Indígenas de Palimiú denunciam novas investidas de garimpeiros

A comunidade Palimiú, localizada dentro do território Yanomami em Roraima, tem sido alvo de ataque de garimpeiros com armas fogo. De acordo com informações da Associação Yanomami Hutukara desde o dia 10 deste mês, os indígenas estão sob tensão. A situação tem sido relatada por lideranças indígenas ao poder público por meio de ofícios.
No dia 19, garimpeiros teriam tentado invadir a comunidade de Palimiú, na Terra Indígena Yanomami em Roraima, durante a noite, segundo informação divulgada, na quinta-feira (20), pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-YY).
A entidade enviou um ofício às autoridades pedindo que atuem com urgência para impedir a continuidade da violência na região.No ofício, o conselho distrital informa que o ataque teria acontecido por volta de 22h de quarta-feira. Os indígenas de Palimiú relataram que os garimpeiros teriam chegado em 12 barcos e tentado invadir a comunidade. No entanto, os invasores teriam voltado para seus barcos após perceberem a presença de indígenas que estavam no entorno fazendo a vigia.

“Diante de todos esses danos potenciais e previsíveis, que acabaram por se confirmar com o passar do tempo, e diante da inércia da União, de seus órgãos e autarquias, solicitamos que seja ajuizada alguma ação, uma vez que a situação se agravou”, diz o ofício. Segundo o Condisi-YY, há risco de massacre dos indígenas.
O documento foi assinado por Junior Hekurari Yanomami, presidente do conselho indígena, e enviado à Fundação Nacional do Índio (Funai), à Polícia Federal (PF) em Roraima, à 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército, ao Ministério da Defesa e ao Ministério Público Federal (MPF) em Roraima.
No dia 13 de maio a Justiça Federal determinou que a União mantivesse um efetivo armado, de forma permanente, na comunidade Palimiú, para evitar novos conflitos e garantir a segurança dos indígenas. Hekurari diz que esteve na comunidade cinco vezes e que, até o momento, não teria sido enviado uma equipe para garantir a segurança em Palimiú.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) enviou um novo pedido ao Supremo Tribunal Federal na quarta-feira (19) pedindo a retirada imediata dos invasores de sete terras indígenas (TI), em especial da TI Yanomami, em Roraima, e TI Munduruku, no Pará, para garantir o direito à vida e à integridade física dos povos ameaçados nesses locais.
“Da data da propositura da ação, em 1º de julho de 2020, até março deste ano, o desmatamento e as invasões nas Terras Indígenas cresceram assustadoramente. Neste período, a União não foi capaz de apresentar um plano ou indicar quais medidas concretas realizará para conter e isolar invasores”, relatou a entidade na petição.
A entidade afirma que a escalada de violência, degradação ambiental e surtos de doenças em decorrência da exploração de minérios nas terras indígenas têm provocado violações de direitos fundamentais dos povos originários.
“É um cenário desolador com crime organizado, mortes de crianças, surtos de malária, covid-19, contaminação dos rios, insegurança alimentar e falta de assistência médica. Como se não bastasse tudo isso, a violência é cada vez mais intensa, o que nos leva a temer a possibilidade iminente de um novo massacre”, disse a coordenadora executiva da Apib, Sonia Guajajara.

A Terra Indígena Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil. Tem 9,6 milhões de hectares de floresta tropical úmida com relevo montanhoso,entre os estados de Roraima e Amazonas, na fronteira com a Venezuela. Lá vivem mais de 27 mil indígenas espalhados em cerca de 331 comunidades. A Reserva Yanomami foi homologada pelo presidente Fernando Collor em 25 de maio de 1992 e a atividade de garimpo nela é ilegal.
Levantamento divulgado pelo Instituto Socioambiental aponta 13.889 indígenas mora em comunidades a menos de 5 quilômetros de uma zona de garimpo. A estimativa é que mais de 20 mil garimpeiros entram e saem dos territórios indígenas yanomami sem nenhum controle.
Fotos: Nelson Almeida/AFP e Divulgação