Doces com nomes peculiares que conquistaram paladares

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Baba de moça: a irresistível sobremesa

Os primeiros doces chegaram ao Brasil com Pedro Alvares Cabral, em 1500 e foram ofertados como presentes, aos índios de Porto Seguro. Logo as senhoras portuguesas trariam suas receitas cheias de segredos, que pouco a pouco foram ensinando aos indígenas.

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Papo de Anjo: um doce com nome peculiar e sabor irresistível

Com o cultivo da cana-de-açúcar, a mão de obra escrava abundante, e a tradição doceira dos portugueses, nossos doces se enriqueceram ganhando sabores mais tropicais. Os primeiros doces genuinamente brasileiros foram o pé-de-moleque, a paçoca, a rapadura, a cocada, o quindim e os bolos de mandioca.

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Quimdim – iguaria do Nordeste

A cultura doceira foi herdada de Portugal através das riquezas trazidas junto com os imigrantes que vieram em meados do século XIX. Eles trouxeram em sua bagagem babas-de-moça, ninhos, fios-de-ovos, camafeus, papos-de-anjo e canudinhos recheados. Os italianos e alemães também fizeram parte dessa cultura.

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Mineiro de Botas: doce feito com queijo minas, banana, açúcar e canela

O assunto doce foi levado tão a sério que ganharam denominações peculiares, advindas da aparência ou de lendas brasileiras. Pé de Moleque, Brigadeiro, Espera Marido, Maria Mole, Mineiro com Botas, Baba de Moça, Olho de Sogra, Chico Balanceado, Bicho de Pé, Pé de Moça, Cueca Virada, Negrinho, Mané Pelado, Romeu e Julieta, Dedo Aberto, Nega Maluca, Pata de Veado, e por aí vai. É melhor não julgar o prato pelo nome, porque eles são deliciosos!

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Cueca virada ou orelha de gato: o biscoito perfeito pro café ou chá da tarde

Brigadeiro

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Brigadeiro: o doce em homenagem ao militar galã

O nome surgiu com o Brigadeiro Eduardo Gomes, candidato à presidência nas eleições de 1945. Com pinta de galã, o militar sempre foi cortejado pelo mulherio — e, mesmo assim, nunca se casou.

Durante a campanha, um grupo de correligionárias combinou leite condensado com chocolate e começou a vender as bolinhas adocicadas nos comícios para levantar fundos. A patente do militar batizou o docinho-rei das festas de aniversário. No Rio Grande do Sul, é chamado de “negrinho”.

Cueca Virada

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Cueca virada ou orelha de gato: doce tradicional do Sul do Brasil

Conhecida nas cozinhas europeias e repetido, principalmente, no Sul do País, é uma espécie de massa frita, à base de farinha de trigo, açúcar e ovos, coberta com açúcar e canela. O nome engraçado vem do seu formato, já que é trançada de fora para dentro, antes de ser imersa em óleo quente.

A massa fica com visual de tecido retorcido, como uma peça íntima recém-tirada do corpo. Há, entretanto, outros nomes atribuídos ao pãozinho doce, igualmente curiosos: “ceroula virada”, “calça virada”, “coscorão” e “orelha de gato”.

Mineiro de Botas

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Mineiro de Botas: o doce em homenagem aos trabalhadores da mineração

O doce recebeu esse nome por causa dos trabalhadores da mineração de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, que costumavam juntar os ingredientes. Conta-se que surgiu por volta do século 18, período em que a mineração era atividade forte no País, e seria uma homenagem aos homens que atuavam no garimpo.

As esposas, donas de casa, costumavam preparar o doce para esperar seus maridos, que usavam botas no trabalho. A sobremesa leva queijo de Minas (que pode ser empanado ou frito), banana-da-terra, açúcar e canela, distribuídos em camadas. Para a finalização, o combinado é levado ao forno para assar.

