Ruth Bader Ginsburg, juiza que moldou destinos, morre aos 87 anos na ativa

A advogada Ruth Bader Ginsburg, que foi indicada para integrar a magistratura da mais alta Corte americana pelo presidente Bill Clinton em 10 de agosto de 1993, faleceu nesta sexta-feira aos 87 anos, depois de servir por 27 anos a mais importante Corte daquele país.

Segundo uma nota de pesar, ela faleceu ao lado da família em sua casa na capital dos EUA, Washington DC. Desde o início deste ano, Ginsburg passava por quimioterapia para tratar da recorrência do câncer. Nos EUA, os 9 juízes da Suprema Corte são nomeados de forma vitalícia, ou seja, ficam no cargo até o fim da vida.
A juíza Ruth não se tornou famosa por ter sido a primeira mulher a integrar a Suprema Corte, mas por ter sido a melhor. Ela se tornou símbolo da luta pelos direitos civis e defensora ferrenha da igualdade de oportunidades das mulheres. Ela dizia: “não peço favores para o meu sexo, mas peço que tirem os pés de nosso pescoços”. Ginsburg foi a responsável pela admissão de mulheres, em 1996, no Instituto Militar da Virgínia.

O caso Estados Unidos versus Virginia, que anulou a política de admissão apenas de homens ao Instituto Militar da Virgínia, foi um dos mais importantes. Ao explicar sua decisão, Ginsburg argumentou que nenhuma lei ou política deveria negar às mulheres “plena cidadania, a mesma oportunidade de aspirar, alcançar, participar e contribuir com a sociedade em função de seus talentos e habilidades individuais”.
A voz mais dissonante da Suprema Corte dos Estados Unidos se cala, mas suas lições de sabedoria e seu legado permanecerão vivos. “Ao seguir o seu caminho na vida, deixe rastros. Assim como os outros têm sido meios para você, ajude aqueles que seguirão em seu caminho. Faça sua parte para ajudar a levar a sociedade ao lugar que você gostaria que resultasse na saúde e bem-estar das gerações futuras à sua”, ministra Ruth Bader Ginsburg.

O falecimento da respeitada integrante da Suprema Corte dos EUA teve repercussão no Brasil. Em nota o presidente do STF, munistro Luiz Fux, afirmou que “recebe com pesar” a notícia da morte de Gisnburg. “Sua atuação na defesa da igualdade de gênero, das minorias e do meio ambiente está entre as marcas de sua trajetória seja na advocacia, seja na magistratura da mais alta Corte do Estados Unidos da América.”
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, lamentou a morte da ministra da Suprema Corte americana Ruth Bader Ginsburg em seu Twitter: “Ruth Ginsburg marcou época como advogada e como juíza. A história é um processo social coletivo. Mas há pessoas que fazem toda a diferença”.
O ministro Celso de Mello, decano do STF disse: “ Grandes magistrados como Ruth Ginsburg, nunca morrem pois permanecem na consciência e no coração dos cidadãos a quem serviram com o exemplo de sua integridade pessoal e de sua atuação independente, protegendo minorias e iluminando para sempre a vida das presentes e futuras gerações com a grandeza de seu legado que moldou destinos”.

Algumas das citações mais memoráveis de ginsburg, ícone da luta pelos direitos das mulheres.
“Eu rezo para que eu possa ser tudo o que [minha mãe] teria sido se tivesse vivido em uma época em que as mulheres poderiam aspirar e alcançar e as filhas fossem estimadas tanto quanto os filhos”.
“Lute pelas coisas de que gosta, mas faça isso de uma forma que leve outras pessoas a se juntarem a você”.
“Ler é uma chave que abre portas para muitas coisas boas na vida. Ler moldou meus sonhos, e mais leitura me ajudou a torná-los realidade”.
“[Eu gostaria de ser lembrada como] alguém que usou todo o talento que tinha para fazer seu trabalho da melhor maneira possível. E para ajudar a reparar as divisões em sua sociedade e tornar as coisas um pouco melhores por meio do uso de qualquer habilidade que ela tivesse”.

RGB, como ficou popularmente conhecida, se tornou uma referência para liberais americanos e sua história foi retratada em livros e filmes e sua imagem aparece em bolsas,camisetas e até xícaras de café. Em festas de Halloween, crianças e adultos se vestem como a juíza.
A mulher de um metro e meio de altura, magra, tímida, crescia na coragem e se tornou gigante na história. A trajetória não foi fácil, mas de mansinho mudou as mentes como advogada, professora universitária, juíza e ministra.
Em 1956, ela se tornou uma das nove mulheres matriculadas na Faculdade de Direito de Harvard — onde, em um episódio que depois ficaria famoso, o reitor provocou as estudantes pedindo que justificassem o fato de terem “tomado o lugar” que seria dos homens na instituição.

Mais tarde, Ginsburg transferiu o curso para a Escola de Direito de Columbia, em Nova York, e virou a primeira mulher a trabalhar nas publicações jurídicas de ambas faculdades. Formou-se em Direito e, apesar de ter sido a melhor da classe, teve que lutar para conseguir emprego por ser judia, mulher e mãe.
Ela acabou virando professora na Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, em 1963, onde ministrou algumas das primeiras aulas de mulheres e Direito, e foi cofundadora do projeto de direitos das mulheres na União Americana pelas Liberdades Civis.