Joenia Wapichana é a 1ª mulher indígena e assumir a Fundação Nacional dos Povos Indígenas

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Joenia Wapichana é a 1ª mulher indígena e assumir a Fundação Nacional dos Povos Indígenas ao lado da ministra Sonia Guajajara

A advogada e ex-deputada federal Joenia Wapichana tomou posse como presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) numa cerimônia marcada pela emoção e por discursos fortes, no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília.

A cerimônia foi prestigiada pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, Cacique Raoni Metyktire, indigenista Sydney Possuelo, ex-presidente da Funai, Enock Taurepang, coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), parlamentares e líderes indígenas.

A cerimônia começou com um ritual de defumação realizado pela pajé Mariana Macuxi, que também fez pinturas indígenas no rosto da nova presidenta da Funai. Em seguida, houve a execução do Hino Nacional cantado na língua Macuxi, etnia do norte de Roraima. Duas crianças, das etnias kayapó e Xavante, entregaram uma bandeira do Brasil e uma da Funai a Joenia.

Joenia recebeu uma faixa que simboliza a união de todos os povos indígenas do Brasil. Ela foi entregue pelo líder indígena Jacir Macuxi, um dos maiores defensores do reconhecimento da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

No discurso de posse, a nova presidente prometeu reconstruir o órgão e elogiou o fato de a Funai estar pela primeira vez sob o comando de indígenas. “Esse é o primeiro passo que a gente tem de dar. Reorganizar a Funai. Fortalecer a Funai. Buscar orçamento para a Funai”.

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Advogada Joenia Wapichana assume presidência da Funai em cerimônia marcada pela emoção

“Todo esse caminho que percorremos para chegar aqui até hoje foi longo e muito sofrido. Muitas vidas se perderam no caminho e ainda estão se perdendo. Passamos anos de desmonte, de sucateamento, de desvalorização dos servidores públicos”, disse Joenia.

A advogada criou um grupo de trabalho específico para cuidar da crise humanitária dos Yanomami.

A ministra Sonia Guajajara classificou como histórica a posse da primeira mulher indígena no comando da Funai. “Estamos construindo uma nova história, onde nós marcamos o começo da política indígena do Brasil. Até então, era uma política indigenista, onde outras pessoas, não indígenas, discutiam, construíam, representavam. Hoje é a política indígena, onde nós estamos ocupando o lugar de pensar, de construir e de executar.

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Presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, a advogada Joenia Wapichana, ex-deputada federal

A ministra Marina Silva disse que o Ministério do Meio Ambiente trabalhará em cooperação com a Funai. “Graças a Deus, ao povo brasileiro, à responsabilidade com a democracia, com os direitos humanos, com os povos indígenas, com o combate à desigualdade, com a proteção da Amazônia, a justiça social, um mundo de luta e de paz, eu e o presidente Lula estamos unidos para trabalhar em paz pelo Brasil que a gente quer. De homens que se respeitam, mesmo na diferença. Contem comigo e a minha equipe”, declarou Marina.

Cacique Raoni Metyktire, um dos líderes indígenas de maior prestígio internacional, colocou o colete da Funai na nova presidente e defendeu a conciliação entre indígenas e não indígenas, dizendo trabalhar pela paz e pelo convívio. “Quero pedir para que a gente fale uma língua só e estarmos unidos pelo bem de todos nós. Repudio a violência, o ódio e a inimizade. Nós, brasileiros, precisamos conviver em paz e de forma harmônica neste território”.

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Joenia Wapichana é a 1ª mulher indígena e assumir a Fundação Nacional dos Povos Indígenas

Enock Taurepang, coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), pediu o alinhamento dos movimentos indígenas para evitar crises humanitárias, como a do povo yanomami. “Não nos curvamos diante do Estado. Não nos tornamos corruptos e vendidos como muitos. Estamos numa conjuntura favorável a nós, porém isso me preocupa. Porque é na facilidade que fica mais fácil de a inimizade entrar. É na facilidade que fica mais fácil de a inveja entrar”.

Taurepang criticou influenciadores digitais indígenas que se alinharam com o governo passado. “Precisamos falar a verdade um para o outro porque só assim a gente vai defender de fato quem precisa. Falo em nome dos parentes yanomami que estão morrendo. Nós estamos em um mundo tecnológico em que o parente se preocupa mais com like do que com a verdade. Não preciso de like. Preciso de parceiros e amigos que vão para a luta juntos com os povos indígenas”.

A cerimônia história e prestigiada por importantes lideranças, terminou com a apresentação da dança parixara por indígenas de Roraima.

Fotos: Joedson Alves/Agência Brasil