Chico Buarque recebe Prêmio Camões, maior honraria da literatura, em Portugal

O cantor, compositor e escritor brasileiro, Chico Buarque, recebeu o Prêmio Camões, a maior láurea da literatura em língua portuguesa, em cerimônia no Palácio de Queluz, nesta segunda-feira, em Portugal, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
O prêmio Camões é uma parceria entre os governos de Portugal e do Brasil, criado em 1988. O Prémio Camões de Literatura homenageia anualmente a literatura em português, distinguindo um escritor cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento da língua portuguesa.
A premiação é considerada a mais importante da língua portuguesa. Entre os brasileiros que já foram laureados, estão Raduan Nassar (2016), Ferreira Gullar (2010), Lygia Fagundes Telles (2005) e Jorge Amado (1994).
O escritor homenageado recebe 100 mil euros (R$ 555 mil), sendo metade desse valor subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional, entidade vinculada ao Ministério da Cultura, e a outra metade é paga pelo governo português.

Em seu discurso, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, comparou o artista brasileiro a Bob Dylan que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2016. Segundo ele, Dylan é celebrado, mas sua obra é principalmente musical. Já Chico Buarque, além da música, também fez obras elogiadas na literatura e no teatro.
A entrega da importante menção só aconteceu agora, porque mesmo tendo sido escolhido por unanimidade pelo júri: Antonio Carlos Hohlfeldt e Antonio Cicero Correia Lima pelo Brasil; Clara Rowland e Manuel Frias Martins por Portugal; Nataniel Ngomane por Moçambique; Ana Paula Tavares por Angola, em 2019, Bolsonaro se recusou a assinar a documentação necessária para que o artista recebesse o diploma.
O presidente Lula disse que estava feliz em poder corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura. “O Prêmio Camões deveria ter sido entregue a Chico em 2019 e não foi. Sabemos por quê. O ataque à cultura foi dimensão importante do projeto que a extrema direita tentou implantar no Brasil. Se hoje estamos aqui para fazer este gesto de reparação e celebração da obra de Chico, é porque a democracia venceu no Brasil”.
Ao recebeu o Prêmio Chico declarou: “Recebo esse prêmio menos como honraria pessoal e mais como desagravo a tantos autores e artistas humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.” “Reconforta-me que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o meu prêmio Camões”, disse o renomado artista brasileiro.
Além de Chico Buarque, ainda devem receber o prêmio o escritor português Vitor Manuel de Aguiar e Silva (escolhido em 2020), a moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o brasileiro Silviano Santiago (2022).
Chico lançou seu primeiro livro de ficção, “Fazenda Modelo”, em 1974. Três anos mais tarde, publicou o livro infantil “Chapeuzinho Amarelo”. O primeiro romance, “Estorvo”, foi lançado em 1991. Ele também escreveu “Benjamin”, em 1995. Nos anos 2000, o artista lançou “Budapeste” (2003) e “Leite derramado” (2009). Seu último romance foi “Irmão Alemão”, de 2014.
Para o teatro, Chico escreveu as peças “Roda Viva” (1968); “Calabar” (1972); “Gota D’Água” (1974), e “Ópera do Malandro” (1978).
Fotos: Rodrigo Antunes/Reuters