Experiência e aprendizado deixa cérebro mais lento na velhice
Compreender o funcionamento do cérebro é a chave para tratar doenças e criar hábitos saudáveis. Sem o cérebro, não teríamos criado a matemática, as artes e os impérios. E também não conseguiríamos realizar as tarefas mais básicas do dia a dia, como comer, andar e dormir.
Protegido por uma caixa resistente a impactos, o cérebro dispara um comando de sobrevivência caso a pressão arterial caia: desmaiar é uma solução inteligente para garantir que continue a receber todo o sangue necessário. Mesmo com essa importância, é surpreendente quão pouco ainda sabemos sobre seu funcionamento.
O cérebro de parte dos idosos parece desacelerar com a idade. E muitos cientistas acreditam que isto esteja relacionado com o declínio das funções cognitivas, ou seja, com a dificuldade progressiva de reter memórias recentes, adquirir novos conhecimentos, expressar-se bem pela linguagem e fazer cálculos.
Mas um grupo de cientistas alemães em estudo questionou esta teoria. Na verdade, segundo a pesquisa, isto acontece simplesmente porque os mais velhos acumulam mais informações ao longo do tempo. Da mesma forma que um disco rígido de um computador cheio demoraria mais para processar dados.
“O cérebro dos idosos não fica mais fraco. Pelo contrário, ele apenas sabe mais”, defendeu o coordenador do estudo, Michael Ramscar, da Universidade de Tubinga, na Alemanha. “Ele é mais lento na velhice, mas apenas porque armazenamos mais informações ao longo do tempo”, complementa.
Para chegar a esta conclusão os cientistas usaram uma tecnologia conhecida como modelo aditivo generalizado misto (ou GAMM), capaz de manipular grandes e complexas quantidades de dados. Eles reavaliaram 134 estudos sobre envelhecimento no qual foram usados testes de habilidades cognitivas. Isso permitiu que os pesquisadores tivessem estimativas do número de palavras que um adulto pode aprender ao longo da vida e, além disso, conseguissem separar a capacidade de memória e o avanço do aprendizado.
Com isso, os cientistas “treinaram” modelos de computadores para acumular informações, da mesma forma que um ser humano acumularia novos conhecimentos. Quando o banco de dados era menor, o desempenho do equipamento se assemelhava ao de um jovem adulto. E ao contrário, quando o mesmo computador era exposto a mais informações, sua capacidade de processamento piorava. O computador ficava mais lento, não porque perdera suas funções, mas porque aumentara a quantidade de dados armazenados. O estudo foi publicado no “Journal of Topics in Cognitive Science”.
O estudo se baseou em cérebros de pessoas saudáveis. A perda das funções cognitivas pode ser um indicativo de demência, doença que acomete principalmente os idosos. Além disso, as teorias sobre memória mais aceitas hoje sugerem que, em vez de acumular conhecimento ilimitadamente, o cérebro, com o intuito de proteger a sua capacidade de processamento, “esquece” de propósito. Ou seja, o esquecimento faz parte do processo de aprendizagem. E lapsos de memória podem ocorrer pela sobrecarga do órgão.
Frequentemente as pessoas mais idosas vão para algum lugar pegar alguma coisa e quando chegam lá esquecem o que foram fazer. Pelo estudo, isso não é problema de memória. É a maneira lógica pelo qual nosso sistema opera para fazer com que as pessoas se exercitem mais. Agora quando eu não lembrar de um nome direi: “meu disco rígido tem uma quantidade extraordinária de informações”.
O pesquisador Robert Friedland, da Universidade de Minnesota, diz que não apenas a leitura, mas simples passatempos como a montagem de quebra-cabeças ou a prática de palavras cruzadas são atividades capazes de proteger o cérebro. Vários estudos reforçam a ideia de que nem só do intelecto vive o cérebro: o exercício físico também é capaz de torná-lo mais resistente.
Os mais importantes foram realizados na Universidade da Califórnia, com cerca de 6.000 mulheres com mais de 65 anos, em Harvard, com mais de 18 mil mulheres, e na Universidade Johns Hopkins, com mais de 3.000 participantes de ambos os sexos. Os resultados são inequívocos: quanto maior o tempo gasto em atividades físicas, como andar (principalmente), mais lento o declínio da capacidade cognitiva.
Outros estudos confirmam que o exercício físico melhora o fluxo sanguíneo cerebral através da formação de novos capilares no córtex -área essencial para a cognição – e induz a produção de proteínas que estimulam o crescimento e favorecem a formação de novas conexões entre os neurônios.
Foi amplamente comprovado que através de estímulos intelectuais e da atividade física, será possível preservar, na idade avançada, a experiência e as habilidades cognitivas acumuladas com tanto esforço no decorrer da vida.
Para quem é jovem é bom cuidar da memória desde cedo. Uma técnica utilizada na Antiguidade por oradores gregos e romanos, pode fazer com que qualquer pessoa tenha uma supermemória. Segundo pesquisadores da Universidade Radboud, na Holanda, o exercício, conhecido como Palácio da Memória, pode mais que dobrar a capacidade de guardar e resgatar lembranças, tornando as conexões cerebrais muito semelhantes às apresentadas por campeões mundiais de testes de memória.
De acordo com os cientistas, todos possuem “áreas cerebrais” que podem ser exploradas e expandidas, melhorando a memória e as conexões da mente. O segredo para isso é o treino, capaz de ampliar as conexões da mente. O estudo foi publicado no periódico científico Neuron.