Incenso e mirra correm risco de acabar por causa da exploração ilegal do ouro

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Benefícios do incenso de Olibano para saúde física e mental

Neste 6 de janeiro, Dia dos Reis Magos, primeiros adoradores do Menino Jesus que ofereceram Ouro, Mirra e Incenso, como presentes, a BBC publicou uma reportagem alertando que a corrida do ouro na república da Somalilândia e no Estado da Puntlândia, na Somália está colocando em risco a produção da mirra e do incenso.

Muitos dos garimpeiros que começaram a chegar em 2017 à montanha Daallo, na Somalilândia, são antigos nômades. Ouro, incenso e mirra são exportados da região há milhares de anos. Grande parte do olíbano consumido no mundo para a fabricação de incenso vem da região conhecida como Chifre da África.

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A cordilheira de Golis, na fronteira entre os territórios disputados pela Somalilândia e Puntlândia

Um secular comércio de mirra (planta medicinal) e de olíbano (resina usada na fabricação de incenso) está ameaçada pela ganância dos insensatos. As plantas de olíbano, encontradas em todo o norte da África e na Índia, Omã e Iêmen, estão desaparecendo, sobretudo devido à exploração excessiva de sua resina aromática.

Segundo Hassan Ali Dirie, da organização ambiental Candlelight, multidões de garimpeiros invadiram as montanhas. “Eles cortam todas as plantas para limpar a área para a mineração. Eles danificam as raízes das árvores enquanto cavam em busca de ouro. Eles bloqueiam cursos d’água importantes com suas garrafas de plástico e outros tipos de lixo”, conta Dirie.

Mineração está destruindo o meio ambiente

“Dia após dia, eles estão causando a lenta morte dessas árvores antigas”, diz. “Primeiro, morreram as árvores de mirra, que são arrancadas pelas raízes quando as escavadeiras limpam o terreno para a mineração de superfície. As árvores de olíbano duram um pouco mais porque crescem sobre as rochas, mas são destruídas quando os garimpeiros cavam mais fundo na terra”, conta Hassan Ali Dirie.

A cordilheira de Golis, na fronteira entre os territórios disputados pela Somalilândia e Puntlândia, é fonte de riquezas há séculos e significa ‘terra de aromas deliciosos’.

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Olibano: árvore que produz incenso e perfumes está ameaçada pela ganância

O Olíbano é uma árvore, conhecida cientificamente como Boswellia carterii. É originária da África, mas muito comum na Ásia e na Índia, além de ser usada desde a antiguidade pelos povos egípcios. Quando as plantas de olíbano são cortadas, a seiva que escorre endurece e se transforma em uma valiosa resina. Esta resina é queimada como incenso em cerimônias católicas em todo o mundo.

O incenso é um dos produtos mais antigos de que se tem conhecimento, tanto quanto a própria história da humanidade. O uso desses artigos era um ritual muito importante realizado há mais de 6 mil anos, conforme descrito no texto dos Vedas.

As preciosas varetas não só faziam parte de rituais religiosos, mas também representavam a força política do Antigo Egito. Os incensos eram oferecidos aos deuses e somente os sacerdotes tinham acesso a eles para usá-los em cerimônias.

Hassan Ali Dirie conta que “Mil e quinhentos anos antes do nascimento de Jesus, a mais poderosa mulher faraó do Egito, Hatshepsut, fez uma expedição famosa até aqui. Ela ordenou a construção de cinco barcos para a viagem, encheu-os com os três produtos preciosos e navegou de volta para casa”.

“O ouro foi usado para adornar o corpo de Hatshepsut, o incenso de olíbano foi queimado nos seus templos e a mirra foi usada para mumificá-la depois que ela morreu”, afirma Arale.

O Olibano também era muito utilizado como forma de agradar aos deuses. Inclusive, foram encontrados vestígios da planta em tumbas de antigos faraós, no Egito. O incenso é usado há milênios para elevar as boas energias. O produto tem forte ação contra a depressão e traz outros benefícios importantes para o corpo e a alma.

Ouro, incenso e mirra são exportados da região há milhares de anos. Grande parte do olíbano consumido no mundo para a fabricação de incenso vem da região conhecida como Chifre da África. O olíbano é bem resistente à seca e às regiões montanhosas. A árvore sobrevive em locais altos e rochosos, precisa de luz solar direta e de pouca água.

A sobrevivência do olíbano depende de uma aldeia bem no alto da montanha onde as árvores de olíbano são passadas de geração em geração.  Racwi Mohamed Mahamud conta que a árvore que produz  um delicioso cheiro amadeirado pertence a família dela há centenas de anos. “Tudo o que sei é que minha família é dona destas árvores. Elas são passadas do trisavô para o bisavô, para o avô, para o pai e para o filho”.

A moradora do local explica como os garimpeiros chegaram à sua região com pás e picaretas. “Nós lutamos contra eles”, conta Mahamud, fechando o punho. “Nós dissemos: ‘vocês vieram aqui pelo seu ouro, amarelo e bruto. Nós temos o nosso ouro verde e ninguém pode tirá-lo de nós.” Segundo ela, naquele local eles não voltaram.

Naquela aldeia o olibano tem várias utilidades. “Nós queimamos olíbano para espantar moscas e mosquitos. Nós o inalamos para curar resfriados e o consumimos para tratar de inflamações”, conta Racwi. Ela diz que eles retiram a substância grudenta para separar pedaços de olíbano. Esses pedaços são limpos, secos e classificados para serem vendidos a intermediários que os exportam para todo o mundo.

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Olibano: árvore que produz incenso está sendo explorada excessivamente

Mahamud conta que os colhedores das lascas recebem muito pouco pelo olíbano. Um quilo do produto é vendido por US$ 5 a US$ 9 (cerca de R$ 26 a R$ 48). Eles conseguem um pouco mais pela mirra, que vendem atualmente por US$ 10 (cerca de R$ 53) por quilo. 

Sabemos que além de produzir o incenso que é queimado nas igrejas, mesquitas e sinagogas, o olíbano também é usado para produzir remédios, óleos essenciais, cosméticos sofisticados e perfumes – incluindo o famoso Chanel N° 5.

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Poderes da Mirra, a árvore sagrada que produz remédios e conserva cadáveres

A mirra é um lindo arbusto africano, pode chegar até 3 metros de altura. Com odor forte e agradável atrai abelhas e borboletas e se desenvolve rápido. As árvores espinhosas produzem uma resina que é usada na fabricação de remédios, perfumes, incenso, e para embalsamar cadáveres.

Acredita-se que a mirra tenha propriedades antissépticas, analgésicas e anti-inflamatórias. Ela também é usada em cremes dentais, enxaguantes bucais e pomadas para a pele.

É mais uma triste realidade da destruição do meio ambiente pelos garimpeiros e atravessadores e do sacrifício das pessoas daquela aldeia em preservar as árvores que garantem a sobrevivência de gerações.

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Mirra: o cicatrizante da alma corre risco de extinção

As substâncias usadas para sua produção de perfumes, cosméticos, incensos e joias vem do sacrifício de comunidades e da luta para evitar que aproveitadores destruam as duas importantes árvores seculares com a Mirra e o Olibano.

Fotos: MARY HARPER/ BBC e Reprodução