Epidemias, pandemias e surto de varíola podem se tornar ainda mais frequentes, alertam cientistas

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Epidemias, pandemias e surto de varíola podem se tornar ainda mais frequentes, alertam cientistas


A varíola dos macacos é uma infecção viral rara e a maioria dos pacientes se recupera em algumas semanas, segundo o sistema público de saúde do Reino Unido (o SUS britânico). Geralmente, os sintomas são parecidos com os de uma gripe e há inchaço de gânglios linfáticos. Posteriormente, progride para uma erupção de bolhas pelo corpo todo.


Apesar de já ser conhecida há um bom tempo, a varíola dos macacos tem chamado a atenção recentemente pelo aumento de casos da doença em diversos países.


O vírus recebeu essa nomeclatura por ter sido encontrado pela primeira vez nos anos de 1950 em macacos de laboratório, mas esses animais não são apontados como o causa da doença. Segundo o Manual MSD para Profissionais de Saúde, suspeita-se que pequenos roedores da florestas tropicais da África sejam os reservatórios de vírus da doença.


A transmissão entre humanos acontece, principalmente, por meio de contato com pessoas que apresentem secreções respiratórias, pelas lesões da pele de quem está infectado ou por objetos recentemente contaminados.

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Surto de varíola de macacos em pessoas intriga cientistas

Segundo os virologistas os sintomas desaparecem por conta própria dentro de três semanas. A pessoa infectada apresenta: Febre, Dor de cabeça, Dores musculares, Dor nas costas, Calafrios, Gânglios (linfonodos) inchados e Exaustão.


Segundo especialistas, após o aparecimento da febre, o paciente desenvolve uma erupção cutânea. Geralmente, segundo os médicos, ela começa no rosto e se espalha para outras partes do corpo.


No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 48 casos da monkeypox foram confirmados até agora. O detalhamento traz um caso confirmado em Minas Gerais; dois no Rio Grande do Sul; um no Ceará; oito no Rio de Janeiro; e 36 em São Paulo. Outros 47 casos estão em investigação.


O Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de infecção pela varíola dos macacos — monkeypox — no Distrito Federal. O paciente, que é um dos dois casos suspeitos na capital, é um homem na faixa etária de 30 a 39 anos, com histórico de viagem internacional recente.


De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, o paciente está em isolamento domiciliar e é monitorado pelas equipes de vigilância epidemiológica. O resultado positivo para a doença refere-se ao que foi notificado no dia 1º de julho.


A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) afirmou que ainda aguarda o resultado do exame laboratorial do primeiro caso suspeito, de um homem de faixa etária entre 20 e 29 anos, que se encontra bem e em casa. A história foi revelado pelo Correio em 21 de junho passado.


Os cientistas não ainda não sabem o que está por trás do recente surto de casos de varíola, mas há indicações de que o vírus está se espalhando de pessoa para pessoa há algum tempo sem ser detectado.


O diretor de emergências da OMS, Mike Ryan, alertou que as mudanças climáticas estão afetando o comportamento animal e humano, incluindo a busca por alimentos. Como resultado, disse ele, as doenças que normalmente circulam em animais (zoonoses) estão cada vez mais infectando humanos.


“Infelizmente, essa capacidade de amplificar a doença e movê-la em nossas comunidades está aumentando — então tanto o surgimento da doença quanto os fatores de amplificação da doença aumentaram”, concluiu Ryan.

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Erupção de bolhas doloridas pelo corpo são alguns dos sintomas da varíola de macacos


A grande questão, apontam os especialistas, é que muitos desses novos espaços urbanos já nascem deficientes em infraestrutura, transporte público, habitação, saneamento básico e assistência em saúde. E isso, por sua vez, cria as condições ideais para que vírus e bactérias prosperem e circulem livremente.


Esgoto não tratado em córregos e nascentes, por exemplo, pode ser fonte de graves infecções gastrointestinais. Já o acúmulo de lixo em terrenos baldios é o ambiente perfeito para a proliferação de vetores, como o mosquito Aedes aegypti, o transmissor de dengue, zika e chikungunya.


