Exame de urina pode prever câncer de bexiga até 12 anos antes do diagnóstico, aponta estudo

Estudo apresentado recentemente no Congresso da Associação Europeia de Urologia (EAU) por membros da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), mostra que um simples teste genético de urina é capaz de prever o câncer de bexiga até 12 anos antes do aparecimento dos sintomas.

O teste, desenvolvido por pesquisadores das universidades da França, Estados Unidos e Irã, tem o potencial de servir como uma ferramenta de triagem para indivíduos com risco elevado desse tipo de tumor. Os pesquisadores utilizaram um ensaio de sequenciamento de última geração que identifica mutações em 60 genes associados ao câncer de bexiga. No estudo, eles se concentraram em 10 genes-chave.

Nos estudos de treinamento e validação, o novo teste previu com precisão o futuro câncer de bexiga em 66% das amostras de urina de pacientes, incluindo algumas que foram coletadas mais de uma década antes. Os resultados foram consistentes tanto em indivíduos com fatores de risco conhecidos para câncer de bexiga submetidos à cistoscopia quanto naqueles sem evidência de doença. Os fatores de risco para esse tipo de tumor incluem genética, tabagismo ou exposição ambiental a carcinógenos conhecidos.

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Teste genético de urina pode prever câncer de bexiga até 12 anos antes do diagnóstico, aponta estudo

“Identificamos objetivamente quais são as mutações genéticas adquiridas mais importantes que podem aumentar o risco de desenvolvimento do câncer em dez anos”, explica a cientista Florence Le Calvez-Kelm, da IARC, em comunicado. “Os resultados foram consistentes em dois grupos muito diferentes: aqueles com fatores de risco conhecidos submetidos à cistoscopia [exame padrão para o diagnóstico] e indivíduos considerados saudáveis”, acrescenta a cientista.

Florence Le Calvez-Kelm explica como o diagnóstico do câncer de bexiga é feito hoje. “O diagnóstico de câncer de bexiga depende de procedimentos caros e invasivos, como a cistoscopia, que envolve a inserção de uma câmera na bexiga”, explica a pesquisadora sobre as condições limitantes da triagem. “Ter um exame de urina mais simples que possa diagnosticar com precisão e até prever a probabilidade de câncer com anos de antecedência pode ajudar a detectar mais cânceres em um estágio inicial”, complementa.

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“Pesquisas dessa natureza são muito encorajadoras, pois mostram que nossa capacidade de identificar alterações moleculares em biópsias líquidas, como urina, que podem indicar câncer, está melhorando constantemente”, declarou Joost Boormans, urologista do Erasmus University Medical Center em Rotterdam, na Holanda, em comunicado.

Apesar dos resultados promissores, Boormans não acredita que esse tipo de teste será utilizado para realizar uma triagem em massa do câncer de bexiga. Em vez disso, é mais provável que o exame possa ser utilizado em pacientes de alto risco ou para avaliar o risco de recorrência em pacientes que já tiveram a doença.

Caso os testes com o novo exame avancem, comprovando a eficácia do método, ele poderá ser adotado em protocolos de rotina para pacientes de alto risco, como fumantes ou aqueles expostos a agentes cancerígenos conhecidos devido ao trabalho. A ferramenta também poderá ser indicada para pessoas com possíveis sintomas, como sangue de urina.

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Exame de urina pode prever câncer de bexiga até 12 anos antes do diagnóstico, aponta estudo

Em breve, os resultados completos do estudo devem ser publicados em uma revista científica. Estes dados foram apresentados, pela primeira vez, no Congresso anual da Associação Europeia de Urologia (EAU), que ocorreu durante o final de semana na Itália.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer tanto no Brasil quanto no mundo, o câncer de bexiga é um diagnóstico bastante comum. Em 2022 foram identificados 11,3 mil casos deste tumor em brasileiros, sendo que a maioria dos pacientes é composta por homens (7,8 mil). No mesmo período, foram 4,5 mil mortes.

Quando o tumor é diagnosticado precocemente, mais de 80% dos pacientes sobrevivem por pelo menos cinco anos. Só que poucos casos são rastreados no estágio inicial. Em caso de diagnóstico tardio, a chance de cura é baixa e o risco de reincidência é mais alto. Por isso, novas tecnologias, como este estudo da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer são tão necessárias nesse campo da oncologia.

Fotos: Reprodução