‘Vivência para o Bem Viver’ é destaque nacional sobre educação em direitos humanos

O Centro de Ensino Fundamental 8, de Sobradinho, é destaque em prêmio sobre educação em direitos humanos. O projeto da escola de Sobradinho ficou entre cinco finalistas na etapa nacional do prêmio Óscar Arnulfo Romero.
O nome do prêmio visa destacar o trabalho do monsenhor Óscar Arnulfo Romero – canonizado pela Igreja Católica em 2018 -, de El Salvador, na defesa dos direitos humanos, especialmente entre os grupos mais vulneráveis, e vinculá-lo a ações reais em defesa dos direitos humanos, como fez monsenhor Romero ao longo de sua vida.
O reconhecimento para o projeto ‘Vivência para o Bem Viver’, da Escola Pública do DF, é concedido pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI) e da Fundação SM, visa reconhecer programas destinados a garantir o direito à educação de crianças e jovens.
O projeto ‘Vivências para o Bem Viver’ foi desenvolvido para enfrentar desafios surgidos com o ensino remoto, em decorrência da pandemia da Covid-19.
O CEF 8 atende cerca de mil alunos do ensino regular, do 6º ao 9º do ensino fundamental, e estudantes de altas habilidades de outros colégios. A turma de altas habilidades atende alunos da educação infantil ao ensino médio.

A professora e coordenadora da unidade, Olga Motta, explica que, com o início das aulas remotas em 2020, devido à pandemia, os professores tiveram que aprender, investigar e estudar uma série de ferramentas para auxiliar e mediar as aulas e as atividades virtuais. “O programa desenvolvido pela escola foi fundamental para validar o que crianças e jovens sentem, por meio da escuta ativa”, diz a coordenadora pedagógica.
Olga Motta, explica que, com o início das aulas remotas em 2020, devido à pandemia, os professores tiveram que aprender, investigar e estudar uma série de ferramentas para auxiliar e mediar as aulas e as atividades virtuais. “Em meio a tantas incertezas, perceberam que os alunos estavam ansiosos por diálogos que ultrapassassem conteúdos e chegassem às emoções, afloradas no período de isolamento social”.
“Notamos crianças carentes de adultos que olhassem para eles, que escutassem e que falassem desses sentimentos. Assim nasceram os encontros semanais, batizados de Vivências para o Bem Viver, iniciados na insegurança, mas fortalecidos pelo acolhimento”, explica Olga Motta.
Escritores, terapeutas, professores e estudantes do CEF 8 ou de outras escolas foram convidados a tratar de temas voltados ao autocuidado, além do desenvolvimento socioafetivo. A intenção, segundo a professora Olga, era vivenciar experiências que traziam uma aprendizagem socioemocional.

“O Vivências para o Bem Viver, mesmo que on-line, foi um local de compreensão e acolhimento, de incentivo ao respeito, à construção de relações e vínculos afetivos, que tornaram os estudantes mais motivados e confiantes para sonharem e participarem da vida escolar, familiar e na sociedade com mais alegria”, diz a diretora Olga.
A professora Rachel Ribeiro, que trabalha com alunos de altas habilidades, conta que, por se tratar de uma escola pública distante de Brasília, a ação se tornou ainda mais importante. “Quando eu assisti o primeiro encontro, eu falei: é aqui que a gente vai caminhar juntos. Porque eles [alunos de altas habilidades] também tinham uma demanda de muita ansiedade, de muita tristeza pelo isolamento”.
O ‘Vivências para o Bem Viver’ possibilitou que os próprios alunos apresentassem temas de interesse deles. Maria Eduarda Perez, de 14 anos, aluna da turma de altas habilidades, diz que, no começo, não participava muito dos encontros. Mas, depois, passou a gostar do projeto e não perdeu mais os encontros. “A vivência me inspirou a escrever. Eu ouvia os problemas dos outros alunos e escrevia”, diz a estudante que tem um blog.
Elisa Marçal, de 16 anos, também aluna da turma de altas habilidades, já trabalhava com um projeto sobre como a depressão pode afetar a vida escolar. Ela foi convidada para falar sobre o tema em um dos encontros e conta “que foi ótimo”. “Matemática, geografia, história são importantes. Mas, se a pessoa não sabe lidar com os sentimentos, ela não é completa”, diz a adolescente.

As orientadoras do projeto, as professoras Olga e Rachel, perceberam que em 2021 os estudantes precisaram de atividades mais práticas. Por isso, elas criaram oficinas em que os alunos puderam desenvolver habilidades artísticas.
Uma delas, sobre “lettering”, foi organizada pela aluna Ana Clara Vieira, de 12 anos, estudante da turma de altas habilidades.“Eu achei muito interessante a abertura que os professores deram para os alunos se expressassem, porque as pessoas acham que criança é muito inexperiente, que ela não tem nada para falar”, diz Ana Clara.
Gabriel Dimitri, de 12 anos, do 6º ano, diz que as ‘Vivências’ também o ajudaram a ler melhor. “Eu estava muito ruim na leitura, e os momentos de leitura [nos encontros] eram os que eu mais gostava”.
Williams Matheus de 13 anos, do 6º ano, conta que o projeto foi essencial para fazer novas amizades e também para olhar para o próximo.
Daniela Dornelles conta que o projeto foi “incrível”. Ela destaca que conheceu novas pessoas e que conseguiu desenvolver melhor a habilidade de se expressar. “Ter um projeto tão bom e prazeroso, ainda mais em uma escola pública, é incrível. Não era algo repetitivo, sempre tinham o cuidado de trazer algo diferente”.

Ganhadores do Prêmio de Educação em Direitos Humanos Óscar Arnulfo Romero
Na categoria A (para instituições de educação), a vencedora foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, de São Paulo, com o projeto Aula Pública e os novos desafios com a pandemia da Covid-19.
Na categoria B (de projetos da sociedade civil), o ganhador foi o projeto UniFavela – semeando o ensino popular da Associação social UniFavela do Rio de Janeiro. A organização desenvolve um trabalho político-pedagógico antirracista, por meio da dinâmica de pré-vestibular.
Ambas vão concorrer a um prêmio de 5 mil dólares na etapa internacional do concurso. Nessa fase será anunciada a classificação final com os quatro vencedores da Ibero-América, sendo dois por categoria.
Fotos: Álvaro Henrique/SEEDF e Ana Luísa Santos/ g1 DF