Nélida Piñon, uma das maiores representantes da literatura brasileira, morre aos 85 anos

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Nélida Piñon: uma das maiores representantes da literatura brasileira, deixa legado precioso


É com pesar que registro o falecimento da maior escritora viva do Brasil, Nélida Piñon, aos 85 anos, ocorrido no dia 17. A primeira mulher presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), estava internada no hospital CUF Descobertas, em Lisboa.


Nélida estava em Portugal desde setembro. Em Lisboa, participou das comemorações do centenário de José Saramago como jurada do prêmio que leva o nome do escritor e que é um dos mais importantes da literatura de língua portuguesa. Depois, viajou pelo país, foi à Galícia, terra natal dos pais e avós, fez uma conferência em Santiago de Compostela e visitou Barcelona.


Nélida Pinõn ocupava a Cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras
, para qual foi eleita em 27 de julho de 1989, ela foi a primeira mulher a presidir a entidade em 100 anos, e ocupou o posto entre 1996 e 1997.

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Nélida Pinõn, a primeira mulher a presidir a ABL, ao lado do atual presidente Merval Pereira

Nélida falou que a esperança era uma “espécie de hábito”. “É preciso ter esperança para seguir arfando. O arfar humano é impulsionado por esse gesto de sobrevivência. Temos que ter a esperança de que vamos dormir, comer, falar, pensar, senão, a morte vem”, disse ao relançar “A República dos sonhos”, em 2015.

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Nélida Piñon: a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras e vencedora de dezenas de prêmios, nacionais e internacionais

Essa esperança a escritora desenhava com a linguagem em romances que contavam sagas e em ensaios que investigavam a memória e a própria existência.

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Nélida Piñon, uma das maiores escritoras vivas, iniciou a carreira em 1961

Seu começo na literatura em 1961 foi difícil. O romance de estreia, “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”, um extenso diálogo entre a protagonista feminista e o arcanjo Gabriel, foi considerado experimental demais à época. O tema religioso da obra acompanharia a escritora em muitos outros livros, incluindo “O fundador”, de 1969, que rendeu a ela o prêmio literário “Walmap”, o primeiro de 26 que receberia, entre nacionais e internacionais.


Em “A República dos Sonhos” (1984), Nélida articula a linguagem poética com uma complexa estrutura léxica para narrar a saga autobiográfica de uma família que se muda da Galícia para o Brasil. Foi o primeiro romance traduzido para o inglês, marcando o reconhecimento internacional de Piñon.

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Nélida Pinõn: a maior escritora viva do Brasil, de sensibilidade contagiante


O último romance de Nélida foi lançado em 2021. Um romance no qual os leitores “entendessem a gênese narrativa das Américas, de onde nós procedemos, quem somos nós”. Decidiu então passar um ano em Portugal, na terra de Camões. Para escrever o tal romance das Américas, que se passaria no século 19, mas com fortíssimas referências ao 15, ela precisava do contato direto e diário com os modos de vida portugueses.

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Nélida Piñon: a primeira mulher a presidir a ABL com sua preciosa Suzy Piñon


“Eu tenho uma sensibilidade muito apurada, entendo a analogia das coisas, analogia faz parte, enriquece a criação literária. Eu ia em busca das paisagens, dos resíduos de uma língua que eu precisava ouvir que vinha do século 15”, contou quando finalmente lançou “Um dia chegarei a Sagres”, em janeiro de 2021.

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Nélida Piñon, a primeira mulher a presidir a ABL, com Gilberto Gil novo Imortal


Nélida Piñon nasceu no Rio de Janeiro em 1937 e se formou em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Estreou na literatura com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961. Em 1984, lançou uma de suas obras mais marcantes: A República dos Sonhos.


Com mais de 20 livros publicados, suas obras foram traduzidas em mais de 30 países. Entre eles, romances, contos, ensaios, discursos, crônicas e memórias.

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Nélida Pinõn, a maior escritora viva do Brasil, morre aos 85 anos


Vencedora de dezenas de prêmios, nacionais e internacionais, colaborou em diversos jornais e revistas literárias e foi correspondente no Brasil da revista “Mundo Nuevo”, de Paris. A escritora foi também acadêmica correspondente da Academia das Ciências de Lisboa como também, em outubro de 2014, entrou na Real Academia Galega.


O velório deve ocorrer na Academia Brasileira de Letras, da qual Nélida é membro desde 1989. A instituição vai providenciar o traslado do corpo, mas ainda não há data pois a liberação envolve um processo burocrático complexo. Em nota, a ABL disse que fará uma homenagem à escritora. “O sepultamento será no mausoléu e a ABL fará uma Sessão da Saudade no dia 02 de março, no Salão Nobre, em homenagem à autora”, diz a nota. “Nélida foi uma das maiores representantes da literatura brasileira”.

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Nélida Pinõn, a escritora que descansa a mente com seu Gravetinho


O presidente Merval Pereira, assumiu em 11 de março de 2022 e sua diretoria é composta, por Nélida Piñon como secretária-geral, Joaquim Falcão como primeiro-secretário, Celso Lafer como segundo-secretário e Evaldo Cabral de Mello como tesoureiro.


Fotos: Reprodução e Divulgação ABL