Escritoras de Brasília criam “Maria Cobogó”

Insatisfeitas com a falta de espaço da produção brasiliense no ramo literário, Alessandra Roscoe, Ana Maria Lopes, Christiane Nóbrega, Claudine M. D. Duarte, Elisa Maria Mattos, Marcia Zarur e Solange Cianni, se uniram para criar o selo Maria Cobogó, o coletivo editorial, lançado oficialmente na noite de ontem, no Beirute da 109 Sul, local que é patrimônio da cultura boêmia candanga. Juntas, as sete mulheres sob o codinome de Maria dizem representar a força de todas as “Marias” do Distrito Federal.
Para coroar o “Maria Cobogó” as escritoras lançaram os livros: A árvore voadora (infantil) – Alessandra Roscoe; Mar remoto (poemas) – Ana Maria Lopes; Branca de leite (infantil) – Christiane Nóbrega; Desencontos (minicontos) – Claudine M. D. Duarte; Meu reverso (poemas) – Maria Elisa Mattos; Amor concreto (crônicas) – Márcia Zarur; e Clodoaldo pé descalço (infantil) – Solange Cianni. Uma noite de autógrafos muito prestigiada.
Com sete olhares diferentes, as criadoras do grupo se manifestam por meio da escrita e inspiradas pelo que veem e vivem na capital do país. Algumas nasceram em Brasília, outras não. Mas elas contam que, independentemente da origem de cada uma, sempre se sentiram abraçadas pela cidade.
”Somos os cobogós, os pilotis e as superquadras. Somos nossas avós, nossos pais, nossos filhos e todos os pioneiros. Somos o cerrado e o Lago Paranoá. Somos o céu que os 6 andares não encobrem nunca”, declara a jornalista e escritora Márcia Zarur
“Desde que troquei o jornalismo diário pela literatura, tenho encontrado caminhos diversos para semear livros, leituras e afetos e feito dessas novas trilhas também caminhos de encontros, como este com as Cobogós!”, diz Alessandra Roscoe, que tem mais de 30 livros publicados e premiados.
Com o selo “Maria Cobogó”, as escritoras querem divulgar as suas obras e publicar títulos de gêneros variados de outros escritores brasilienses. O coletivo vai contar com um conselho que analisará cada um dos livros publicados.
As criadoras do grupo assumem a missão de colocar Brasília com destaque no universo da literatura nacional. A divulgação dos trabalhos ocorrerá por meio de eventos na cidade, feiras literárias em outras unidades federativas e pela venda de livros no site e nas redes sociais do Maria Cobogó.
A jornalista Ana Maria Lopes diz que o “Maria Cobogó” serve para mostrar que Brasília tem uma voz literária forte. “Quando conversamos, identificamos as mesmas angústias, desejos, dificuldades com relação ao trabalho de ser escritora no DF, mas sabemos que temos uma literatura de excelente qualidade aqui”, diz a escritora. Ana Maria diz que o processo de criação do grupo ocorreu sem dificuldades, de forma lúdica e agradável. “Cada uma pegou as expertises que tinha e juntou nesse processo único. O DF conta com escritores maravilhosos, que têm uma qualidade excepcional. Mas o Brasil desconhece isso. Todos os prêmios, o reconhecimento, e as vendas se concentram no eixo Rio–São Paulo”, diz a jornalista Ana Maria Lopes.
Mesmo originários do Recife, os cobogós se tornaram parte da arquitetura de Brasília. Feitos de cimento, argila ou cerâmica, esses elementos se popularizaram não só pela originalidade, mas por permitirem, de forma decorativa, a ventilação e a iluminação dos ambientes. O cobogó foi criado em 1929, ano de grande crise, pelo comerciante português Amadeu Oliveira Coimbra, pelo alemão Ernest August Boeckmann e pelo engenheiro pernambucano Antônio de Góis. As iniciais de seus nomes originaram a palavra COBOGÓ. Em Brasília o cobogó está presente na grande maioria dos blocos residenciais do Plano Piloto e virou símbolo.