Morre TT Catalão, o visionário e construtor da Cultura Viva

É com pesar que registro o falecimento do jornalista, músico e ativista cultural, Vanderlei dos Santos Catalão, o TT Catalão, aos 71 anos, ocorrido na madrugada de ontem vítima de uma hepatite fulminante e insuficiência renal.
O velório do jornalista e letrista acontece nesta sexta-feira às 10h no no Espaço Cultural da 508 Sul. O enterro está marcado para as 16h no cemitério Campo da Esperança, na Ala dos Pioneiros, a pedido do governador em exercício, Paco Britto. Uma grande perda para a cidade, pois sua trajetória se confunde com a história de Brasília e com a cultura brasileira.

Como gestor público inspirou e participou da vida cultural da cidade de forma intensa. Como pessoa cativava com seu sorriso e com sua postura respeitosa. Como jornalista deixa um legado de resistência e de amor a Brasília. Como poeta, um mestre que tinha a palavra certa para cada momento de Brasília e do Brasil.
No Governo do Distrito Federal, TT Catalão, assumiu a chefia de gabinete da Fundação Cultural na primeira gestão pós-ditadura. Entre 2007 e 2008, tornou-se o subsecretário de Políticas Culturais e teve papel fundamental na aprovação da Proposta de Emenda à Lei Orgânica do DF, que vinculou 0,3% da Receita Corrente Líquida do Distrito Federal para o FAC (Fundo de Apoio à Cultura).
No Governo Federal, TT Catalão, foi mentor da construção coletiva do Programa Cultura Viva, um dos projetos mais bem avaliados do ministério da Cultura durante o governo Lula. A sua morte foi lamentada por colegas, amigos e autoridades.
O governador em exercício, Paco Britto, em nota oficial, lamentou a morte do jornalista e poeta TT Catalão. “Um belo samba diz que poeta que morre é semente. Brasília chora e lamenta a morte de TT Catalão, poeta, músico, visionário, figura marcante na cultura de Brasília, que nos deixa mais pobres, embora suas palavras – às vezes de revolta, às vezes de esperança – continuem vicejando. TT Catalão foi também servidor público, ocupando vários cargos, deixando sua marca em projetos inovadores que incentivavam a produção e difusão cultural, tanto no DF quanto em nível nacional. Carioca, encontrou em Brasília a musa inspiradora de muitas de suas poesias; brasileiro, jamais perdeu a esperança de viver num país melhor; humano, buscou sempre o melhor nas pessoas. Mas o luto pelo poeta não sufoca a poesia. Como diz um de seus mais conhecidos poemas: “Ah/ esta solidão celular/ ter tantos ao meu alcance/ e não ter com quem falar”.
O ex-governador do Distrito Federal e ex-senador,Rodrigo Rollemberg, lamentou a morte do amigo e do carioca que estreou no Correio Braziliense em 1976. “TT Catalão chamava a atenção por sua sensibilidade, sua poesia, seu amor à cultura, a Brasília e ao Brasil. Era um desses seres iluminados, insubstituível. Perdi um amigo e uma pessoa a quem admirava muito”.
O ex-governador e Senador Cristovam Buarque, também lamentou a morte do poeta e jornalista que em 1993, criou e geriu o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, até 1997.“Brasilia perde um pedaço de sua inspiração poética, de nossa criatividade no uso do idioma e de nosso estoque em simpatia tolerante”.
Antes de vir para Brasília, para ser um dos instrumentistas da banda de rock Portal , TT Catalão morava no Rio de Janeiro e trabalhava na revista O Cruzeiro. Ao chegar aqui se encantou com a ‘grande comunidade tão sonhada por Oscar Niemeyer’. “Brasília não tinha uma fronteira, uma divisa muito delineada. Eram pessoas, em tribo mesmo, que experimentaram a cidade enquanto espaço público. Isso é uma coisa muito importante. Não ficava uma cidade tão sitiada nos seus guetos, nos seus ‘quadrados’, que isola. As pessoas tinham a sensação de viver uma cidade comum”, comentou, em abril de 2019 ao programa Natureza Viva, da Rádio EBC.
A cidade que buscava uma identidade serviu de inspiração ao poeta e músico. No Correio Braziliense dividiu a vida de jornalista com a de artista e logo se tornou referência local e nacional. Em 1978, coeditou e organizou suplementos e performances na Mostra do Horror Nacional, com José Mojica, Fernando Lemos, Ivan Cardoso, Elyseu Visconti e Júlio Bressane, em reação à censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Trabalhou como consultor de conteúdo para o programa Cultura Ponto a Ponto, abordando sobre a cultura popular brasileira. A exibição era realizada pela TVE-Rio e pela TV Cultura-SP e, depois, acrescido para o laboratório Cultura Viva de Cinema e Vídeo com os Pontos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
TT Catalão também participou do clássico filme Idade da Terra, de Glauber Rocha, lançado em 1980. Em 1987, criou a política de bolsas de estudos culturais e, dois anos depois, fundou e se tornou o primeiro presidente eleito do Conselho de Cultura do Distrito Federal.

De 2003 e 2006, participou do quadro Crônicas da Cidade, aos sábados, no DFTV, da TV Globo. TT Catalão também foi colaborador do primeiro blog do Noblat, do projeto Açougue Literário T-Bone, do BraXil, da Cultura Digital, e da Revista Raiz-SP, sobre cultura popular.
Brasília perde um grande cidadão e nós ganhamos inúmeros ensinamentos em palavras e atitudes. Destaco: “A vida se dá a quem se doa” , “A palavra é a célula que pulsa” e “O meio ambiente começa no meio da gente”, de TT Catalão. Vá com Deus, mestre TT Catalão!