UnB projeta satélite para democratizar informação

Cientistas da Universidade de Brasília desenvolvem equipamento para levar a internet e suas facilidades a áreas distantes dos grandes centros urbanos até o final de 2020.
A tecnologia CubeSat 1U terá um formato de cubo, com uma aresta de 10 centímetros, pesará em torno de 1,5 quilo e contará com diversos dispositivos eletrônicos, como computador de bordo, sistema de rádio para comunicação com a base (UnB), baterias e um painel solar para geração de energia.
O cientista Renato Borges, coordenador do Laboratório de Simulação e Controle de Sistemas Aeroespaciais da UnB, membro sênior do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) é o responsável pelo importante projeto Alfa Crux, que conta com a parceria da Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF).

“Nosso objetivo é aumentar a conectividade em escala global, disponibilizando enlace de comunicação tanto para o setor civil quanto para a área de defesa do país. Isso é a base para viabilizar a ‘internet das coisas’, que possibilita ao usuário estar conectado por meio de dispositivos como celular e relógio”, explica o chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB e coordenador do Alfa Crux, Renato Borges.
O projeto do nanossatélite CubeSat 1U, que surgiu em setembro de 2019 antes da pandemia do novo coronavírus, busca prover conexão de comunicação em áreas de interesse estratégico do país, bem como em regiões remotas, onde não se tem infraestrutura ou interesse econômico em ofertar o serviço.
A tecnologia tem agora um valor maior, pois ajudará no combate à disseminação do coronavírus e de outras enfermidades em regiões mais afastadas.“Cenários como o atual exigem que os dados sejam compartilhados o mais rápido possível. Os centros urbanos têm a vantagem de contar com esses recursos. Acreditamos que o nanossatélite pode contribuir para que o mesmo ocorra em locais isolados”, diz Renato Borges, professor de Engenharia Elétrica da UnB.

O cientista acredita que a telecomunicação possibilitará colocar em prática medidas que poupem o tempo no atendimento de pacientes, oferecendo recursos como a telemedicina a povos indígenas. “Essas comunidades são mais vulneráveis à covid-19 porque, na maioria dos casos, não têm estrutura de saúde e demandam logística especial para o transporte de pacientes até hospitais nos grandes centros urbanos”, diz o professor Borges.
Borges explica que o projeto está na fase de busca por peças para compor o nanossatélite, além da montagem da estação solo, que permitirá também o acesso a tecnologias semelhantes. “Temos trabalhado em pontos essenciais, como a análise do clima da região, o que ponde influenciar no uso da tecnologia. Também estamos avançando na parte do solo, o que é muito importante, pois receberemos dados de outros satélites, de outros grupos. Acreditamos que no primeiro semestre de 2021 a tecnologia estará finalizada.”

Os nanossatélites são apontados como uma das vertentes mais promissoras na área tecnológica durante as próximas décadas. Eles fazem parte da lista de tendências futuras de tecnologia da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicada em 2016. Também são apostas os nanomateriais, a inteligência artificial, a Internet das Coisas, tecnologias avançadas para uso de energias renováveis e sustentáveis e a análise de dados massiva e inteligente (big data).
“Muitos países trabalham no desenvolvimento desses aparelhos, que são mais baratos e se diferenciam dos satélites tradicionais por terem uma massa menor. Eles pesam apenas alguns quilos, enquanto os usados em grandes missões pesam toneladas. Isso é ideal para realizar a tarefa que queremos”, diz o cientista Renato Borges.

O professor da UnB explica que o tamanho é reduzido para que o nanossatélite consiga se estabelecer em órbitas mais baixas, o que permite uma comunicação mais potente com a Terra. “O objetivo é que a altitude dessa órbita em que ele se estabelece seja em torno de 500 quilômetros. Isso faz com que o atraso de comunicação seja menor com a sua base”, detalha o pesquisador. CubeSat 1U contará com diversos dispositivos eletrônicos, como computador de bordo, sistema de rádio para comunicação com a base, baterias e um painel solar para geração de energia.
Pelo sistema desenvolvido, o nanossatélite proverá sinais para comunicação de voz e de dados para a estação localizada na UnB por meio de conexão em banda estreita. “Esse é um termo que define uma conexão menos veloz. O volume de dados transmitidos é reduzido, mas isso é o que permite chegar a regiões em que é difícil oferecer sinal de banda larga”, explica Borges.
Os dados do nanossatélite serão enviados diretamente para a estação base, onde serão processados pelos cientistas, que também poderão monitorar o dispositivo. “Na estação terrestre, vamos receber esses dados e enviar comandos remotamente. Lá, também saberemos da qualidade do nanossatélite, que chamamos da saúde do aparelho. Precisaremos avaliar se ele está com bateria, seu controle térmico e se os painéis solares geram energia suficiente para o seu funcionamento”, diz o cientista Borges.

Segundo o pesquisador, a solução permitirá que grupos mais isolados, que vivem em regiões afastadas, melhorem a sua comunicação e possam usufruir das facilidades das interconexões tecnológicas. “O nanossatélite pode facilitar também a implementação, em regiões remotas, da Internet das Coisas, que permite a interconexão de dispositivos como celulares, aparelhos de televisão e computadores”, diz. “Muitas áreas rurais sofrem com a cobertura da internet devido às características geográficas. Em uma região de mata densa, algo que é uma característica do território amazônico, as torres de celulares não funcionam da forma esperada. Para resolver esse problema, nada melhor do que usar dispositivos aéreos, como os nanossatélites”, completa o cientista e professor da UnB.
O projeto fomentado pela FAP-DF, consagra a participação do Governo do Distrito Federal como financiador desta missão espacial, importante para o país, desenvolvida por professor internacionalmente reconhecido e apoiado pela reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão.
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