Hospital da Criança realiza transplante de medula óssea com doador

Imagina o coração de uma mãe ao receber o diagnóstico de que seu filho de 9 meses precisa urgente de um transplante porque está com imunodeficiência combinada grave. Isso aconteceu em julho deste ano, aqui no Distrito Federal com uma moradora de Santa Maria.
Devido ao alto índice de mortalidade da doença, e por não ter ainda credenciamento para a realização de transplante com doador, o Hospital da Criança de Brasília José Alencar solicitou ao Ministério da Saúde autorização para realizar o transplante alogênico de medula óssea, ou seja, com doador. A doadora foi sua irmã de 16 anos que foi autorizada pelos pais, por ser menor de 18 anos, a se submeter à operação.

Segundo a imunologista Cláudia Valente, a Imunodeficiência Combinada Grave, resulta em baixos níveis de anticorpos (imunoglobulinas) e um número baixo ou ausente de células T (linfócitos). Ou seja, o portador desta doença fica sensível a infecções causadas por vírus, bactérias ou fungos. Caso o diagnóstico e o tratamento não sejam feitos precocemente, a expectativa é que o paciente não passe dos primeiros anos de vida.
A imunologista diz que o tratamento indicado é o transplante alogênico de medula óssea. De maneira extraordinária, o Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) realizou com sucesso o procedimento no bebê João Miguel. Ana Clara Pereira salvou a vida do irmão de 9 meses para a alegria da mãe Franciele Pereira.

O procedimento de João Miguel foi o primeiro transplante alogênico de medula óssea realizado no Hospital da Criança. O HCB já havia feito 17 transplantes autólogos (com células da própria criança). Como João Miguel não podia ser transferido para outra unidade de saúde, o HCB recebeu a autorização excepcional para fazer o transplante alogênico.
A diretora técnica do HCB, Isis Magalhães, considera que a operação foi um sucesso e fica feliz por poder fazer parte da história do menino João Miguel.“É gratificante ver a recuperação dele e saber que, assim como o João, outras crianças ganharam novas vidas graças ao hospital”.


A médica Isis destaca a importância de Ana Clara ter aceitado ser doadora de medula para o irmão. “Facilitou muito nosso trabalho, pois não precisamos buscar e aguardar um doador compatível. Ela foi essencial para o sucesso da operação”, diz a diretora técnica do HCB, Isis Magalhães.
A doadora foi submetida a um procedimento feito no centro cirúrgico, sob anestesia, e teve duração de aproximadamente duas horas. Foram realizadas múltiplas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia e foi aspirada a medula. A retirada não causa qualquer comprometimento à saúde. Em poucas semanas a medula estará perfeitamente recuperada.

Depois do procedimento, realizado dia 8 de julho, o menino precisou de algumas sessões de hemodiálise e se recuperou bem e em casa.
Agora voltou ao HCB para fechar a traqueostomia e vai seguir em acompanhamento ambulatorial. O procedimento foi revelado só agora pela unidade de saúde. A irmã Ana Clara Pereira, 16 anos, fala da emoção de salvar a vida de João. “Eu tenho bastante medo de agulha, mas pelo irmão da gente a gente faz tudo. Os profissionais me ajudaram e eu senti um pouco de dor depois, mas tudo deu certo e ele está bem”, diz Ana Clara.
“Ele está se reabilitando: não ria mais, e agora, já voltou a rir; já come um pouco, está chorando menos e dorme durante a noite toda, só acorda para mamar. O choro que ele tem é o de reclamação, normal de uma criança: por dor, ele não chora mais”, afirma a mãe, Franciele Pereira.

Renilson Rehem, superintendente executivo do Hospital da Criança de Brasília, comemorou o sucesso do transplante. “Deu tudo certo e ele já teve alta. Estamos realizados por termos conseguido oferecer o melhor para o bebê João Miguel. Principalmente porque era um caso grave e em plena pandemia. Estamos todos felizes com essa vitória!”
Brasília tem que comemorar a excelência do Hospital da Criança de Brasília e a dedicação em salvar a vida de crianças e adolescentes. A unidade de saúde foi responsável por procedimentos inéditos como a separação das gêmeas siamesas (Lis e Mel) e as três cirurgias de extrofia de bexiga.

Segundo a Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, a medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que preenche a cavidade interna de vários ossos, conhecida popularmente como “tutano” e fabrica os elementos figurados do sangue periférico como: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas.
As hemácias transportam o oxigênio dos pulmões para as células de todo o nosso organismo e o gás carbônico das células para os pulmões, a fim de ser expirado. Os leucócitos nos defendem das infecções. As plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue.

O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue, como as leucemias e os linfomas e consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais de medula óssea, com o objetivo de reconstituição de uma medula saudável. O transplante pode ser autogênico, quando a medula vem do próprio paciente. No transplante alogênico a medula vem de um doador. O transplante também pode ser feito a partir de células precursoras de medula óssea, obtidas do sangue circulante de um doador ou do sangue de cordão umbilical.

Segundo o Ministério da Saúde, para ser doador de medula óssea é necessário fazer a inscrição no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) e preencher os requisitos exigidos:
- Ter entre 18 e 55 anos de idade
- Estar em bom estado geral de saúde
- Não ter doença infecciosa ou incapacitante
- Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico
- O cadastro fica ativo no sistema até o doador completar 55 anos de idade e pode ser feito pelo site: redome.inca.gov.br
Fotos: Secretaria de Saúde e Ed Alves /CB/D.A Press