Candango: o desbravador do Planalto Central

Vindos de todas as partes do Brasil trazendo na bagagem sonhos e esperanças chegavam ao local da futura capital do país em 1957 os primeiros trabalhadores: uma massa humana de diferentes origens e características sociais que, saiam da terra natal mesmo sem garantia de conforto ou de bem-estar, para tirar do papel o sonho da nova capital.

Eles se depararam com o chão agreste, poeira, árvores retorcidas e muito ermo. Também viram um horizonte sem-fim ao longo de 360 graus, um céu muito azul com nuvens brancas que anunciam paz e encantaram-se com a perspectiva de progresso.


O cotidiano dos operários contratados pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), era duro. Trabalhavam das 6 horas da manhã até o meio-dia, faziam um intervalo de uma hora e depois encaravam novo turno até as 18 horas. Em alguns casos, trabalhavam 14, 15, 16 horas por dia. O salário era pago por horas trabalhadas, e, para aumentar seus rendimentos, muitos faziam serão.
Segundo o historiador Adirson Vasconcelos, os 256 primeiros migrantes procediam, na maioria, do Norte e do Nordeste do país. Eram os primeiros “candangos”, como ficaram conhecidos aqueles trabalhadores pioneiros, que vinham atraídos pela possibilidade de um novo começo e novas oportunidades. Muitos viajaram em carroceria de caminhões por 45 dias em estradas precárias, de terra batida, até o local demarcado para a construção de Brasília, onde só havia mato e poeira.

Todo o sacrifício resultou na Capital da Esperança e de um dia dedicado a eles. Neste 12 de Setembro, aniversário do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, o Distrito Federal comemora, pela primeira vez, o Dia do Candango, por iniciativa do deputado distrital Fernando Fernandes.

O deputado diz que a data é em homenagem a JK, o primeiro candango.”Meu pai, assim como outros tantos nordestinos, que vieram trabalhar na construção de Brasília, sempre reclamavam da falta de uma homenagem para aqueles que colocaram a mão na massa”, diz o deputado distrital. Em 16 de julho, o governador Ibaneis Rocha, sancionou a lei que estabelece o Dia do Candango em 12 de Setembro.

Nacionalmente os candangos são homenageados na Praça dos Três Poderes com a escultura Os Guerreiros, feita em 1959, pelo artista Bruno Giorgi. A bela obra em bronze é conhecida como “Os Candangos”, um símbolo de força, coragem, determinação e resiliência.


O historiador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de mais de 60 livros sobre Brasília, Adirson Vasconcelos, relata que o termo “candango” surgiu em um restaurante, na região que, hoje, é a Candangolândia.“Existia esse restaurante, no tempo da construção [de Brasília], que foi erguido para atender a demanda de chegada de operários. Um dos diretores, o Manoel Brandão, esteve na África e conheceu a tribo dos candangos. Quando voltou, em 1957, notou a semelhança deles com os trabalhadores e decidiu chamá-los dessa forma, para valorizá-los”, explicou.

De acordo com o historiador, os candangos também são considerados pioneiros – pessoas que chegaram à capital, antes ou pouco tempo depois da inauguração. “O primeiro termo é atribuído ao homem da obra, o trabalhador braçal. Todos moravam em galpões de madeira, montados em acampamentos espalhados em diversos pontos”.


Segundo o advogado e historiador Adirson, o presidente JK tinha uma relação direta com os operários. “As visitar as obras o presidente dizia para os trabalhadores que contava com eles para que a capital fosse inaugurada até 1960”.

Os desbravadores de Brasília são reverenciados por todas as gerações. A saga é contada em livros, pode ser conferida no Arquivo Público de Brasília, em museus, no Memorial JK e na Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília, presidida por Jorge Sarkis, filho do candango José Paulo Sarkis, 89,um dos trabalhadores que ajudaram na construção da nova capital.
Quando a Novacap começou o loteamento e a instalação da nova cidade, no final de 1956, abriu três largas avenidas e algumas ruas transversais, que inicialmente abrigaram 500 casas na região da chamada Candangolândia. As construções eram todas de madeira, e o plano inicial era derrubá-las assim que a nova capital fosse inaugurada. A Cidade Livre, porém, cresceu tanto que, após a inauguração do Plano Piloto, tornou-se uma cidade-satélite: o Núcleo Bandeirante, que ganhou esse nome depois que o presidente Juscelino Kubitschek viu diversos operários chegando à região trajando calça de brim e os chamou de “bandeirantes modernos”.
Nesta noite, a fachada do Anexo I da Câmara dos Deputados recebe, projeções de fotos, memórias e holograma em homenagem ao 118º aniversário de nascimento de Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil de 1956 a 1961 e foi o responsável pela construção da nova capital, Brasília, dentro da ideia de promover o desenvolvimento do interior do País.
A projeção foi solicitada pela Secretaria de Turismo do DF e poderá ser vista das 18 horas de sábado até as 4 horas de domingo.
Fotos: Arquivo Público do Distrito federal