a Casa Vitor; a Toscana do Cerrado; a Vista Da Mata; e a Villa Triacca Eco Pousada e Vinhos.
Os produtores formam o Grupo Viniplan, que vai tocar a vinícola, enquanto sonham em lançar como atração turística a primeira rota do vinho do Planalto, passando por suas propriedades. “Nós decidimos unir forças e reduzir custos para levar ao cliente do Distrito Federal um rótulo de qualidade. Antes de virarmos sócios já éramos amigos e amantes do vinho”,.explica o produtor e vitivinicultor Ronaldo Triacca.

Os viticultores da região que se uniram para produzir, cada qual com rótulos independentes, planejam ter um blend com cortes de todas as castas produzidas que identificará o conjunto.

Em toda a Vinícola, a principal casta é a Sirah, que se deu muito bem nas condições climáticas do Cerrado. “Outras castas fazem parte do nosso projeto, como: Cabernet Franc, Marselan, Malbec, Sauvignon Blanc, Viognier, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Vermentino e Petit Verdot”, diz Ronaldo
Triacca explicou que em todos os vinhedos serão utilizados a técnica de dupla poda. “Esse é um sistema de produção que inverte o ciclo da videira. Dessa forma, a colheita ocorre nas épocas secas, proporcionando maior sanidade às plantas e colheitas em ótimos estágios de maturação, o que favorece uma maior concentração dos compostos fenólicos”.

A dupla poda a que o Triacca se refere, foi desenvolvida pelo engenheiro agrônomo Murillo Albuquerque Regina, Ph.D em viticultura e enologia pela Universidade Bordeaux, na França. “Com o ciclo da videira invertido, conseguimos as condições ideias de clima para a produção de uvas maduras e sadias com dias ensolarados e secos, seguidos de noites frias”, explicou Murillo em artigo publicado na Revista Adega.
Pelo profissionalismo e dedicação dos produtores do Planalto Central vamos poder degustar vinhos únicos, deliciosos e de qualidade.