Antonieta de Barros: pioneira que rompeu barreiras,combateu injustiças e valorizou o professor

Antonieta de Barros é uma das catarinenses mais importantes de todos os tempos. Nasceu em Desterro, como era chamada Florianópolis, no dia 11 de julho de 1901. No registro de batismo, na Cúria Metropolitana, realizado pelo Padre Francisco Topp, não aparece o nome do pai. A mãe era Catarina Waltrich, escrava liberta que trabalhava como lavadeira.
Antonieta teve uma infância muito pobre e difícil. Alfabetizada pelos estudantes que moravam em sua casa, uma pensão montada por sua mãe Catarina para sustentar a família, mergulhou por conta própria no universo dos livros. Professora formada aos 17 anos, fundou o curso particular “Antonieta de Barros”, com o objetivo de combater o analfabetismo de adultos carentes.
Acreditava que a educação era a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão. Sua fama de excelente profissional da educação fez com que lecionasse também para a elite nos Colégio Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense. Após lecionar em várias escolas, Antonieta criou seu próprio colégio.


Antonieta foi fundadora e diretora do jornal “A Semana” entre 1922 e 1927 e se destacou pela coragem de expressar suas ideias em um tempo em que não se permitia às mulheres a livre expressão.
Sua defesa acirrada pela educação fez com que ocupasse as páginas dos jornais. Além de professora, virou cronista. As calúnias eram rebatidas com intelecto e destreza nos artigos assinados sob pseudônimo Maria da Ilha. Sua caneta era afrontosa. Escrevia sobre educação, os desmandos políticos e a condição feminina. Dizia que as mulheres não deveriam ser “virgens de ideias”.
Sua contribuição como pessoa, cronista e professora foi de grande valor para a educação e a política. Não havia outra mulher em posição semelhante no Estado de Santa Catarina. Em 23 anos de contribuição à imprensa escreveu mais de mil artigos em oito veículos e criou a revista Vida Ilhoa.
Honesta, enérgica e humana, era respeitada e admirada por seu espírito de justiça. Tinha voz numa época que as mulheres eram silenciadas.
Foi a primeira negra a ser eleita deputada estadual no país em 1934 pelo Partido Liberal Catarinense, ajudou a elaborar a Constituição do estado em 1935, tendo escrito os capítulos “Educação e Cultura” e “Funcionalismo”. Trabalhou na Assembleia Legislativa de Santa Catarina até 1937, até ser destituída do cargo pelo golpe de Getúlio Vargas.

Se existissem barreiras, lá estaria Antonieta para rompê-las. A mulher forte e de fibra ouvia de seus opositores nos jornais e nas bancadas, que “mulheres não deveriam opinar, pois nasceram para servir”, “que a natureza não dá saltos, cada ser deve conservar-se no seu setor, e a finalidade da mulher é ser mãe e do lar” e que “não seguisse o exemplo de Anita Garibaldi, uma vagabunda”.
Esses argumentos não a calaram afinal foi eleita deputada estadual menos de meio século após a abolição da escravatura num país fortemente preconceituoso quanto à classe, cor e gênero. Antonieta de Barros foi excepcional. Estava entre as três primeiras mulheres eleitas no Brasil. A única negra. Foi eleita em 1934 deputada estadual por Santa Catarina mesmo ano que a médica Carlota Pereira de Queirós foi eleita deputada federal por São Paulo.
Em 1937, publicou o livro “Farrapos de Ideias”. Os lucros da primeira edição foram doados para construção de uma escola para abrigar crianças, filhas de pais internados no leprosário Colônia Santa Tereza. A obra teve outras duas edições.
A professora e escritora Antonieta de Barros escrevia em seus livros que “A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira em torno da educação”. E que “Não basta existir. É preciso encher a vida do colorido do bem”. Antonieta foi a primeira negra brasileira a assumir um mandato popular, tendo sido pioneira e inspiração para o movimento negro, apesar de um grande apagamento de sua história, que vem sendo retomada aos poucos.
Uma das poucas frustrações da carreira de Antonieta foi não ter cursado o ensino superior. Seu sonho era a Faculdade de Direito, exclusiva para homens. Mas na política ela brilhou, foi eleita novamente em 1947. Desde sua vitória, apenas outras 15 mulheres ocuparam uma cadeira na Assembleia de Santa Catarina. Nenhuma negra. Antonieta ainda não teve herdeira de luta.

A primeira grande lei educacional do Brasil foi sancionada por dom Pedro I em 15 de outubro de 1827, um marco para a educação brasileira. A data era comemorada informalmente, mas foi um projeto de Antonieta de Barros que criou o Dia do Professor e o feriado escolar nessa data (Lei Nº 145, de 12 de outubro de 1948), em Santa Catarina. A data seria oficializada no país inteiro somente 20 anos depois, em outubro de 1963, pelo presidente da República, João Goulart. Outras leis importantes de Antonieta foram concessões de bolsas de cursos superiores para alunos carentes e concursos para o magistério, para elevar o ensino público e evitar apadrinhamentos.
Antonieta foi feminista numa sociedade conservadora, negra e mulher numa terra de oligarquias, mestre de centenas de jovens da elite branca que jamais deixaram de reverenciar sua cultura e personalidade. E é a prova que não são apenas as manifestações de raiz açoriana que sustentam a cultura de Florianópolis.
Registro com muito orgulho neste 15 de Outubro, Dia do Professor, a importância da catarinense Antonieta de Barros. Sua vida foi de dedicação e conquistas até o seu falecimento, em março de 1952. Seu legado reflete-se até hoje e servirá de inspiração para muitas gerações.
Seu nome tem que ser reverenciado pelos pais e estudantes e também por cada mulher que exerce seu direito ao voto e disputa vagas nas eleições. E, por cada brasileiro, que fica indignado com os preconceitos de cor, classe e gênero.
Viva, Antonieta de Barros!
Fonte: Instituto Geográfico e Histórico de Santa Catarina
Fotos: Arquivo do IHGSC e Museu Antonieta de Barros