Brasília 60 Anos: Amor e Esperança além do Concreto

A inauguração de Brasília, segundo dados do Arquivo Nacional, do historiador Adirson Vasconcelos e do escritor Ronaldo Costa Couto, começou no dia 20 de Abril quando JK chegou ao Aeroporto de Brasília no horário do almoço, após uma manhã de despedidas no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. A recepção da família Kubitschek foi calorosa pela multidão que aguardava no pátio das aeronaves. Mas era só o começo de muitos agradecimentos. Foram três dias de festa.
Operários que construíram a nova capital receberam o presidente Juscelino Kubitschek, na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto. O engenheiro Israel Pinheiro, presidente da Novacap,empresa que construiu Brasília, entregou a chave simbólica da Cidade ao presidente JK, por volta das dezesseis horas.
“Chegamos hoje, realmente, ao ponto alto da nossa obra. Criando-a, oferecemos ao mundo uma prova do muito que somos capazes de realizar e a nós próprios nos damos uma extraordinária demonstração de energia, e mais conscientes nos tornamos das nossas possibilidades de ação”, disse emocionado JK.

Á noite, a Praça dos Três Poderes foi palco de uma missa a céu aberto, celebrada pelo Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, de São Paulo com músicas sacras executadas pelo coral renascentista de Belo Horizonte e pela orquestra da Câmara de São Paulo que executou o hino nacional. Na primeira fila, estavam JK, dona Sarah, sua mãe dona Júlia e as filhas Márcia e Maristela, e também o vice-presidente João Goulart e sua família.

“Brasília vai ser o formidável impulso unificador e civilizador do Brasil”, disse o cardeal Cereijeira. Ele abençoou a cidade. Em seguida, teve uma benção do papa João XXIII diretamente de Roma, por intermédio da Rádio Vaticano.
Dona Júlia, ao ver o filho emocionado, disse à nora Sarah: “Só o Nonô mesmo seria capaz de fazer tudo isso”. “Deus me deu forças para que nesses três anos e dez meses conseguíssemos tirar do papel o plano da capital”, disse emocionado o presidente JK, aos jornalistas.

Assim nasceu Brasília para o amanhã, em 21 de Abril de 1960, uma quinta-feira chuvosa no Planalto Central.O presidente Juscelino Kubitscheck hasteou a bandeira do Brasil ao som do hino. “Cabe-me a honra de içar, neste momento, a Bandeira Nacional. Faço-o com emoção que dificilmente poderia exprimir”, disse o presidente.
Às 9h30, uma cerimônia oficial no Supremo Tribunal Federal (STF) marcou oficialmente a inauguração da nova capital. Em seguida, instala-se a Arquidiocese de Brasília, no lugar onde será construída a principal catedral da cidade. Por volta das 11h30, JK se dirigiu ao Congresso Nacional para a sessão solene.

Aviões da esquadrilha da fumaça, fizeram um show de acrobacias no céu, militares da Escola Naval, da Academia Militar das Agulhas Negras e do Batalhão da Guarda Presidencial e os operários, engenheiros e técnicos, desfilaram orgulhosos em cima de seus caminhões.
O presidente Juscelino Kubitschek escreveu naquele dia um capítulo marcante na história do Brasil. Brasília, que no início era vista como uma utopia, se concretizava diante de 150 mil pessoas. O seu discurso de posse traduz a sua determinação, coragem, fé nas pessoas e a grandiosidade do seu coração.
“Não me é possível traduzir em palavras o que sinto e o que penso nesta hora, a mais importante de minha vida de homem público. A magnitude desta solenidade há de contrastar por certo com o tom simples de que se reveste a minha oração.
Dirigindo-me a todos os meus concidadãos, de todas as condições sociais, de todos os graus de cultura, que, dos mais longínquos rincões da Pátria, voltais os olhos para a mais nova das cidades que o Governo vos entrega, quero deixar que apenas fale o coração do Vosso Presidente.
Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante esta profusa radiação de luz que ou estais pisando as suas ruas, contemplando os seus belos edifícios, respirando o seu ar, sentindo o sangue da vida em suas artérias.
Somente me abalancei a construí-la quando de mim se apoderou a convicção de sua exequibilidade por um povo amadurecido para ocupar e valorizar plenamente no território que a Providência Divina lhe reservara.
Viramos no dia de hoje uma página da História do Brasil. Prestigiado, desde o primeiro instante, pelas duas Câmaras do Congresso Nacional e amparado pela opinião pública, através de incontável número de manifestações de apoio, sinceras e autenticamente patrióticas, dos brasileiros de todas as camadas sociais que me acolhiam nos pontos mais diversos do território nacional, damos por cumprido o nosso dever mais ousado; o mais dramático dever.
No País inteiro sentimos raiar a grande esperança, a companheira constante em toda esta viagem que hoje concluímos; ela amparou-nos a todos, a mim e a essa esplêndida legião que vai desde Israel Pinheiro, cujo nome estará perenemente ligado a este cometimento, até ao mais ignorado desses trabalhadores infatigáveis que tornaram possível o milagre de Brasília.
Em todos os instantes nas decepções e nos entusiasmos, levantando o nosso ânimo e multiplicando as nossas forças, mais de que qualquer outro amparo ou guia, foi a Esperança valimento nosso. Olhai agora para a Capital da Esperança do Brasil. Ela foi fundada, esta cidade, porque sabíamos estar forjada em nós a resolução de não mais conter o Brasil civilizado numa fímbria ao longo do oceano, de não mais vivermos esquecidos da existência de todo um mundo deserto, a reclamar posse e conquista.
Esta cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros; já elevou o prestígio nacional em todos os continentes; já vem sendo apontada como demonstração pujante da nossa vontade de progresso, como índice do alto grau de nossa civilização; já a envolve a certeza de uma época de maior dinamismo, de maior dedicação ao trabalho e à Pátria, despertada, enfim, para o seu irresistível destino de criação e de força construtiva.
Deste Planalto Central, Brasília estende aos quatro ventos as estradas da definitiva integração nacional: Belém, Fortaleza, Porto Alegre, dentro em breve o Acre. E por onde passam as rodovias vão nascendo os povoados, vão ressuscitando as cidades mortas, vai circulando, vigorosa, a seiva do crescimento nacional.
Brasileiros! Daqui, do centro da Pátria, levo o meu pensamento a vossos lares e vos dirijo a minha saudação. Explicai a vossos filhos o que está sendo feito agora. É sobretudo para eles que se ergue esta cidade síntese, prenúncio de uma revolução fecunda em prosperidade. Eles é que nos hão de julgar amanhã.
Neste dia – 21 de abril – consagrado ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ao centésimo trigésimo oitavo ano da Independência e septuagésimo primeiro da República, declaro, sob a proteção de Deus, inaugurada a cidade de Brasília, Capital dos Estados Unidos do Brasil”.
A inauguração de Brasília marcava o início da interiorização, do olhar do governo federal para além do litoral. O início do marco democrático foi saudado com um show de fogos de artifício que iluminou o céu do Planalto Central e os corações das pessoas.
O presidente JK e dona Sarah encerraram com chave de ouro a inauguração da nova Capital do Brasil com uma elegante recepção no Palácio do Planalto. Depois do Baile de Gala, o presidente Juscelino Kubitschek desceu a rampa do palácio e foi festejar com o povo até raiar o novo dia.

