Bebê brasileiro nasce com cauda e caso raro é publicado em revista científica

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Bebê brasileiro nasce com cauda de 12 cm no Hospital Albert Sabin, em Fortaleza

Um bebê brasileiro nasceu com uma cauda de 12 centímetros em região paravertebral lombossacra esquerda e uma bola de quatro centímetros na extremidade, composta por tecido conjuntivo e gordura.


O fato ocorreu no Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, e o recém-nascido veio ao mundo com 35 semanas, no inicio deste ano, mas só agora foi revelado em publicação científica. O caso é considerado raríssimo, já que apenas 40 episódios assim foram registrados até hoje na medicina.


Este é o primeiro tipo no Brasil a ser registrado em artigo publicado em um jornal científico, o renomado Journal of Pediatric Surgery Case Reports. O cirurgião pediátrico Humberto Forte, é um dos profissionais que cuidou do bebê cearense e que assina a publicação.


Além do cirurgião Forte, participaram do relato do caso os profissionais Francisco das Chagas Barros Brilhante (cirurgião pediátrico do Hospital Albert Sabin), Márcia Maria de Holanda Góes Bezerra (cirurgiã pediátrica do Hospital Albert Sabin), Verlene de Araujo Verdiano (neonatologista), Rodrigo Schuler Honorio (patologista do Hospital Albert Sabin) e Carlos Eduardo Lopes Soares (estudante da Universidade Federal do Ceará).


De acordo com médicos, todos os bebês desenvolvem uma cauda embrionária no útero entre quatro a oito semanas de gestação. Ela é reabsorvida pelo corpo, mas, no caso desse bebê de Fortaleza, seguiu crescendo.


O recém-nascido foi submetido a exames
, que não apontaram nenhuma alteração no quadro neurológico. O brasileirinho também não tinha outras alterações sistêmicas além do apêndice cutâneo.

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Caso do bebê que nasceu com cauda é o primeiro no Brasil a ser publicado em revista científica

Não havendo nenhuma alteração neurológica constatada, o procedimento foi realizado sem complicações. “Após a análise clínica e com exames de imagem, não identificamos nenhum componente neurológico, o que tornou a cirurgia de retirada de menor complexidade”, explica o Dr. Humberto Forte, médico residente em pediatria que participou do procedimento.


A criança passa bem e será acompanhado semestralmente pelos médicos no primeiro ano de recuperação e, depois, a avaliação terá que ser realizada anualmente.


Os médicos temiam que o bebê tivesse outras patologias que podem estar associadas, como a presença de indicadores da medula espinhal ancorada ou o disrafismo espinhal oculto. Duas anomalias graves, que podem surgir em bebês com esse tipo de quadro.

“Essas alterações são defeitos neurológicos no desenvolvimento da medula espinhal”, explica o cirurgião pediátrico Humberto Forte. “Uma cauda pode revelar a presença desses defeitos antes mesmo do paciente manifestar sintomas típicos”, afirma.


Por isso a exploração cuidadosa se fez necessária
. “É essencial que o pediatra ou cirurgião pediátrico investigue a presença de disrafismo espinhal oculto em pacientes com suspeita de lesões cutâneas, pois podem ser a única anormalidade visível e o diagnóstico precoce pode prevenir a evolução para alterações neurológicas graves”, relata a publicação.


Na opinião do Dr. Forte, essa é a importância da primeira publicação de um caso ocorrido no Brasil em um jornal científico. Torná-lo conhecido pela comunidade médica. “Não podemos afirmar que é o primeiro caso ocorrido no Brasil, mas foi o primeiro caso publicado. A importância desse artigo para a ciência médica brasileira é trazer ao conhecimento de todos a patologia dessas crianças e mostrar nossa experiência e expertise no cuidado delas”, explicou.

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Cauda embrionária de 12 cm, retirada do bebê que nasceu no Hospital Albert Sabin, em Fortaleza

Após a extração do apêndice, um laudo anatomopatológico confirmou que a estrutura, recoberta por pele com anexos, possuía tecido conjuntivo adiposo, muscular e neural, além de grandes ramos vasculares e ausência de tecido ósseo ou cartilaginoso, classificado como cauda humana verdadeira.


Causas ainda são desconhecidas por causa da raridade, o que resulta numa carência de estudos de caso, é difícil, segundo o cirurgião, precisar as causas de surgimento da cauda em recém-nascidos. Apesar de ser sabido que ela, na verdade, consiste na persistência da cauda embrionária do feto, que se forma entre a 4ª e 6ª semanas de gestação e geralmente desaparece completamente no final da 8ª semana.


“Ainda não foi definida uma causa específica, mas há teorias de que possa ocorrer uma alteração na regressão da cauda que temos na fase embrionária”, esclarece.

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Bebê brasileiro que nasceu com cauda de 12 cm teve remoção bem sucedida em hospital em Fortaleza

Foi muito interessante poder participar de um caso tão raro. Houve uma grande comoção tanto para definirmos a melhor conduta para o paciente como para conhecermos melhor a patologia”, completa o cirurgião, lembrando de um momento que considerou como um ápice no atendimento do caso: “O momento em que conhecemos a criança e a sensação de descoberta de algo novo e da sensação de que poderíamos ajudar não só ela, mas outras que podem ter a mesma patologia”.


O bebê cearense poderá ter uma vida completamente normal agora que teve a cauda removida. E também não sofrerá qualquer “estigma social”, por ter nascido tão diferente, diz o médico.


Fotos: Reprodução/Journal of Pediatric Surgery Case Reports