Pé de Moleque

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Pé de Moleque: o doce tradicional das festas juninas

O pé de moleque, por exemplo, aparece em todos os cardápios em tempos de festas juninas — e julinas. Não esconde nenhum segredo na composição: é feito com amendoim sem pele, que é caramelizado. Depois de pronto e resfriado em pedra untada, só precisa ser cortado em pedaços.

Originalmente feito com amendoim e rapadura, uma das teorias para seu nome é relacionada às quituteiras que vendiam petiscos em tabuleiros pelas ruas, ainda em tempos do Brasil colonial. Ao mínimo descuido das mulheres, garotos surrupiavam a iguaria e saíam correndo.

Zangadas, bravejavam que os meninos deveriam pedir a elas em vez de furtar, caso realmente não tivessem dinheiro para a compra. Gritavam: “Pede, moleque! Pede, moleque”, o que teria levado ao termo conhecido.

Uma outra versão associa o formato e o aspecto da comida ao calçamento de mesmo nome, comum nas cidades históricas mineiras. As pedras eram colocadas nas vias pelos escravos e os filhos deles, chamados de moleques, eram responsáveis por assentá-las — daí o pavimento pé de moleque.

Papo de Anjo

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Papo de anjo: doce típico da culinária de Portugal

O papo-de-anjo é um doce típico da culinária de Portugal à base de gemas de ovos e açúcar. O nome é um dos muitos da gastronomia portuguesa que remetem à fé católica. Isso porque o doce, feito por cozinheiras de convento, era vendido nos vilarejos do país, para fortalecer o orçamento do santuário.

Espera Marido

Há dois doces conhecidos por tal nome: um bolinho frito, de massa leve e envolto por coco (também chamado de “nozinho” e “amarra marido”), assim como um creme feito com suco de laranja, ovos, especiarias e açúcar.

Ambos foram batizados assim numa referência às donas de casa que aguardavam os esposos depois de um dia longo de trabalho deles. Também é um termo que tem sido evitado, por reduzir o papel da mulher ao lar e aos cuidados com o parceiro. Muitos lugares já adotam “gravatinha de coco” como alternativa substituta.


Baba de Moça

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Doce Baba de Moça: inspirado nos “ovos moles de Aveiro”

Inspirado nos “ovos moles de Aveiro”, conhecido doce português à base de açúcar e gemas, o baba de moça tem esse nome por conta de sua consistência diferente e do paladar “apaixonante”, que é comparado ao beijo de uma moça — bem como à sua saliva.

Olho de Sogra

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Olho de sogra é um dos doces com nomes curiosos

Outro docinho de festa de nome curioso, há mais de uma versão para a origem do nome. Tendo uma ameixa “abraçando” a bolinha feita com coco, gemas e leite condensado, sua aparência refere-se ao olhar sempre alerta e vigilante das mães das moças que recebiam os namorados em casa.

A segunda teoria é que teria surgido após um erro no preparo de beijinho, outro doce típico dos aniversários.

Diz-se que, antigamente, quando as sogras assumiam as aulas de culinária às noras — a fim de cuidarem bem dos esposos —, uma delas deixou cair ameixa sobre o doce branquinho. Para disfarçar o erro, emoldurou a fruta corretamente e disse que era um doce que havia criado.

Patas de veado

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Patas de Veado fazem parte da vitrine da maioria das pastelarias portuguesas

É um daqueles doces típicos de qualquer pastelaria portuguesa e resulta resumidamente numa torta de pão de ló recheada com doce de ovos que é depois cortada em fatias diagonais que são também elas barradas com doce de ovos e polvilhadas com coco ralado e um fio de canela. O nome é bastante claro: o formato das fatias assemelha-se a uma pata de veado.

O Pé de Moça

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Pé de moça: versão cremosa do Pé de moleque

Versão mais macia do pé de moleque, graças à adição de leite condensado à receita, o pé de moça tem duas versões para a origem do seu nome.

Por ser mais cremosa e agradável na mordida, sua característica delicada remete aos membros inferiores das mulheres.

