Astrônoma inglesa Cecília Payne inspira crianças brasileiras

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Cecilia Payne, a mulher que revolucionou a astronomia

A astrofísica Cecilia Payne, nascida em 10 de maio de 1900, em Wendover, Reino Unido, desafiou naquela época as teorias que existiam sobre a formação da principal estrela do nosso sistema solar e descobriu a composição do Sol em 1925. ‘O Sol não tem a mesma composição da Terra. É formado, essencialmente, por hidrogênio”, assegurou a inglesa.

A tese de doutorado apresentada, há quase um século, na atual Universidade de Harvard, dizia que ao contrário do que se pensava, o Sol não tinha composição majoritariamente de ferro. A descoberta de Cecilia Payne-Gaposchkin demorou para ser aceita pelo fato de ser mulher. Ela dedicou sua vida ao estudo das estrelas, mas nunca teve o merecido reconhecimento.

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Cecilia Gaposchkin tinha 5 anos quando, durante um passeio com a mãe, viu uma estrela cadente. Apaixonada pelo universo desde então, passou a se dedicar inteiramente aos estudos. Em sua autobiografia, lembra que gostava mais de livros do que de garotos, e lia Platão por pura diversão.

Estudos em Cambridge
Em 1919,ganhou uma bolsa para estudar no Newnham College, da Universidade de Cambridge. Aprofundou-se em botânica, física e química e, embora tenha completado a graduação, não recebeu diploma por ser mulher. Cambridge só começou a conceder diplomas para mulheres depois de 1948.

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Cecilia Payne, a mulher que revolucionou a astronomia

Mudança para os EUA
Frustrada com as opções de carreira no Reino Unido, muito limitantes para uma mulher, mudou-se para os Estados Unidos para fazer doutorado em Astronomia na Universidade Harvard.

Conheceu mulheres que classificaram centenas de milhares de estrelas com base em suas temperaturas e composição. Na América também enfrentou discriminação para o reconhecimento de títulos como o de astrônoma, para equiparação salarial e ocupação de um cargo oficial como professora.

Contra todas as adversidades,a  astrofísica britânico-americana Cecilia foi a primeira mulher da história a ocupar a direção do departamento de astronomia na Universidade de Harvard, antes de se aposentar. Cecília Payne faleceu em 7 de dezembro de 1979, em Cambridge, Massachusetts, EUA.

Se hoje olhamos para o céu e sabemos que as estrelas, entre elas o Sol, são compostas principalmente de hidrogênio e hélio, é graças à astrônoma Cecilia Payne-Gaposchkin. 

Na atualidade muitos acreditam que o nome de Cecilia Payne-Gaposchkin deveria ser tão famoso quanto os de Newton ou Einstein. Ela deu uma contribuição inestimável para a ciência. Mas esta descoberta não lhe deu a fama merecida Em 1976, 3 anos antes de sua morte, Payne-Gaposhkin recebeu o único prêmio de sua vida: o Henry Norris Russell por sua contribuição para a ciência. Ironicamente, esse astrônomo Henry Norris Russel, ficou famoso graças a descoberta de Cecilia.

Depois de quatro décadas de sua morte a descoberta de Cecilia é tida como um marco na astronomia e, em especial, no estudo das estrelas.Dada a sua importância a Universidade de São Paulo (USP) criou um programa batizado com o nome da cientista. O programa Cecilia leva ciência e, em especial, a astronomia, geofísica e ciências atmosféricas para dentro das escolas públicas, pelas mãos da astrônoma Elysandra Cypriano.

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Astrônoma Elysandra Cypriano, da USP, coordena programa que leva ciência e, em especial, a astronomia, geofísica e ciências atmosféricas para dentro das escolas públicas

O Projeto Cecília do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, promove atividades científicas de extensão com temas relacionados à Terra, ao céu e ao Universo. Devido a pandemia tem uma versão a distância, o #CeciliaEmCasa. Projeto #CeciliaEmCasa explora conceitos de astronomia, geofísica e meteorologia em experimentos que podem ser feitos em casa e é destinado  para estudantes da rede pública do 9º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. sites.usp.br/projetocecilia/ceciliaemcasa

“O projeto faz referência a astrofísica que descobriu que o Sol era composto basicamente por hidrogênio. Naquela ocasião em quem ela descobriu isso, acreditava-se que o Sol tinha a mesma composição da Terra e foi bastante polêmico. Na época ninguém acreditou nela e ninguém fez jus de fato à grandiosidade da Cecilia Payne. Então, a gente fez uma homenagem a ela”, conta Elysandra Cypriano.

A  astrônoma da USP destaca que este também é um projeto que remonta à sua própria história, com dificuldades e desafios, e permitindo que estudantes possam trilhar um caminho mais leve.

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Programa Cecilia, da USP, leva ciência e, em especial, a astronomia, geofísica e ciências atmosféricas para dentro das escolas públicas

“Eu fui uma criança de escola pública que teve pouco acesso. Eu só fui conhecer a astronomia de fato quando eu já era bem mais velha, já na faculdade. Eu fico imaginando como seria se eu tivesse tido acesso a várias coisas que eu proponho nos meus projetos. Como seria eu criança? A minha trajetória seria diferente. Então, quando eu penso na minha trajetória de vida, eu tenho muito orgulho de onde eu cheguei. Porém, se olhar para trás, se eu tivesse tido acesso ao que não tive, talvez teria sido diferente. No mínimo, mais leve e talvez chegasse até um pouco mais longe. Porém, agora na posição de professora, eu consigo olhar pra trás e ver como eu posso auxiliar essas crianças que nunca tiveram acesso a este tipo de material para que o caminho delas seja um pouco mais leve”, destaca a astrônoma Elysandra, professora da USP.

A professora da USP diz que o problema da mulher na ciência é o problema geral da mulher em todos os aspectos. É uma luta diária. “Ao longo da história da mulher você pode encontrar vários momentos de resistência. Você vai no passado eram coisas tenebrosas e já evoluímos bastante, graças ao trabalho de mulheres que vieram antes de nós. Cabe a nós pensar o que fazer para deixar o caminho das próximas mais leve. Isso vale em todas as áreas. Na ciência, o diferencial é que somos poucas e estamos inseridas em um ambiente mais masculino”, ressalta a astrônoma.

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Programa Cecilia, da USP, leva ciência e, em especial, a astronomia, geofísica e ciências atmosféricas para dentro das escolas públicas

Elysandra diz que há no Brasil muitas mulheres que amam as estrelas. Como referência cita a renomada astrofísica brasileira Beatriz Barbuy, por quem, dentre as diversas professoras que passaram por sua trajetória, tem um apreço em especial. Mas ressalta que cada mulher é única e que seu modelo deve ser você mesma.

“Cada um tem sua trajetória.É legal admirar mulheres, por que mulheres são admiráveis, mas não necessariamente seguir um modelo. O seu modelo tem que ser você mesma, baseado na sua história, naquilo que te faz feliz, naquilo que faz o seu coração bater mais forte”, conclui Elysandra.

Fotos: Smithsonian Institute e Arquivo/Pessoal