Psicanalista critica superexposição nas redes sociais e diz que felicidade está no cotidiano

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Psicanalista Contardo Calligaris, doutor em psicologia clínica

O italiano radicado no Brasil, Contardo Calligaris, um dos intelectuais mais influentes em atividade no nosso país, diz que a felicidade não se restringe as pessoas jovens e nem nos sorrisos fabricados para as redes sociais. Ela está no trajeto percorrido em qualquer fase da vida. Para tanto recomenda que a pessoa cuide mais de si e não se deixe enganar com as fantasias do cotidiano.

doutor em psicologia clínica pela Universidade de Provence e psicanalista, Contardo Calligaris, diz que pessoas da terceira idade, contrariamente ao que os adultos e os jovens imaginam, não são as mais infelizes. “Vivem melhor, porque são as pessoas que vivem com mais atenção a sua própria vida. No fundo é uma questão de atenção. Um dos problemas da insatisfação contemporânea é que somos extremamente desatentos”, afirma.

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Escritor e colunista Contardo Calligaris

O psicanalista e escritor recomenda valorizar mais o trajeto percorrido. Na visão de Calligaris é preciso praticar um olhar diferenciado diante do cotidiano. “Valorizar a vida da gente não significa, necessariamente, querer ter comportamentos e gestos heroicos que mereçam registros na televisão. Valorizar a vida é saber transformar a ida de cada dia à padaria da esquina, numa aventura de descoberta dos outros, do que acontece na rua, do cachorro com o qual você cruza”.

Em relação a felicidade fabricada pela superexposição nas redes sociais, o doutor diz: “As contas de facebook e de instagram são, de certa forma, a mesma coisa que uma fotografia com um falso sorriso. São fundadas na pretensão de mostrar aos outros uma esperança, de suscitar a inveja dos outros. Comportamentos que não aprovo”, diz Calligaris.

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Psicanalista Contardo Calligaris

O psicanalista compara  as redes sociais com a imagem da perfeição. “É o mundo da margarina”, diz. Para Calligaris, as pessoas nas mídias sociais têm uma enorme necessidade de demonstrar que são felizes. “Assim se mostram também como vencedores. Basta ver as fotos. É difícil ver alguém que não está sorrindo”.

O sentido da vida é a própria vida. Isso pode parecer uma total trivialidade, mas para a maioria das pessoas é um escândalo. Pouquíssimas pessoas conseguem viver pensando que o sentido da vida está na vida e, vou dizer mais, é a própria vida”, finaliza o doutor em psicologia clínica Contardo Calligaris.