Cantador, cordelista e xilogravurista são consideradas profissões artísticas no DF

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Cordelista Davi Mello

As culturas populares que refletem parte da identidade no nosso povo são feitas por pessoas. Reconhecer o trabalho delas é fundamental para reforçar as raízes e identidade cultural de Brasília que é feita de gente que emprestou suas histórias para criar outra.

Pensando assim a deputada distrital Jaqueline Silva propôs que as atividades de cantador, cordelista e xilogravurista fossem consideradas profissões artísticas no Distrito Federal. O projeto foi aprovado na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e a lei publicada no Diário Oficial no dia 16 deste mês.


A lei já está em vigor e o GDF tem seis meses para definir a regulamentação. A lei não aponta os direitos e garantias dos artistas, como piso salarial e jornada de trabalho.


A cultura popular é ofício e meio de sobrevivência para inúmeros cidadãos brasileiros. Uns são autodidatas, outros aprendem com seus pais ou olhando outros artistas.


Memória, ritmos e sabores ajudam a construir o maior reduto da região Nordeste no Distrito Federal: Ceilândia, com quase 70% de moradores vindos de lá. A cultura nordestina é mantida pulsante na capital por artistas, vindos de lá ou herdeiros de quem chegou antes. Eles cantam, escrevem, desenham e rimam a arte daquela região.

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Cantador, cordelista e xilogravurista são consideradas profissões artísticas no DF

Cordelistas, cantadores e Xilogravurista fazem parte da cultura brasileira e são apreciados também no estrangeiro.


As histórias esculpidas em madeira são disseminadas por todo o Brasil, principalmente por causa do processo de migração de populações. O cordel foi inserido na cultura brasileira ao final do século 19. O gênero resultou da conexão entre as tradições orais e escritas presentes na formação social brasileira e carrega vínculos com as culturas africana, indígena e europeia e árabe. Tem ligação com as narrativas orais, como contos e histórias; à poesia cantada e declamada; e à adaptação para a poesia dos romances em prosa trazidos pelos colonizadores portugueses.


A modalidade artística extrapolou os limites dos varais cordelistas e agora integra museus e galerias de todo o mundo, enriquecendo-as com tradicionalidade e referências genuinamente brasileiras.

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Repentistas durante apresentação no Distrito Federal

Cantador é o poeta popular que canta, de improviso ou não, versos de sua própria autoria ou oriundos da tradição popular, conforme as técnicas e modalidades da cantoria ou da poesia do repente. A atividade é reconhecida, desde 2010, como profissão artística, graças a uma lei federal assinada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Xilogravurista: é aquele “artesão que produz gravura em madeira, entalhando um desenho fruto de sua criatividade, a ser reproduzido posteriormente em papel. A técnica, que ficou popular no Nordeste quando passou a ser a forma de ilustrar literatura em cordel, é uma tradição familiar repassada de pai para filho.

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Xilogravurista Valdério Costa

Para o Valdério Costa, que cria e vende xilogravuras há 21 anos, em Brasília, a lei da deputada Jaqueline “vai ser fundamental para valorizar os profissionais que fazem xilogravura, inclusive permitindo que eles participem de projetos, como os editais do Fundo de Apoio à Cultura.


Cantadores, cordelistas e xilogravuristas profissionais, ainda têm muitas dúvidas sobre o que vai mudar, na prática.

Além da possibilidade de disputar projetos no Distrito Federal, o cordelista Davi Mello que faz cordéis há três anos, diz ser importante obter reconhecimento, mas aguarda a regulamentação da lei.

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Casa do Cantador, Ceilândia-DF

Nas palavras do radialista, poeta e cordelista, Zé do Cerrado, presidente da Casa do Cantador:

“Quem quiser comprar morango tem que ir para Brazlândia/
Quem quiser ver o museu vai ali na Candangolândia/
Mas repente e cantoria tem que buscar na Ceilândia”


Viva os “fazedores de cultura popular” que dedilham a viola e contam história com maestria.


Fotos: Renato Araujo/Agência Brasília, Arquivo pessoal, Divulgação /’A xilografia Popular’ e Webert da Cruz