Mauricio Duarte e Daiara Tukano, expoentes da arte indígena, mostram Tramas em um Mundo de Transformação

O Museu Nacional da República foi palco do desfile “Tramas” do jovem estilista Maurício Duarte e da exposição “Pamuri Pati – Mundo de transformação”, com belíssimas obras de arte da renomada Daiara Tukano.

A coleção, assinada pelo designer e confeccionada em colaboração com artesãos de comunidades amazônicas, foi apresentada em um contexto de valorização da cultura dos povos originários, desde o cenário, passando pela música, até o casting, que incluiu modelos e personalidades indígenas como a deputada federal Célia Xakriabá e o modelo e publicitário Yaponã, filho de Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas.

As atrações marcaram a contagem regressiva do 16º Salão do Artesanato que acontecerá na Arena de Eventos do Pátio Brasil Shopping de 15 a 19 de novembro, sob a responsabilidade de Leda Simone e Rômulo Mendonça, da Rome Eventos.

O evento cultural com dois renomados artistas contou com a presença de representantes do Governo Federal, do Governo do Distrito Federal, do Congresso Nacional, de entidades como Sebrae, corpo diplomático, formadores de opinião e convidados.




O designer amazônida Maurício Duarte já conquistou passarelas do mundo e personalidades nacionais. “Poder alcançar lugares, conectar pessoas e contar histórias por atrás da moda, arte e do artesanato é fantástico. Acredito que quanto mais estivermos nos centros das discussões, falando sobre as nossas vivências, desafios e força para superar os obstáculos, cada vez mais poderemos ser ouvidos e levar oportunidades para nossos lugares. Poder representar o meu estado (Amazonas), minha profissão e tantas pessoas envolvidas nessa ideia, me enche de orgulho”, declara o estilista.



“Estar dentro de um museu, com toda essa estrutura acontecendo, ao lado de outros artistas e profissionais indígenas, é muito importante. Estamos aqui para contar nossa história a partir de nós mesmos. Chega de contarem o que acham que sabem sobre nós. Então, trazer a coleção, falar de artesanato para o pré-lançamento de um evento do porte do Salão do Artesanato é um uma conquista na forma como nos apresentamos ao mundo, nos percebemos e somos percebidos”, disse o jovem designer Maurício Duarte.








A mostra individual de Daiara Tukano “Pamuri Pati – Mundo de Transformação“, é apresentada em texto crítico de Lilia M. Schwarcz. A exposição destaca a cultura e a luta dos povos indígenas com obras inéditas, produzidas especialmente para a ocasião, além de importantes trabalhos da carreira de Daiara. É o caso do manto Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida, que fez parte da 34ª Bienal de São Paulo, e Pameri Yukese, pintura com oito metros de comprimento, exposta em Amõ Numiã, em fevereiro.


A exposição apresenta uma coleção diversificada de obras de arte, incluindo pinturas, esculturas e instalações, que exploram temas como identidade, ancestralidade, conexão com a natureza e resistência. Cada peça é um reflexo do profundo conhecimento de Daiara sobre a história e as lutas dos povos indígenas.

Segundo a expoente da arte indígena “A obra fala do sagrado, mas também do luto que tenho vivido e compartilhado com a perda de parentes e ancestrais”, afirma a artista que também retrata a feminilidade e a força das mulheres, em formas geométricas e cores vivas.

Em cartaz até o dia 26 de novembro, a mostra reúne cerca de 70 obras, entre elas, o “Espelho da Vida”, inspirado no manto Tupinambá e que foi destaque na 34ª Bienal de São Paulo. Outro destaque é a série “Kahpi Hori”, com pinturas que fazem uma alusão aos traços indígenas e “Festa no Céu”, composta por quatro grandes pinturas suspensas que representam pássaros sagrados: gavião-real, urubu-rei, garça-real e arara-vermelha.

Para os Tukano, as aves, chamadas de miriâ porâ mahsâ, fazem cerimônia para segurar o céu e impedir que o sol queime a terra fértil. No verso de cada pintura, um manto feito de penas entrelaçadas que remete à tradição dos grandes mantos plumários.

Sara Seilert, diretora do Museu Nacional da República, diz que as obras de Daiara Tukano, que se em artes plásticas na Universidade de Brasília, enriquecem o local. “Estou muito feliz em ter a Daiara aqui. A exposição individual da artista, com obras significativas, em um museu público, é muito simbólico”.

Segundo os diretores da Rome Eventos, a escolha do estilista para marcar o pré-lançamento da Edição 2023 do Salão do Artesanato, se justifica devido a estreita ligação que ele tem com o artesanato, desde sua adolescência, acompanhando a mãe a feiras e pintando camisetas.

“Suas peças, além do próprio talento, carregam habilidades, artes e saberes artesanais da floresta amazônica, e preservar, apresentar, valorizar e atuar para perpetuar essa grande riqueza da nossa terra é o objetivo primeiro do nosso evento. Também nesse sentido, o Mauricio é super representativo e emblemático para o 16º Salão do Artesanato”, diz Leda Simone.

Rômulo Mendonça, da Rome Eventos, informa que a 16ª edição do Salão do Artesanato traz a Brasília artesãos de todos os estados brasileiros e, claro, o melhor do Distrito Federal. “São os melhores artesãos do país, com sua melhor produção. Teremos, inclusive, área reservada para exposição e oficinas de arte indígena e quilombola. Nos tornar uma experiência de valorização da acessibilidade, sustentabilidade e inclusão social é um compromisso do Salão”.


O desfile da coleção “Tramas”, de Mauricio Duarte teve produção de Marina Sakamoto, styling de Sávio Drew, assistência de Caroline Cortes, beleza de André Gagliardo, modelos Scouting e modelos e personalidades indígenas convidadas a desfilar.


Estilista Maurício Duarte

Nascido no Amazonas há 28 anos, Maurício Duarte é indígena do povo Kaixana. Hoje à frente da Maurício Duarte Brand, chama a atenção por um trabalho de une beleza, qualidade e propósito. Ele, que vem desenvolvendo o seu talento desde a adolescência, quando começou a personalizar camisetas com pinturas à mão e a participar de feiras de artesanato ao lado da mãe, buscou formação no Senai e se sobressaiu. Foi então que ganhou uma bolsa para cursar Moda na Faculdade Santa Marcelina, na capital paulista.
Em 2019 abriu o seu ateliê, e mesmo com todas as dificuldades que chegaram com a pandemia, em quatro anos estreou nas passarelas da São Paulo Fashion Week, sendo um dos destaques da edição 2023. Construída e pautada por princípios de sustentabilidade e economia circular, a marca foca nos processos criativos de maneira artesanal e slow fashion.

Maurício trocou Manaus por São Paulo, mas levou a floresta dentro de si. A ancestralidade e contemporaneidade se encontram em suas criações. Apesar de conectado às suas raízes, foge dos estereótipos e da forma rasa e preconceituosa com que, muitas vezes, a cultura dos povos originários é tratada e retratada. Como indígena não aldeado, interpreta o choque entre a selva de pedra e a floresta, num resultado poético e de muita reflexão.

Fotos: FotoForum, Gilberto Evangelista e Ana Pigosso