Alberto da Costa e Silva, um dos mais importantes intelectuais brasileiros, morre aos 92 anos

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Diplomata e grande historiador Alberto da Costa e Silva, vencedor do Prêmio Camões em 2014

O diplomata Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), um dos mais importantes intelectuais brasileiros no século XX, faleceu aos 92 anos na madrugada de domingo, de causas naturais em sua casa, no Rio de Janeiro. Alberto deixa três filhos – Elza Maria, Antonio Francisco e Pedro Miguel – sete netos e uma bisneta.

De acordo com a ABL, o corpo de Alberto será cremado nesta segunda-feira, 27 de novembro. Não haverá velório e a cerimônia de cremação será apenas para a família.

O diplomata foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000, ocupou a cadeira nº 9, na sucessão de Carlos Chagas Filho. Presidiu a ABL nos anos 2002 e 2003. Na academia, ele também ocupou os cargos de secretário-geral, primeiro-secretário e diretor das bibliotecas. Era também Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História.

O presidente da ABL Merval Pereira lamentou a morte do ex-presidente da Academia e maior africanista brasileiro. “A morte do Alberto da Costa e Silva tem efeitos múltiplos, todos negativos para a cultura brasileira, que perde um dos seus maiores intelectuais de todos os tempos. Para o estudo da África, o Alberto é um dos maiores, senão, o maior africanólogo brasileiro e tinha uma dimensão histórica, política sobre nossas relações com a África e dava a importância que ela sempre teve mas nunca foi, devidamente, enaltecida como ele fez nos seus livros. Ganhou o Prêmio Camões, que é o maior prêmio da Língua Portuguesa, exatamente por essa especificação da importância da África no desenvolvimento brasileiro. Alberto era um grande poeta, um grande intelectual, um grande diplomata e, internamente, nós da ABL perdemos uma das nossas bússolas. Alberto dava a direção correta, Alberto dava a solução correta quando tínhamos dúvida, Alberto nos orientava na direção certa. Acho que é uma perda que tem consequências graves para a ABL, para a cultura brasileira e para o Brasil como um todo”.

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Morre o diplomata, historiador e imortal da ABL, Alberto Costa e Silva, aos 92 anos de causas naturais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lamentou a morte do diplomata e escritor. Lula classificou Alberto da Costa e Silva como “um dos mais importantes conhecedores da África no Brasil”, e disse que o historiador teve “um papel fundamental na necessária aproximação entre o Brasil e o continente africano, de onde nutrimos nossas origens e em  cuja ancestralidade alimentamos os nossos saberes”.

“Sobre o rio chamado Atlântico, que Alberto identificou, seguiremos construindo as pontes que ele sonhou. Meu abraço solidário aos filhos, netos e todos os familiares de um dos mais importantes intelectuais brasileiros no século XX”, finalizou o presidente Lula.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, classificou o membro da ABL como um dos maiores diplomatas da sua geração e um dos mais influentes estudiosos da cultura africana. “Recebi com pesar a notícia do falecimento do Embaixador Alberto da Costa e Silva, um dos maiores diplomatas de sua geração e um dos mais influentes estudiosos da cultura africana. Seja pelos postos que comandou na África ou pelos brilhantes livros que escreveu e organizou, Costa e Silva aproximou como poucos as duas margens desse rio chamado Atlântico. Meus sentimentos ao Embaixador Pedro Miguel, aos seus amigos e familiares”.

“Seu legado de pesquisa, erudição e humanidade seguirá vivo em todos nós que nos debruçamos sobre a história que nos conecta ao outro lado desse rio chamado Atlântico para construir um presente mais justo e com equidade racial”, declarou o senador Randolfe Rodrigues.

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Alberto da Costa e Silva, um dos mais importantes intelectuais brasileiros no século XX e estudioso da cultura e história da África do Sul

Nascido em São Paulo, no dia 12 de maio de 1931, Alberto morou em Fortaleza, onde fez o ensino primário e secundário. Em 1943, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde se formou pelo Instituto Rio Branco em 1957.

Alberto da Costa e Silva era um dos mais importantes intelectuais brasileiros e especialista na cultura e na história da África, onde foi embaixador do Brasil por quatro anos, na Nigéria e no Benin.

O diplomata teve seu primeiro contato acadêmico com a África através do livro ‘Os Africanos no Brasil’, de Nina Rodrigues, e ‘Casa Grande e Senzala’, de Gilberto Freyre. Sua primeira viagem à África ocorreu no início de sua carreira, quando integrou a comitiva do ministro das Relações Exteriores Negrão de Lima, representante do Brasil nas cerimônias de independência da Nigéria, em 1960.

Alberto Costa e Silva também se formou Doutor Honoris Causa em Letras pela Universidade Obafemi Awolowo (ex-Uni­versidade de Ifé), da Nigéria, em 1986.

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Alberto da Costa e Silva, um dos mais importantes intelectuais brasileiros no século XX, morre aos 92 anos

O trabalho de Alberto da Costa e Silva foi importante para o desenvolvimento de estudos sobre o continente africano. Ao todo, ele foi autor de mais de 40 livros, entre poesia, ensaio, história, infanto-juvenil, memória, antologia, versão e adaptação. Além de diplomata, ele atuou como poeta, ensaísta, memorialista e historiador.

Por conta de sua carreira acadêmica e seus trabalhos sobre a história africana, em 2014, o diplomata recebeu o Prêmio Camões. E em 2003, o Prêmio Juca Pato.

Além de embaixador na Nigéria e no Benin, Alberto também foi embaixador em Portugal, entre 1986 e 1990, na Colombia, entre 1990 e 1993, e no Paraguai, entre 1993 e 1995. Já entre os anos de 1995 e 1998, foi Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores.

Fotos: Guilherme Gonçalves/ABL