Deputadas denunciam misoginia escancarada e sexismo explicito na Câmara

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Deputadas denunciam misoginia escancarada e sexismo explicito na Câmara

O termo misoginia é utilizado para se referir a expressões e comportamentos que sinalizam desprezo, repulsa, desrespeito ou ódio às mulheres. Hoje, entende-se que a misoginia pode se manifestar de diversas formas, como através da objetificação, da depreciação, do descrédito e dos vários tipos de violência contra a mulher, seja física, moral, sexual, patrimonial ou psicologicamente.

Sexismo ou discriminação de gênero é o preconceito ou discriminação baseada no gênero ou sexo de uma pessoa. O sexismo pode afetar a qualquer um, independente do gênero. Tem sido ligado a estereótipos e papéis de gênero e pode incluir a crença de que um sexo ou gênero é intrinsecamente superior a outro.

Infelizmente a discriminação de gênero e o desprezo às mulheres acontece a todo momento e em qualquer atividade. O que espanta é que somos a maioria da população brasileira e do eleitorado do Brasil.

Mulheres que integram a Câmara dos Deputados denunciam perseguição à atividade parlamentar e ataques pessoais. Um dos episódios ocorreu recentemente quando as parlamentares se posicionaram contra a aprovação do Marco Temporal no dia 30 de maio.

O Partido Liberal (PL) imediatamente atacou as deputadas ao ingressar com uma ação no Conselho de Ética que instaurou representações contra seis deputadas: Erika Kokay (PT-DF), Célia Xakriabá (PSol-MG), Sâmia Bomfim (PSol-SP), Talíria Petrone (PSol-RJ), Fernanda Melchionna (PSol-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP).

O Partido Liberal, anteriormente conhecido como Partido da República, com alinhamento de centro-direita à direita, fundado e registrado oficialmente em 2006, alega na representação que as deputadas quebraram o decoro parlamentar durante a votação do projeto do marco temporal de terras indígenas (PL 490/07) no Plenário da Câmara no fim de maio.

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Deputadas denunciam misoginia escancarada e sexismo explicito na Câmara

Na ocasião, as parlamentares protestaram contra o texto, que restringe a demarcação de terras indígenas àquelas já tradicionalmente ocupadas por esses povos em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da nova Constituição federal.

As mulheres representam menos de um quinto na Câmara e mesmo assim são alvo de 71% das representações no Conselho de Ética. Só neste ano são 14 denúncias.

Ontem, 14 de junho, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados instaurou representações contra as deputadas Célia Xakriabá (Psol-MG), Sâmia Bomfim (Psol-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ), Érika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (Psol-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP). Todas as representações foram apresentadas pelo PL.  

A decisão do Conselho de Ética causou indignação não só nas mulheres como também fora do legislativo federal. O deputado distrital Fábio Felix (PSol-DF), eleito com  51.792 votos, a maior votação da história da CLDF, protestou. “A violência política contra mulheres presente no Congresso Nacional é absurda! Querem expulsar, a qualquer custo, as deputadas mulheres que não abaixam a cabeça para deputados que defendem o extermínio dos povos indígenas”, escreveu em suas redes sociais.

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Parlamentares protestam a aprovação do Marco temporal na câmara dos Deputados, 30 de maio

As parlamentares ficaram indignadas e denunciam perseguição à atividade parlamentar. A deputada Érika Kokay, eleita pelo Distrito Federal e que está na Câmara desde 2011, diz que ninguém vai calar quem defende o direito das mulheres e de minorias sociais. “Misoginia escancarada! Se chegamos até aqui é porque nunca ousamos nos calar, isso não acontecerá agora!”, assegura a deputada Kokay.

O ex-senador Eduardo Suplicy se solidarizou com as parlamentares, e escreveu, “vítimas de perseguição política motivada por sexismo”. “É triste a tentativa de calar quem luta por direitos das mulheres e de minorias sociais”.

A Coordenação da Bancada Feminina da Câmara disse que as representações configuram violência política contra as deputadas. “É considerada violência política contra as mulheres toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos delas. “É importante frisar também que existe uma sutileza na violência política de gênero e que tais representações são uma tentativa de silenciar as parlamentares, de impedir o exercício dos seus mandatos e de obstaculizar seus direitos políticos”, afirma em nota pulicada no início deste mês.

Fotos: Foto Lula Marques/ Agência Brasil e Reprodução