Chove em Brasília depois de 119 dias de estiagem e cheiro da terra desperta atenção

Os brasilienses comemoram neste 21 de setembro, Dia da Árvore, a volta da chuva depois de quatro meses. Foram 119 dias de estiagem, baixa umidade do ar, calor intenso e consequentes problemas de saúde. Em algumas regiões do DF o dia virou noite e as luzes deram boas vidas as preciosas gotas de água que caíam do céu.
A sensação de alívio pelo período de estiagem deve se manter na terça-feira (22/9), quando a umidade relativa do ar ficará entre 35% e 90%. A temperatura deve variar entre 17°C e 28°C. A previsão, de acordo com o Inmet, é de “muitas nuvens, com pancadas de chuva e trovoadas isoladas”.

Segundo o Inmet a expectativa é de que precipitação dure, ao menos, até quinta-feira (24/9). “É possível que fique seco novamente no fim de semana. Aparentemente, ainda não é o início do período chuvoso. Mas o padrão de tempo muito seco começa a querer mudar”, diz a meteorologista Naiane Araújo.

Foi muito bom sentir novamente o “cheiro de terra molhada”. Mais porque esse odor nos faz bem. Segundo estudiosos, quando ocorre precipitação depois de muitos dias sem chover, o ambiente que nos rodeia emana um agradável aroma que associamos ao “cheiro a terra molhada”.
Este cheiro nos faz recordar nossa infância quando nossos pais e avós nos ensinaram que a chuva é sinônimo de vida e sobrevivência. A fragrância tem destaque quando a primeira chuva de uma estação molha o solo seco.

O odor da terra molhada instigou a curiosidade de estudiosos. O aroma tão característico depois de chover pode ser provocado por bactérias, segundo artigo publicado na Nature Microbiology por equipe internacional de pesquisadores.
Esse cheiro específico foi nomeado petrichor por dois pesquisadores australianos depois de um estudo da década de 1960. Em 1964, os geólogos australianos, Isabel Joy Bear e R. G. Thomas, criaram o termo preticor, pretichor em inglês, que apareceu pela primeira vez na revista Nature (993/2). O termo petricor, tem a sua origem nas palavras gregas πέτρα pétra “pedra” e ἰχώρ icór “icor”, que significa sangue dos deuses homéricos, pois segundo a mitologia grega o icor é a essência que percorre as veias dos deuses, em vez de sangue.
Segundo alguns cientistas, o nosso gosto pelo “cheiro a terra molhada” ou petricor, é uma herança dos nossos antepassados, visto que para eles estabeleceram uma forte conexão ou vínculo positivo com o dito aroma, o qual lhes indicava o final da perigosa época de seca e a chegada da ansiada e esperada chuva. Também se pôde observar através de vários estudos, que o cheiro da geosmina é capaz de guiar alguns animais (camelos) no momento de encontrar água em áreas desérticas e é utilizada por algumas plantas para obter uma maior polinização (Amazonas).

A pesquisa publicada na Nature Microbiology sugeriu que esse pode ser um exemplo de comunicação química de mais de 500 milhões de anos, que evoluiu para ajudar um tipo de bactéria a se disseminar. Essa bactéria libera compostos responsáveis pelo odor na tentativa de atrair um artrópode específico como forma de espalhar seus esporos.
O composto orgânico geosmina é um dos principais compostos do petrichor e, há algum tempo, cientistas sabem que o gênero de bactérias Streptomyces produz geosmina. A princípio, todas as espécies de Streptomyces liberam esse composto quando morrem. Mas até o momento não se sabe exatamente porque ela produz esse aroma característico.

Quando as gotas da chuva atingem superfícies porosas, elas interceptam minúsculos “bolsões de ar”, que acabam subindo para a atmosfera – igual acontece com as bolhas de um copo de champanhe, por exemplo. Ao estourarem, essas bolhas liberam o característico “cheiro de chuva”.
Mark Buttner, um dos autores da pesquisa, diz que o fato de todas produzirem geosmina sugere que esteja relacionada a uma vantagem seletiva. Por isso, a equipe suspeita que sirva como um sinal. A alternativa mais óbvia é que se destine a algum animal ou inseto que possa ajudar na disseminação dos esporos.
Depois de realizar experimentos em laboratório e de campo, os pesquisadores identificaram que a geosmina atrai um tipo específico de organismo. Ao estudar as antenas do artrópode Calêmbolo, os cientistas descobriram que ele pode detectar e ser atraído pela geosmina e 2-metilisoborneol (MIB), liberados pela bactéria.

Os pesquisadores estimam que os dois organismos tenham evoluído juntos. Por um lado as bactérias servem de alimento ao artrópode e este espalha os esporos da Streptomyces ajudando a gerar novas colônias. Assim, a produção de geosmina e 2-MIB fazem parte do processo de esporulação completando o ciclo de vida da Streptomyces ao facilitar a dispersão dos esporos pelos artrópodes.
Essa relação é essencial para a sobrevivência dessas bactérias. Porque a Streptomyces produz compostos antibióticos que as tornam tóxicas para moscas-das-frutas e nematoides. Por outro lado, o calêmbolo produz enzimas que podem desintoxicar desses antibióticos.
Assim, uma relação entre bactéria e artrópode, de quase 500 mil anos, pode explica a fragrância característica que sentimos após a chuva. [New Atlas, Nature Microbiology]