São Jorge: o intercessor eficaz contra os males e protetor nas batalhas da vida

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Dia de São Jorge: o fiel da luta que nos inspira a seguir resistindo nas batalhas da vida

São Jorge, o Santo Guerreiro, é festejado neste 23 de abril por devotos nas diversas religiões brasileiras e também pelo mundo afora. História, ficção e devoção se misturam para descrever sua santidade. Jorge é da Capadócia, mas a devoção ao santo é espalhada pelos quatro cantos do mundo.

São Jorge representa a coragem, a honra e tem o poder de afastar o mal e nos ajudar nas batalhas da vida. Salve, Jorge!, o guerreiro que nos inspira a lutar sempre o bom combate e seguir resistindo as dificuldades com coragem para entoar ventos de esperança, amor e prosperidade. O Santo que combate os males e nos protege nas batalhas da vida.

Entre os países que comemoram a data, destacam-se o Reino Unido, Portugal, Geórgia, Bulgária e pelos Goranis. No Reino Unido, o Dia de São Jorge é também o Dia Nacional. No Rio de Janeiro, ele é tão ou mais popular que o próprio padroeiro da cidade, o também mártir São Sebastião que os devotos vestem vermelho e branco para saudar o santo guerreiro.

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23 de Abril é Dia de São Jorge: o padroeiro do Rio de Janeiro

A data escolhida para homenagear a devoção por Jorge é uma menção ao dia em que o cavaleiro nobre foi decapitado. O Santo é representante fiel da luta, assim nos protegendo, nos conduzindo para os bons caminhos e nos afastando das energias negativas.

Jorge pertenceu a um grupo de militares romanos liderados por Diocleciano que perseguia cristãos. Por ter-se rebelado contra o imperador romano e se recusar a ser um opressor contra os cristãos, Jorge foi perseguido, preso, torturado e morto, tornando-se mártir da Igreja Católica. Ele renunciou a tudo para seguir Jesus Cristo e espalhar o Santo Evangelho. Jorge foi martirizado no ano de 303. Segundo Dom Orani João Tempesta:São Jorge foi um grande defensor da fé”.

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Sincretismo religioso: o mártir católico também é exaltado na umbanda

No sincretismo religioso, São Jorge corresponde a Ogum o protetor na guerra do dia-a-dia. Ogum é um orixá que representa a coragem, a tecnologia, o trabalho árduo, o ferro, a caça e a agricultura. Sendo geralmente representado sob a figura de um guerreiro, Ogum estabelece um arquétipo de luta e conquista aos que se dedicam à sua adoração.

Os escravos trouxeram para o Brasil a cultura africana e suas religiões. Forçados a passar por um processo de catequização católica, os africanos passaram a associar os orixás a santos da igreja católica, mantendo, assim, a fé em seus deuses nativos.

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São Jorge é celebrado no Rio de Janeiro na missa da alvorada na Matriz de Quintino

No Brasil, o Santo Guerreiro é muito querido entre os cariocas e é homenageado na tradicional festa da Matriz de Quintino, na Zona Norte, e na paróquia do Centro da cidade. Os festejos tiveram início às 5 da manhã com fogos, projeções nas paredes da igreja, com trechos da história de Jorge de Capadócia, e um drone carregando uma imagem iluminada do santo.

Na missa solene da alvorada na Matriz de Quintino, estavam o cantor Jorge Ben Jor, e a atriz Regina Casé devotos do santo padroeiro do Rio de Janeiro.

A igreja é conhecida como um dos locais de maior concentração de devotos todos os anos. Este ano, a paróquia, que realiza a maior festa dedicada ao santo na América Latina, se prepara para um espetáculo com cerca de 1,5 milhão de fiéis durante todo o dia de hoje.

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Jorge Ben Jor e Regina Casé, devotos de São Jorge, santo padroeiro do Rio de Janeiro, durante a missa da alvorada na Matriz de Quintino

O dia de São Jorge movimenta uma legião de fiéis pela cidade, nas tradicionais missas campais, alvoradas e cavalgadas, que vão atrair mais de 1,5 milhão de pessoas. Mas a devoção também marca presença nas rodas de samba e feijoadas por toda a cidade.

O prato típico, feito invariavelmente com feijão preto, é a marca registrada da festa em homenagem ao santo guerreiro, que coleciona devotos em todo o país.

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São Jorge, padroeiro do Rio de Janeiro, é celebrado por multidão neste 23 de abril

Salve São Jorge

“Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo no meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos. 