Outra hipótese tem ligação com o leite condensado produzido pela Nestlé, o Leite Moça, que traz uma camponesa em sua embalagem, e acabou influenciando na escolha linguística.

Bicho de Pé

Outro docinho muito bem-vindo nas festas de aniversário, é a versão cor-de-rosa do brigadeiro, pois é feito com leite condensado e saborizante de morango. Sua origem não é tão bonitinha quanto ele: nas primeiras vezes em que foi preparado, utilizava o moranguinho in natura.

Assim, as pequenas sementinhas pretas ficavam visíveis, assemelhando-se ao visual de um bicho de pé instalado na pele rosinha de um membro inferior. O “bolo bicho de pé” é patenteado pela empresa Amor aos Pedaços.

Maria Mole

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Maria mole: nome pejorativo que passou a ser chamado de “molenguinho”

A autoria do doce molenga é atribuída a uma escrava chamada Maria, que trabalhava para a família real. Sua intenção foi boa: ela misturou coco, água, açúcar e mocotó na tentativa de conseguir algo parecido com sorvete, algo que os monarcas tinham hábito de consumir, produzido com gelo trazido dos Alpes.

A textura, somada ao nome da inventora, apelidaram a receita. Por ser um termo de cunho machista e racista, há confeitarias que agora se referem à guloseima como “molenguinho”.

Chico Balanceado

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Chico Balanceado: a sobremesa fácil de fazer e muito apetitosa

Creme, suspiro e banana. Esses são os ingredientes que compõem a sobremesa, bastante comum no Sul do Brasil. O nome se dá pelo fato de o doce ser cremoso e ter um aspecto mole. “Merengue de banana”, “gato de botas” e “banoffe gaúcho” são outros nomes atribuídos à sobremesa, feita com banana, caramelo, creme de ovos e merengue dourado (no forno ou no maçarico).

O nome “Chico Balanceado” foi escolhido por ser uma referência ao malandro engraçado e astuto, e também por representar a mistura perfeita de sabor e doçura. Assim, além de ser um doce delicioso, ele também traz consigo a essência e a personalidade de um personagem querido pelo povo brasileiro.

O nome de registro do prato seria a junção do nome de Chico da Silva, homenageado, com o adjetivo balanceado, numa referência ao equilíbrio da sobremesa, tanto no quesito sabor quanto doçura. Também é conhecida como “Manezinho Araújo”, numa referência ao criador.

Nega Maluca

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Nega Maluca: bolo sobremesa cremoso de chocolate

Um bolo sobremesa, feito com chocolate, farinha de trigo, açúcar e ovos e geralmente é coberto por brigadeiro. As justificativas para a origem do nome são, mais uma vez, divergentes. Uma conta que o preparo foi criado acidentalmente por uma escrava, que derrubou chocolate na receita de um bolo. Como a mulher não falava português e não conseguia explicar o ocorrido, foi chamada de “nega maluca”. Outra versão da história diz que o apelido veio da substituição do leite por água fervente e da manteiga por óleo, ingredientes incomuns para a época.

Mané Pelado

Trata-se de um bolo saboroso, que combina mandioca, coco ralado e queijo, entre outros ingredientes. Há quem credite o nome curioso como uma “homenagem” a um agricultor que costumava colher o tubérculo sem roupas.

Outra teoria, mais recatada, atribui a denominação a um vendedor ambulante de Goiás, que vendia tal bolo (preparado pela esposa) de porta em porta. Devido ao calor intenso no cerrado, costumava andar sem camisa pelas ruas.

Romeu e Julieta

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Romeu e Julieta: a sobremesa irresistível

A goiabada é tão amada no Brasil que faz parte de várias receitas, como bolos, biscoitos, pães e muito mais. Além disso, com sua dupla inseparável, o queijo Minas, ela se torna a parte doce da combinação chamada de “Romeu e Julieta”.

Fotos: Reprodução