Descobrimento do Brasil : o encargo secreto de D. Manuel há 519 anos

519 anos do Descobrimento do Brasil - Bernadete Alves

O dia 22 de abril, constitui uma das datas mais importantes da história nacional: o Dia do Descobrimento do Brasil. Há mais de cinco séculos, uma expedição de treze navios portugueses deixou Lisboa e cerca de 45 dias, em 22 de abril de 1500, a expedição portuguesa comandada pelo navegador Pedro Álvares Cabral se aproximou de uma terra que foi chamada de Ilha de Vera Cruz, terras que hoje compõem o território do Brasil. A escolha desse nome definitivo é originária do Pau-Brasil, primeiro recurso natural explorado pelos portugueses.

Segundo o pesquisador Lucas Figueiredo as ordens  para a empreitada marítima partiram do então rei lusitano D. Manuel I, e seria liderada pelo experimente navegador Pedro Álvares Cabral, de 32 anos, e contaria com a presença do cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira. Conforme relata o seguinte trecho: […] “Mediante um pagamento de 35 quilos de ouro, Cabral deveria conduzir até Calicute dez naus e três caravelas tripuladas por 1.500 homens e abarrotadas de metais preciosos e mercadorias. Esperava-se que voltasse com os porões dos navios cheios de especiarias e outros produtos de valor”… “A missão, no entanto, não se restringia aos negócios nas Índias. Havia um encargo secreto.

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Nau, de Pedro Álvares Cabral

Conforme informações de Lucas Figueiredo o “encargo secreto”  consistia em fazer uma breve exploração em uma terra já descoberta anos antes, mas ainda não suficientemente conhecida. A esperança de D. Manuel I era a de que Cabral descobrisse metais preciosos no “Novo Mundo”. Então, Cabral e seus homens, antes de partirem de fato para as “Índias”, desviaram sua rota em direção à terra que mais tarde seria chamada de Terra de Santa Cruz, ou seja, o Brasil.

Portugal foi o grande pioneiro das circum-navegações, ou grandes navegações modernas, isto é, conseguiu, antes das outras nações europeias, promover viagens com embarcações de grande porte contornando a costa africana até chegar ao Oceano Índico.

E o historiador  Figueiredo questiona: “se D. Manuel ordenou a Cabral que fizesse esse desvio de rota e fosse em direção a essa terra então pouco explorada, é certo que já se sabia de sua existência? Sim, exatamente. Por isso enviou junto com Cabral, Duarte Pacheco. O que se sabe é que, dois anos antes da viagem de Cabral, D. Manuel I ordenou, em caráter sigiloso, a outro navegador, chamado Duarte Pacheco Pereira, que liderasse uma expedição à região da América do Sul ainda não conhecida pelos navegadores espanhóis. A região compreendia o litoral dos atuais estados do Maranhão e do Pará.

Além do historiador Lucas Figueiredo, (Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810). Rio de Janeiro: Record, 2011 o escritor SOUSA, Rainer Gonçalves. (Fatos controversos sobre o descobrimento do Brasil), os relatos da viagem de Cabral pelo Oceano Atlântico não fazem menção a nenhum tipo de grande dificuldade ou imprevisto. No dia 22 de março, os navegadores passaram pela Ilha de Cabo Verde e, logo depois, rumaram para o oeste ao encontro do “mar longo”, nome dado ao Oceano Atlântico. Após um mês de viagem e aproximadamente 3600 quilômetros percorridos, os tripulantes da expedição cabralina encontraram os primeiros sinais de terra.

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Elevação da Cruz, em Porto Seguro, Bahia

No dia 22 de abril de 1500, no oitavo dia da páscoa cristã, os tripulantes tiveram um primeiro contato visual com um elevado que logo ganhou o nome de Monte Pascoal. Nos relatos de Pero Vaz de Caminha, um dos integrantes da viagem, esse nome é refutado quando o “biógrafo da viagem” afirma que a região ganhou o nome de Vera Cruz. Ao longo desse mesmo relato, não existe nenhuma menção sobre um possível encantamento com a “nova” descoberta.