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. São Jorge Rogai por nós. Amém”.

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Salve, Jorge! Guerreiro que nos inspira a lutar sempre o bom combate
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São Jorge: intercessor eficaz contra os males e protetor nas batalhas da vida

“Meu guerreiro e protetor, São Jorge! Querido e auxiliador, dai-nos a bênção filial e dispersa de nós o inimigo maligno que nos quer separar do projeto do Pai. Concedei-nos a vossa valentia para que possamos aceitar e rezar por aqueles que não nos querem bem. Ajudai-nos a combater todas as formas de opressão e violência, mostrando aos nossos opositores que só a vitória da cruz que é gloriosa. Pede a Deus por nós, São Jorge protetor, para que, sobretudo, os inimigos espirituais se afastem de nós.

Fazei que trabalhemos para que a justiça divina aconteça na Terra, através de nossos atos, e que as nossas omissões não sirvam para colocar obstáculos ao projeto do Pai em meio a nós. Seja vosso escudo a nossa proteção, ó São Jorge, e vossa lança a nossa fé, para que consigamos derrotar o mal no mundo. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

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Jorge: o Santo Guerreiro de Capadócia

Como viveu em uma época de muita perseguição, muitos documentos a seu respeito foram destruídos e, por isso, boa parte do que se sabe provém da tradição popular. Pouco se sabe do Jorge antes de virar santo. Mas historiadores dizem que ele nasceu em 275 d.C. na Capadócia (Turquia), considerada o segundo berço do cristianismo. Foi morto em 23 de abril de 303 d.C., na Nicomédia, na Turquia. Seus restos mortais estão na igreja que leva seu nome, que está localizada na Lídia, em Israel.

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Igreja de São Jorge em Capadócia – Turquia

Ele se alistou no Exército do Império Romano e logo foi promovido a capitão. Ascendeu a tribuno, a ponto de integrar a guarda pessoal de Diocleciano. Sua fama de “bravo guerreiro” deve-se ao fato de que ele, enquanto membro do exército romano, ter confrontado o imperador Diocleciano, que perseguia e matava cristãos. Em virtude disso, foi torturado e degolado.  Conta a lenda que ele não sentiu dor durante o ato cruel, sendo enterrado vivo, o que teria levado centenas de pessoas à conversão pela resistência ao sofrimento e à morte

São Jorge é o único santo venerado tanto na Igreja Católica Apostólica Romana, quanto na Igreja Ortodoxa e na Igreja Anglicana.

Histórias de sua força e coragem se espalharam pela Europa. Nos séculos 6 e 7, já havia padres o mencionando. Jorge se tornou referência para mártires cristãos.

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Parque Nacional Gorëme, em Capadócia, um verdadeiro museu a céu aberto que é Patrimônio Mundial da Unesco

Jorge também virou símbolo de exércitos e de conquistas na Espanha (contra os mouros), em Portugal (contra os espanhóis) e na Inglaterra (contra os vikings e os franceses).

A associação de São Jorge e o dragão surgiu em meados do século XII. O monstro simbolizaria a idolatria destruída com as armas da fé cristã. A lenda surgiu quase mil anos após a morte dele. Uma cidade na Líbia era assolada por uma criatura num pântano. Para saciá-lo, habitantes entregavam cabritos e até jovens — até que uma princesa foi escolhida para o sacrifício. Jorge veio e matou o monstro. Alguns estudiosos dizem que o dragão pode ser uma simbologia, representando o imperador que perseguia os cristãos.

A tradição diz que as manchas na lua representam o milagroso santo e sua espada pronto para defender aqueles que buscam sua ajuda.

A inspiração em batalhas europeias elevou Jorge a padroeiro de Portugal e da Inglaterra. Os lusos o têm como santo de devoção desde 1385. Dom João I diz que Jorge intercedeu contra o Reino de Castela. Não por acaso, Lisboa tem no alto de uma de suas colinas as ruínas do Castelo de São Jorge.

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São Jorge por Gustave Moreau (1889-90), obra do The National Gallery, London

O rei Eduardo III fez dele o padroeiro da Inglaterra em 1350. As faixas vermelhas sobre o fundo branco da bandeira inglesa representam “George”. A Union Jack, pavilhão do Reino Unido, é a sobreposição das cruzes de São Jorge, de São Eduardo (Escócia) e de São Davi (Gales).

Quase todos os serviços funerários da família real britânica são realizados na Capela de São Jorge, lugar histórico no Castelo de Windsor — onde a rainha Elizabeth II morou e agora está enterrada.

