Bombeiros do DF e heróis de quatro patas em sintonia pela vida
Os cães são considerados os melhores amigos do homem. São leais e parceiros de vida, e até de trabalho, como no caso dos cães bombeiros. Em tempos modernos com tecnologias avançadas, como imagens de satélites, GPS e até robôs, os cães ainda são fundamentais em caso de busca e salvamento de pessoas.

O Corpo de Bombeiros do Distrito Federal conta com esta parceira de trabalho há anos. Atualmente, nove cães ajudam os militares nas buscas por desaparecidos em matas e por vítimas em escombros causados por deslizamentos, desabamentos, terremotos e outros desastres. São cinco labradores, dois pastores belgas de malinois e dois pastores alemães.

O sargento Wilkerson Ferreira, que trabalha há 25 anos no Corpo de Bombeiros e há dez no canil, afirma que os cachorros cobrem uma área muito maior que os humanos. Segundo o sargento, um cão percorre 100 metros quadrados em cinco minutos. “A gente gastaria de três a quatro horas para fazer buscas nesse mesmo espaço”, conta.
Para ser um ‘bombeiro canino’, os animais passam por treinamentos dos quatro meses até um ano e meio de idade. O cão está formado aos dois anos e, normalmente, trabalha até os dez. O sargento Wilkerson Ferreira, Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), informa que a seleção é feita dentre o filhote mais ativo e brincalhão da ninhada.

Durante o treinamento, o cão passa por aulas de obediência básica, onde aprende a atender a comandos como “junto”, “fica”,“vai” e “volta”. Depois ele é submetido a um controle de alimentação durante o qual só pode comer quando o treinador ordena.
A última fase do treinamento é a socialização. Os cães são levados a locais com grande circulação de pessoas para se acostumarem com o movimento e o barulho. Nessa fase também são treinados para subir e descer escadas, levados para lugares altos e nadar no lago. “Os cães não podem ter medo de altura e devem latir sempre. É pelo latido que eles nos avisam que a vítima está ali”, diz Wilkerson.

Depois, os heróis caninos passam pelo treinamento específico de busca e salvamento. Os bombeiros que trabalham com os cães também precisam de treinamento especial. Eles devem fazer o curso de busca, resgate e salvamento com cães, que dura três meses e tem atividades de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Os militares do Corpo de Bombeiros, especializados em resgates com cães, praticam isso constantemente. Esta prática é usada para salvar um afogado em uma queda d’água, por exemplo.

O salvamento de afogados conta com a atuação dos bombeiros caninos do DF. As cerca de 220 milhões de células olfativas dos cães são capazes de reconhecer o cheiro de um cadáver até embaixo d’água. Um corpo submerso libera gases que sobem para a superfície em forma de bolhas. “O cachorro vai à embarcação e late quando sente o odor, sinalizando a localização da vítima para o mergulhador”, explica Wilkerson.
Os bombeiros caninos ajudaram a localizar, após três dias de busca, o corpo de um técnico em edificações morto, em 2017, no desabamento de um prédio em Vicente Pires. Em casos de desabamentos os cães são soltos sobre os escombros e, quando encontram a vítima, latem. Os militares marcam o local, retiram os cachorros e socorrem as vítimas. Para achar desaparecidos, eles buscam o cheiro que sentiram em um pedaço de roupa da pessoa.

Os cães também atuaram no resgate de vítimas nas chuvas na região serrana do Rio de Janeiro e na tragédia em Brumadinho (MG).Zeca, Thor, Nikki e Baco são os quatro heróis brasilienses que trabalharam na tragédia de Brumadinho e ajudaram a encontrar restos mortais no meio da lama tóxica. Os cães mostravam bravura ao entrar na lama para encontrar vítimas. Foram 15 dias de trabalho árduo, começando às 6h da manhã e parando só às 17h30, de domingo a domingo.

Zeca, o labrador que já tem dez anos, se aposentou depois da missão. Ele ainda vive no canil do GBS, mas já está de folga, à espera de um novo lar. Thor, também labrador, sai da ativa neste ano, e Kikki e Baco, pastores belga de malinois, ainda têm sete e cinco anos a serviço da corporação, respectivamente.
Os cachorros do Corpo de Bombeiros do DF já atuaram na localização dos restos mortais do acidente com o Voo 1907 da Gol, em 2006, considerado um dos piores desastres aéreos da história do Brasil. O Boeing da Gol colidiu em um jato Legacy no ar e caiu, na região de Peixoto de Azevedo, a 692 km ao norte de Cuiabá (MT). As 154 pessoas que estavam a bordo, entre tripulantes e passageiros, morreram na queda.“Eles ajudaram a encontrar os últimos restos mortais. Os bombeiros não achavam de jeito nenhum porque eles estavam embaixo da asa e da turbina”, conta o sargento.

Fotos: Acácio Pinheiro/Agência Brasília