Divina Misericórdia: sou misericordioso com os outros?
O domingo seguinte à celebração da Páscoa, é dedicado à aproximar ainda mais os fiéis de Deus e reforçar a crença na Sua misericórdia, um pedido feito por Jesus a uma religiosa polonesa de nome Faustina Kowalska, em 1931.
O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística neste II Domingo de Páscoa (11/04), Domingo da Divina Misericórdia, na Igreja de Santo Espírito, em Sassia, Santuário da Divina Misericórdia, localizado nas proximidades do Vaticano, seguindo as normas contra a Covid-19.
Entre o público, com cerca de 80 pessoas por causa das medidas de prevenção ao coronavírus, havia presos de dois presídios de Roma e de um centro de detenção de jovens, assim como refugiados da Síria, Nigéria e Egito e profissionais da saúde de um hospital próximo.
Durante a celebração, o pontífice lembrou que os primeiros cristãos não tinham o conceito de propriedade privada e compartilhavam tudo. “Isso não é comunismo, mas puro cristianismo”, afirmou o Papa Francisco.
O Papa Francisco destacou a importância da misericórdia e de servir os demais. “Não podemos permanecer indiferentes. Não podemos viver uma meia fé, que recebe, mas não dá (…). Tendo recebido misericórdia, vamos nos tornar misericordiosos”, pediu o Papa.
O Pontífice alertou para o risco de sermos atingidos pelo “vírus” do “egoísmo indiferente”. “Somos todos frágeis, todos iguais, todos preciosos”, afirmou.
“Jesus ressuscitado aparece aos discípulos várias vezes; com paciência, conforta os seus corações desanimados. E assim, depois da sua ressurreição, realiza a «ressurreição dos discípulos»; e, solevados por Jesus, mudam de vida. Antes, inúmeras palavras e tantos exemplos do Senhor não conseguiram transformá-los; mas agora, na Páscoa, algo de novo se verifica; e verifica-se sob o signo da misericórdia: Jesus os levanta com a misericórdia; eles, obtendo misericórdia, tornam-se misericordiosos”, disse Francisco em sua homilia.
Segundo o Papa, os discípulos obtêm a misericórdia mediante três dons: Jesus oferece-lhes a Paz, depois o Espírito e, por fim, as Chagas. A paz de Jesus suscita a missão. Não é tranquilidade, nem comodidade; é sair de si mesmo. A paz de Jesus liberta dos fechamentos que paralisam, quebra as correntes que mantêm o coração prisioneiro”, disse o Pontífice.
Em segundo lugar, Jesus usa de misericórdia com os discípulos oferecendo-lhes o Espírito Santo. Dá a eles a remissão dos pecados. “Temos sempre diante de nós o nosso pecado. Sozinhos, não podemos cancelá-lo. Só Deus o elimina; só Ele, com a sua misericórdia, nos faz sair das nossas misérias mais profundas. Como aqueles discípulos, precisamos de nos deixar perdoar. O perdão no Espírito Santo é o dom pascal para ressuscitar interiormente”, disse ainda o Papa. Depois da paz que reabilita e do perdão que levanta, eis o terceiro dom com que Jesus usa de misericórdia com os discípulos: apresenta-lhes as chagas.
As chagas são canais abertos entre Ele e nós, que derramam misericórdia sobre as nossas misérias. São os caminhos que Deus nos patenteou para entrarmos na sua ternura e tocar com a mão quem é Ele. E deixamos de duvidar da sua misericórdia. Adorando, beijando as suas chagas, descobrimos que cada uma das nossas fraquezas é acolhida na sua ternura. Tudo nasce da graça de obter misericórdia. Se, pelo contrário, nos apoiamos nas nossas capacidades, na eficiência das nossas estruturas e dos nossos projetos, não iremos longe. Só se acolhermos o amor de Deus é que poderemos dar algo de novo ao mundo.
“Irmã, irmão, queres uma prova de que Deus tocou a tua vida? Verifica se te debruças sobre as chagas dos outros. Hoje é o dia de nos perguntarmos: «Eu, que tantas vezes recebi a paz de Deus, o seu perdão, a sua misericórdia, sou misericordioso com os outros? Eu, que tantas vezes me alimentei do seu Corpo, faço alguma coisa para matar a fome a quem é pobre?» Não permaneçamos indiferentes. Não vivamos uma fé a meias, que recebe mas não dá, que acolhe o dom mas não se faz dom. Obtivemos misericórdia, tornemo-nos misericordiosos”.
“Com efeito, se o amor acaba em nós mesmos, a fé evapora-se num intimismo estéril. Sem os outros, torna-se desencarnada. Sem as obras de misericórdia, morre. Deixemo-nos ressuscitar pela paz, o perdão e as chagas de Jesus misericordioso”, disse Francisco em sua homilia.