Cerrado: o bioma berço das águas pede socorro

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Cerrado: berço das águas e abrigo da fauna e flora


Celebramos neste sábado, 11 de setembro, o Dia Nacional do Cerrado, o bioma fundamental e insubstituível para a distribuição de água no Brasil. A data foi criada em 2003 para marcar o valor do bioma para a biodiversidade do país.


Por ter o solo mais alto, absorve a umidade e leva água para 8 das 12 bacias hidrográficas brasileiras. O Cerrado é importante para o consumo de água e geração de energia no país. Esse potencial aquífero, chamado “savana brasileira” concentra as principais nascentes e alguns dos mais importantes afluentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazonas, Paraguai e São Francisco).

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Cerrado: bioma fundamental e insubstituível para a distribuição de água no Brasil


O Cerrado é segundo maior bioma da América do Sul, atrás apenas da Amazônia. Em suas paisagens amplas e lindas vivem milhares de espécies de animais e plantas que só existem na região. Além do mais desempenha função primordial na segurança alimentar das pessoas e espécies.

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O que acontece no Cerrado influencia o resto do país. Os recursos naturais não têm as fronteiras impostas pelo homem e nem dono. Proteger é preservar esta importante riqueza nacional para nossa sobrevivência.

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Tamanduá-bandeira com filhote na Serra do Roncador, Barra do Garças-MT

Se a vegetação do bioma é retirada, o solo perde a capacidade de reter umidade – o que significa menos água indo para as bacias dos rios: vem a seca. Ao mesmo tempo, aumenta a evaporação da água e a temperatura da região. Para completar, quanto mais vegetação é destruída, menos chove. A vegetação faz a ponte entre atmosfera e o solo.


A capital do país é lar de diversas espécies de flora e fauna endêmicas e também é considerada´porta de entrada para a Chapada dos Veadeiros, Patrimônio Natural Mundial. Hoje é dia de dar vivas a toda esta riqueza, cuidar e aproveitar com consciência ecológica.

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Ipê amarelo é uma das riquezas do Cerrado

A data de hoje é um grito de socorro porque este importante bioma já perdeu 50% da cobertura original, por causa dos recordes de incêndio, de desmatamento, de grilagens e das transformações dos últimos anos. Segundo especialistas, o desmatamento além de impactar as mudanças climáticas, provoca desequilíbrio no ecossistema.


Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),de 1º janeiro até 31 de agosto, o Cerrado viu a maior quantidade de pontos de fogo para esse período desde 2012. Considerados apenas os números do mês, houve a maior quantidade de focos de incêndio desde 2014 – mesmo com uma proibição do uso do fogo no país em vigor.

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Queimadas devassam o Cerrado

A pesquisadora Mercedes Bustamante, professora titular da Universidade de Brasília (UnB) e uma das principais referências sobre o Cerrado no país, diz que a situação é muito preocupante. “Quando você vê um aumento do alerta, é um sinal bastante negativo, porque a gente deveria estar controlando o desmatamento do Cerrado”.


O desmatamento também cresceu: no mês de agosto, o bioma teve a maior área sob alerta de desmatamento desde 2018. O crescimento do desmate no bioma tem a ver com a expansão da nova fronteira agrícola brasileira, na região chamada de “Matopiba”, nos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.


A cientista Terena Castro, assessora técnica do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), diz que o avanço do desmatamento no Cerrado é uma realidade preocupante. “O plantio de commodities agrícolas nessas regiões vem causando grande impacto para a natureza e povos e comunidades tradicionais que aí habitam”.

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Queimadas devassam o Cerrado

A professora Mercedes Bustamante diz que está ocorrendo no Cerrado a repetição da degradação que houve na região sul do bioma – e que, hoje, avança para o norte, na região de fronteira entre os estados que compõem o “Matopiba”. “Muitas vezes as pessoas abrem a área, utilizam de forma inadequada, a produtividade cai, abrem novas áreas e vão aumentando o desmatamento, deixando terras degradadas para trás”.

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Tatu Bandeira tentando encontrar água no Pantanal

A cientista da UnB diz que a velocidade de expansão, a intensidade do uso do solo e a extensão das áreas ocupadas pela agricultura no bioma atualmente são preocupantes. “Essa enorme quantidade de terras desmatadas no Cerrado poderiam ser utilizadas novamente para a produção. A gente deveria estar modificando o rumo dessa história e encaminhando ações de conservação”.


Mercedes Bustamante afirma que o Brasil corre o risco de não ser mais uma potência na produção e exportação de alimentos.

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Imagem de satélite do Inpe mostra pontos de incêndio no Cerrado em Minas Gerais, nesta semana de setembro


A cientista Terena Castro
diz que a situação está precária pela falta de fiscalização. “A fragilização dos órgãos ambientais responsáveis pela fiscalização, bem como o enfraquecimento de políticas públicas para o meio ambiente nos últimos anos, contribuem para esse cenário que se anuncia cada vez mais catastrófico”.


Unindo forças e com uma gestão dos recursos naturais que contemple a preservação ambiental, a produção de alimentos, o abastecimento de energia, quem sabe um dia conseguiremos comemorar o aumento da restauração do Cerrado.

Vamos juntos plantar a mudança para colher esperança para nossos descendentes.


Fotos: Inpe, Desse Godoi/ Sesc Pantanal, Andre Dib e Info Arte/G1