William Shakespeare nasceu e morreu no Dia de São Jorge. Ele nasceu em 23 de abril de 1564 e morreu em 23 de abril de 1616, quando o bravo guerreiro ainda era padroeiro da Inglaterra. O bardo também pôs o padroeiro em sua obra. Em “Henrique V”, William descreve um grito de guerra contra os franceses: “Deus combata por Henrique, Inglaterra e São Jorge!”

São Jorge é o padroeiro da Catalunha, na Espanha. Uma lenda regional diz que, após matar o dragão, ele deu à princesa uma rosa vermelha. Assim, em 23 de abril, é comum que em Barcelona os homens deem às amadas a flor rubra.

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Afresco de São Jorge abatendo uma serpente, em Igreja de Capadócia, Turquia

Jorge também acabou adotado por ferreiros, cuteleiros e barbeiros portugueses da Irmandade de São Jorge de Lisboa, fundada no século 14. Quase 200 anos mais tarde, com a vinda da Corte para o Rio, o culto a São Jorge, de quem Dom João VI era devoto, cresceu muito, assim como a tradição do patrono dos ferreiros.

Na tradição nagô e iorubá, Ogum também é cultuado pelos ferreiros. Com a diáspora africana, surgiram semelhanças entre o orixá dos escravizados e o santo dos colonos, e o sincretismo começava a fluir.

O Vaticano retirou São Jorge do santoral oficial da Igreja Católica em 9 de maio de 1969. Muita gente achou que a Santa Sé tinha “cassado” o santo. “Na falta de notícias sobre a sua vida, a Igreja mudou sua celebração: de festa litúrgica passou a ser memória facultativa”.

São Jorge foi um dos tantos santos enaltecidos pelo Papa João Paulo II nas celebrações do Jubileu em 2000. Isso foi visto por observadores como uma espécie de reabilitação oficial. Roma segue considerando Jorge o “padroeiro dos cavaleiros, soldados, escoteiros, esgrimistas e arqueiros”.

No Futebol São Jorge é, também, padroeiro do Corinthians, vide o Parque São Jorge e pela Gaviões da Fiel. E, também do Bangu. Sua bandeira também está presente no escudo do Barcelona.

No Brasil, a devoção a São Jorge cresceu pelos escravos que, proibidos de adorar seus Orixás, passaram a fazer seus cultos associando sua imagem a Ogum, que é Orixá da guerra, do fogo e da tecnologia.

Na música brasileira, é difícil precisar quantas vezes o nome do bravo guerreiro e seus feitos aparecem em composições. Dentre os artistas, São Jorge já foi homenageado em canções por Caetano Veloso, Fernanda Abreu, Jorge Ben Jor, Maria Bethânia, Racionais MC’s e Zeca Pagodinho.

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Salve, Jorge! Santo Guerreiro que conduz para bons caminhos e afasta as energias ruins

O cavalo branco de São Jorge simboliza a pureza e a santidade, armas indispensáveis na luta contra o mal. Além disso, a cor branca, usada na Páscoa, nos lembra a vitória sobre a morte e a ressurreição de Jesus. A grande luta de São Jorge foi contra o império romano que queria acabar com os cristãos. Por isso ele foi elevado aos altares da Igreja.

A capa vermelha de São Jorge representa seu martírio. Ele foi decapitado, ou seja, teve a cabeça cortada por não ter renegado sua fé em Jesus Cristo e enterrado vivo.

A armadura de São Jorge simboliza a armadura do cristão, que São Paulo descreve na carta aos Efésios 6, 10-18. A couraça representa a justiça. O capacete representa a certeza da salvação. O cinturão, a verdade. O calçado, a prontidão para anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. Assim, o Santo é lindamente representado como um guerreiro, um oficial do reino de Deus, vestido para a batalha espiritual contra o mal.

A espada e a lança de São Jorge, com a qual ele fere mortalmente o dragão, representam a Palavra de Deus, conforme o escrito de São Paulo: “A Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração”. (Hebreus 4,12) é com o poder da Palavra de Deus que São Jorge vence o mal.

A Igreja pintada ao fundo da imagem de São Jorge simboliza a própria Igreja de Cristo, formada pelos cristãos. Há um caminho difícil para se chegar até ela. Este caminho simboliza as dificuldades de São Jorge e de todos nós para chegarmos a Deus. Sobre o caminho tem a figura de uma jovem: é a princesa que foi salva por São Jorge.

Fotos: Reprodução