Aumenta casos de intoxicação por produtos de limpeza

Os esforços de higienização e desinfecção para evitar a disseminação do novo coronavírus, tem aumentado o uso dos produtos saneantes que contêm substâncias tóxicas como a água sanitária, sabão e álcool.
Todos nós ao chegarmos do supermercado esterilizamos todas as compras, embalagens, sacolas, mãos e até o chão. Não está fácil essa rotina de limpeza e desinfecção que virou nossos dias nesta pandemia. O cuidado é importante, mas o excesso de uso de produtos como água sanitária, álcool em gel e sabão é perigoso.
Em função disso a Anvisa divulgou a Nota Técnica (NT) 11/2020, alertando sobre o crescimento dos casos de intoxicação por produtos de limpeza com o objetivo de reduzir os riscos à saúde pelo aumento desta exposição tóxica.
O texto foi elaborado com base nos dados dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica. Para se ter uma ideia do crescimento dos casos de intoxicação, de janeiro a abril deste ano os CIATox receberam 1.540 registros de intoxicação devido a produtos de limpeza envolvendo adultos, um aumento equivalente a 23,3%, comparado ao mesmo período de 2019. No que se refere às crianças, foram registrados 1.940 casos, um aumento de 6,01% e de 2,7%, em relação a 2019.
Os números mostram que os acidentes domésticos envolvendo exposição tóxica a substâncias químicas são mais frequentes com o público infantil e, portanto, há necessidade de dispensar mais cuidados às crianças.
Com o temor de infecção pelo novo coronavírus, causador da Covid-19, ou da chance de o vírus entrar em casa, as pessoas podem estar usando produtos de limpeza, como água sanitária, ou misturas de forma errada para desinfecção, o que está ocasionando problemas de saúde, sem matar o patógeno.
O alerta é da engenheira química Maria de Fátima Nascimento de Sousa, professora do Departamento de Química da Universidade Estadual da Paraíba. Segundo a professora, a água sanitária pura não destrói o novo coronavírus. “O que o destrói é uma substância chamada ‘ácido hipocloroso’, após diluição da água sanitária com água”.
O HCLO é o agente mais ativo na desinfecção, usado no tratamento de água potável e como produto de limpeza.O alto fator pH da água sanitária afeta o funcionamento das proteínas e enzimas que eles usam para sobreviver.
Solução 1: concentração de 0,1%
Em um recipiente de 1 litro, coloque mais da metade de água potável; 50 ml de água sanitária (um copinho de cafezinho); Complete o volume com água até 1 litro; Agite e está pronto para uso. Essa solução estará a uma concentração de 0,1%, indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater o novo coronavírus.
A professora do Departamento de Química da Universidade Estadual da Paraíba recomenda que se manipule a mistura com luvas de borracha porque água sanitária pode afetar a pele de quem é sensível ao produto ou tem reação alérgica.

A solução é ideal para desinfectar áreas abertas, pisos, sanitários, solas de sapato, torneiras etc. Para que o produto aja, é necessário passar um pano umedecido com a solução em tudo o que vem de fora de casa e deixar agir por 15 a 20 segundos.Este procedimento impede o coronavírus de entrar em casa.
A mistura tem que ser mantida fechada, protegida da luz, do sol, dentro de um armário e fora do alcance de crianças. “O ácido hipocloroso não evapora dentro da embalagem escura e fechada”, diz a engenheira química.
Diluição 2: concentração de 0,05%, indicada pela OMS
Em um recipiente de 1 litro, coloque mais da metade de água potável; 25 ml de água sanitária (meio copinho de cafezinho); Complete o volume com água até 1 litro e agite bem.
Para higienizar as mãos, caso haja indisponibilidade de álcool em gel ou de água e sabão, essa diluição pode ser usada, mas em uma frequência menor. Ela pode servir também para limpar mesas, chaves, maçanetas, sacolas de supermercado, embalagens de produtos.
Para higienizar máscaras, depois que elas forem lavadas com água e sabão, é importante deixar de molho na solução ‘2’ de hipoclorito de sódio por 15 a 20 segundos.
A água sanitária não deve ser misturada com outros produtos, porque isso pode fazer com que a substância libere vapores tóxicos. Um exemplo é a cloramina —resultado que pode vir da mistura do hipoclorito de sódio com a amônia (NH3) presente em alguns produtos de limpeza ou, ainda, outros compostos que tenham nitrogênio.
“Nunca devem ser misturados porque resulta na formação do ácido muriático e clorofórmio, prejudiciais aos olhos, pele, sistema nervoso, pulmões e até rins e fígado. O clorofórmio pode levar à perda da consciência, a enjoo e até mesmo à morte”, alerta a engenheira química.
Com base nas informações da Organização Mundial da Saúde, a água com sabão e álcool 70% e álcool em gel, ajudam muito na prevenção ao coronavírus.
O sabão possui uma função emulsificante, que ajuda a unir água e gorduras, e também permite a remoção mecânica tanto da sujeira quanto de micro-organismos. Isso quer dizer que ele é capaz de unir moléculas que normalmente não ficariam unidas, agindo como ponte para que elas sejam carregadas pela água. Em tempos de pandemia, o objetivo é tirar o máximo desses micróbios (vírus, bactérias, fungos e protozoários, por exemplo) de circulação.
O álcool também dissolve os lipídios (gordura) que envolvem vírus e bactérias e também mexe com as proteínas dos germes, gerando um efeito parecido ao de uma coagulação. A diferença é que, normalmente, a gente não enxágua após o uso, então não há a remoção mecânica da sujeira. “No caso do álcool com concentração próxima aos 70% [a do álcool gel], o vírus leva entre 30 segundos e um minuto para ser inutilizado. No caso da limpeza das mãos, é o tempo suficiente para passar o produto e esperar evaporar”.
Regras para não se expor desnecessariamente durante à higienização e à desinfecção:
- Leia e siga as instruções descritas no rótulo de cada produto;
- Garanta a ventilação quando for manusear um dos produtos destinados à limpeza, higienização e desinfecção;
- Evite o armazenamento desses produtos em recipientes diferentes e não etiquetados;
- Não deixe detergentes e produtos de limpeza em geral embaixo da pia ou no chão dos banheiros;
- Mantenha os produtos de limpeza fora do alcance de crianças e animais. Esses produtos podem atrair a atenção principalmente de crianças pequenas, entre 1 e 5 anos de idade;
- Supervisione as crianças, não permitindo que elas acessem os ambientes onde esses produtos são guardados;
- Use luvas antes de utilizar qualquer produto;
- Evite a mistura de produtos químicos;
- Inutilize as embalagens vazias. Isso porque elas sempre ficam com resíduos, ou seja, restos dos produtos. Jogue fora as embalagens vazias, preferencialmente valendo-se do sistema de coleta seletiva, de modo a separá-las do lixo orgânico;
- Em caso de emergências toxicológicas, não provoque vômito. Tenha em mãos o número do Centro de Informação e Assistência Toxicológica, o CIATox: 0800-722-6001.