A era dos (des)influenciadores digitais
Texto: Gilbert Di Angellis
Vivemos tempos absolutamente disruptivos. As constantes inovações tecnológicas têm provocado mudanças sociais sem precedentes que impactam as mais variadas áreas da vida cotidiana. O mercado de trabalho, o consumo, os relacionamentos afetivos, o transporte e as comunicações são exemplos de esferas onde a tecnologia tem acarretado significativas alterações.
Nesse contexto, um novo e relevante fenômeno social ganha força: o surgimento dos influenciadores digitais. Eles podem ser definidos como pessoas ou personagens populares em redes sociais. Esses influenciadores possuem um público massivo e segmentado que acompanha suas postagens e, por isso, também atraem o interesse dos anunciantes.
A definição é quase tão genérica quanto a variedade de influenciadores no que tange ao seu conteúdo, público e rede social na qual se destacam. Há influenciadores a tratar de esporte, moda, entretenimento, games, estilo de vida, entre outros. Podem ter qualquer idade, classe social, cultura e país de origem. A fama pode vir do Facebook, Instagram, Twitter, Snapchat, YouTube, TikTok, etc.
A imensa pluralidade de meios de comunicação, as infinitas possibilidades de conteúdo e o fato de que a internet dispensa intermediários tradicionais, como televisão e revista, criam o cenário perfeito para que qualquer um, em tese, possa ascender ao estrelato nas mídias sociais. Não é por menos que jovens das gerações Y e Z têm relatado o sonho de tornarem-se influenciadores digitais.
O que para muitos indivíduos representa uma oportunidade, coletivamente deve ser analisado com cautela. O funcionamento das mídias sociais dá maior visibilidade ao que é grotesco, extremista, violento, exibicionista e narcisista, de modo que o sucesso nas redes sociais tende a estar associado a uma ou mais das características mencionadas.
Diante disso, muitos influenciadores digitais inspiram seus seguidores a agirem de maneira consumista e narcísica. De igual modo, pretensos aspirantes ao sucesso nas novas mídias passam a reproduzir tais comportamentos, o que vem a propagar uma cultura cada vez mais fútil e vulgar. É um severo ciclo vicioso onde os influenciadores fazem o que dá ibope, muitos seguidores tentam reproduzir em seu cotidiano tais atitudes e os que aspiram à fama seguem o mesmo rumo dos que têm sucesso.
Importante destacar que o fato de o estrelato parecer acessível a qualquer um tem criado uma legião de pessoas desesperadas por atenção alheia. Um sem-número de desconhecidos passam a fazer tudo (ou quase) para alcançar o sucesso nas redes sociais. Aumentar o número de curtidas, inscrições no canal, seguidores e visualizações tem se tornado o objetivo de vida de muitas pessoas, o que ajuda a explicar o aumento dos casos de ansiedade, depressão, pânico e estresse psicossocial.
Diante desse cenário, a vida nas redes sociais passa a ter, para muitos, mais importância do que a vida real. Selfies, stories e outros meios de comunicação modernos são apenas um dos lados da cultura consumista, narcisista e fútil que tem se tornado a regra nas redes sociais.
Além disso, vivemos em uma sociedade onde aparentemente quase todos querem ser, de algum modo, influenciadores, pouco importando o quão pouco tenham a acrescentar na vida dos demais. Desse modo, segue verdadeira a máxima do escritor Leon Tolstói de que “todo mundo pensa em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo”.
O que se verifica, na prática, é que os ditos influenciadores não estão a agir em prol do bem comum. Ao contrário, seus posts (muitas vezes) irresponsáveis causam consequências sérias na vida de milhões de pessoas. Do outro lado da tela, os seguidores devem ter cuidado com o conteúdo que recebem e precisam refletir sobre o que suas influências estão a acrescentar em sua vida.
Por essas e outras, é preciso repensar o nosso comportamento nas redes sociais e as consequências dele em nossa vida. Ao invés de influenciadores digitais, busque influenciadores reais, seja lá o meio no qual se notabilizam. Pelo próprio bem, não troquem a experiência e o conhecimento de pessoas da grandeza de Leandro Karnal por futilidades de Kirill Bichutsky e cia.
Texto: Gilbert Di Angellis.