“Não podemos nos esquecer também que os ambientes urbanos são propícios às aglomerações, e sabemos como o contato próximo, especialmente em locais pequenos e mal ventilados, facilita o espalhamento de patógenos”, acrescenta o virologista Flavio da Fonseca, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.


Mais de 30 países em todo o mundo fora da África também foram afetados por surtos semelhantes, e mais de 550 casos confirmados da infecção viral foram notificados à Organização Mundial da Saúde (OMS).


Surtos, epidemias e pandemias podem se tornar ainda mais frequentes nos próximos anos, alertam cientistas.

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Varíola de macacos em humanos intriga cientistas


Enquanto os cientistas ainda tentam desvendar as origens e as causas dos quadros, vale notar que esses eventos acontecem em meio à pandemia de covid-19, doença causada por um vírus que, até o início de 2020, era absolutamente desconhecido.


E, antes mesmo de o coronavírus devastar a vida de milhões de pessoas, na última década vimos graves problemas no Brasil e no mundo relacionados a outros vírus, como ebola, zika, dengue, chikungunya, febre amarela e sarampo.


A pergunta que fazemos é: Será que as crises de saúde em sequência são fruto do acaso? Ou o contexto em que vivemos propicia surtos, epidemias e pandemias?


Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que a segunda hipótese é a mais provável: atualmente, o mundo reúne uma série de características que facilitam ainda mais o aparecimento (ou o ressurgimento) de doenças infecciosas.


Há pelo menos sete fatores que ajudam a explicar todo esse cenário: o trânsito de pessoas entre os países, a urbanização desenfreada, as mudanças climáticas (aumento da temperatura média do planeta traz as mais diversas consequências à saúde), a demanda por proteína animal, o maior contato com zonas silvestres, a recusa às vacinas e a falta de profissionais de saúde e vigilância.


Hoje em dia, é muito fácil cruzar continentes e oceanos em poucas horas
. Isso significa que uma pessoa pode se infectar com um vírus no Brasil e, antes mesmo de apresentar qualquer sintoma, estar literalmente do outro lado do mundo.


Um dos exemplos disso é o zika, vírus que circulava em algumas ilhas do Pacífico e foi trazido ao Brasil a partir de 2014 e 2015, onde causou um sério problema de saúde pública, incluindo o nascimento de bebês com microcefalia.


Outro recente surto foi o de ebola, que se iniciou na África Ocidental em 2014 e apareceu justamente em regiões com extração de madeira e minérios. Por causa dessas atividades, os seres humanos passaram a ter mais contato com os animais da região — entre eles, morcegos que carregavam esse vírus.


Numa reportagem da BBC News Brasil publicada em outubro de 2021, a virologista e patologista Paula Rodrigues de Almeida, professora do curso de veterinária da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, explicou que os novos contágios costumam acontecer nas chamadas “zonas de interface”.


“São ambientes naturais que foram degradados, em que acontece com mais frequência essa exposição da espécie humana aos novos vírus”, ensina a virologista.

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Epidemias, pandemias e surto de varíola podem se tornar ainda mais frequentes, alertam cientistas


Outro fator da propagação tem a ver com a dificuldade cada vez maior de convencer a população sobre a importância de vacinar-se.


Seja por dificuldades na produção e na distribuição das doses, ou pela influência de notícias falsas a respeito do assunto, o fato é que a cobertura vacinal contra muitas doenças está aquém do desejado.


No Brasil, que sempre foi visto como exemplo nas campanhas de imunização, a taxa de proteção contra doenças preveníveis vem caindo ano após ano. Com uma cobertura vacinal abaixo da meta, nada garante que outras doenças infecciosas, como a própria poliomielite, causem sérios problemas depois de décadas sob controle.


Tudo isso prova que a saúde humana não está isolada e que é preciso que as autoridades pensem cada vez mais na conexão que temos com a saúde dos animais e do meio ambiente.


Fotos: BBC/Getty Images, Roger Harris/Science Photo Library/Getty Images e Reprodução