Os navios decidiram primeiramente aportarem nas margens do Rio Frade, de onde enviaram um tradutor judeu chamado Gaspar Gama para entrar em contato com os nativos. Depois de um primeiro contato com os índios, a esquadra decidiu aportar em uma região mais segura, onde hoje se localiza o município baiano de Santa Cruz Cabrália. Em terra firme, os colonizadores lusitanos organizaram uma missa pascoal dirigida pelo Frei Henrique de Coimbra.

A celebração, que oficializou a descoberta e novas terras, representou a conquista material da Coroa Portuguesa e abriu caminho para mais espaço de conversão religiosa para a Igreja. Em um primeiro momento, a terra ganhou o nome de Vera Cruz, mas logo foi substituído por Terra de Santa Cruz. Em uma última modificação do nome das novas terras, os colonizadores lusitanos decidiram nomeá-la como “Brasil” em face da grande disponibilidade de pau-brasil na região.

No dia 2 de maio de 1500, Pedro Álvares Cabral desmembrou a sua esquadra e partiu para as Índias. Gaspar de Lemos recebeu ordens para que retornasse para Portugal portando as notícias contidas no relato de Pero Vaz de Caminha. Nesse documento, havia informações gerais sobre a região explorada e algumas prospecções sobre o potencial econômico local.

Esta aventura marítima foi o ponto de partida da colonização do Brasil, iniciada em 1530 por Portugal. Um sistema administrativo chamado “capitanias hereditárias” implementado pela Coroa Portuguesa tinha como objetivo distribuir as porções de terra no território e nomear “donatários” os responsáveis ​​pelo desenvolvimento e defesa destas terras em nome do Reino de Portugal.

Nos primeiros anos após a descoberta do Brasil, os índios foram tratados como “parceiros comerciais” no comércio criado para a exploração do Pau-Brasil. Então, devido ao desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar no atual estado de Pernambuco, os portugueses precisaram de mão de obra e a escravidão dos índios aumentou, gerando assim uma situação de conflito.

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Praia de Calhetas, Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco

As primeiras expansões do território partiram das Capitanias de São Vicente, Pernambuco e Bahia. O objetivo dessas expedições, era essencialmente a busca de minerais e a captura de escravos indígenas. Essas expedições foram lideradas pelos “Bandeirantes”, também chamados de “caçadores de índios”. Numerosas batalhas travadas pelos índios contra os bandeirantes não impediram sua captura.

Os pesquisadores questionam: “Considerando a existência prévia dos povos indígenas no território brasileiro, Pedro Álvares Cabral descobriu ou redescobriu o Brasil?

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Desembarque de Pedro Álvares Cabral na Bahia (Obra de Oscar Pereira da Silva)

Além da viagem de Duarte Pacheco e de Pedro Álvares Cabral, os historiadores também têm como consenso que ao menos dois navegadores espanhóis estiveram no litoral brasileiro antes de Cabral: Vicene Yañez e Diego de Lepe.

Independentemente de quem chegou primeiro em terras brasileiras, o fato é que a expedição de Cabral tornou-se a mais notória e também foi aquela que produziu o mais importante documento sobre o fato, a Carta de Pero Vaz de Caminha, cujo destinatário era o rei D. Manuel I. As informações são de Lucas Figueiredo. (Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810). Rio de Janeiro: Record, 2011 e SOUSA, Rainer Gonçalves. “Fatos controversos sobre o descobrimento do Brasil”.

Além destas informações, diversos estudiosos consideram Martín Alonso Pinzón o descobridor do Brasil por ter atingido o Cabo de Santo Agostinho no litoral de Pernambuco em 26 de janeiro de 1500, três meses antes da chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro. Trata-se da mais antiga viagem comprovada ao território brasileiro.

Pinzón foi ainda codescobridor da América em 1492 como capitão da caravela La Niña uma das três embarcações da primeira expedição de Cristóvão Colombo — sendo que os dois outros navios foram comandados pelo seu irmão mais velho Martín Alonso Pinzón (caravela La Pinta e por Juan de la Cosa (nau Santa Maria, capitânia do almirante Colombo).

Controle de informações, experiência com navegação e sigilo das rotas são alguns fatos importantes sobre a história do descobrimento do Brasil.