Brasil vence pela 1ª vez o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza

Pela primeira vez na história, o Pavilhão do Brasil, ganhou o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional, na Bienal de Arquitetura de Veneza. O evento é considerado um dos mais importantes e tradicionais do mundo.
A mostra vitoriosa foi selecionada por um júri presidido pelo arquiteto e curador italiano Ippolito Pestellini Laparelli, acompanhado de Nora Akawi, Thelma Golden, Tau Tavengwa e Izabela Wieczorek.

A exposição intitulada Terra, produzida pelos curadores Gabriela de Matos e Paulo Tavares, foi a ganhadora do prêmio. A mostra propõe repensar o passado para projetar futuros possíveis. Reflete sobre o passado, presente e futuro do Brasil, com foco na terra como centro de discussão, tanto como elemento poético quanto concreto no espaço da exposição. A exposição demonstra o que várias pesquisas científicas têm comprovado: as terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados no Brasil. Aponta para um futuro pós-mudanças climáticas, onde “decolonização” e “descarbonização” caminham juntas. As práticas, tecnologias e costumes relacionados à gestão e produção da terra, como outras formas de fazer e compreender a arquitetura, estão situados na terra e carregam consigo o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e vislumbrar outros futuros, não apenas para as comunidades humanas, mas também para as não humanas, em direção a um outro futuro planetário.
Saberes indígenas e afro-brasileiros

Segundo os curadores, a primeira galeria do pavilhão recebe o nome de De-colonizando o Cânone. Seu objetivo, entre outros, é questionar a narrativa que Brasília foi construída em meio ao nada, ignorando o fato de que os indígenas e quilombolas habitavam o local. E que já haviam sido expulsos da região desde o período colonial e finalmente sido empurrados para as periferias com a imposição da cidade modernista.
Na segunda galeria do pavilhão, chamada Lugares de Origem, Arqueologias do Futuro, tudo começa com projeção do vídeo O Sacudimento da Casa da Torre e o Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée, de Ayrson Heráclito.

A ideia é destacar a importância da ancestralidade e arqueologia da memória. A galeria reúne projetos e práticas socioespaciais dos saberes indígenas e afro-brasileiros sobre a terra e o território. Para isso utiliza como referências a Casa da Tia Ciata, no contexto urbano da Pequena África no Rio de Janeiro; a Tava, como os Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas no Rio Grande do Sul; e o complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador. E também os Sistemas Agroflorestais do Rio Negro na Amazônia; e a Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Arawak e Maku.

O tema da 18ª edição da Bienal é “O Laboratório do Futuro” e apresenta o continente africano como força motriz na formação do mundo que está por vir e desafia as noções convencionais do que o futuro pode trazer e do que um laboratório pode ser. A Mostra apresenta 63 pavilhões nacionais, nove eventos paralelos na cidade, e 89 participantes, mais da metade da África ou da diáspora africana.
Também pela primeira vez na história, a curadoria da Bienal de Veneza ficou a cargo de uma mulher negra, a arquiteta, acadêmica e escritora escocesa-ganesa, Lesley Lokko, com quem a ministra da Cultura se reuniu na abertura do Pavilhão do Brasil no dia 18.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, que está em Veneza representando o governo brasileiro na Bienal, discursou na abertura do Pavilhão. “Quero parabenizar a Gabriela de Matos e Paulo Tavares pela vitória na Bienal mais importante do mundo. Eles trouxeram uma temática interessantíssima, instigante e necessária que é a influência dos povos originários e do povo negro na arquitetura do Brasil e todo mundo estava falando muito bem sobre o trabalho desses dois jovens arquitetos. A arquitetura brasileira prova, mais uma vez, que é um vetor de projeção internacional do país”.

O Ministério da Cultura (MinC) investiu R$ 1,5 milhão na mostra brasileira que levou o Leão de Ouro. Com o resultado da premiação, o MinC e a ministra Margareth Menezes parabenizaram os arquitetos vencedores por terem levado a terra do Brasil para o evento e, assim, fazer os visitantes entrarem em contato direto com as tradições indígenas e quilombolas e com a prática religiosa do Candomblé.

Segundo a Fundação Bienal de São Paulo, a mostra brasileira contou com a participação de diversos colaboradores, incluindo povos indígenas Mbya-Guarani, Tukano, Arawak e Maku; tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá), Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho); Ana Flávia Magalhães Pinto; Ayrson Heráclito; Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA); coletivo Fissura; Juliana Vicente; Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias.
Fotos: Rafa Jacinto/Fundação Bienal de São Paulo e Reprodução/Instagram @venice.architecture.biennale