Lula diz na França que combate à desigualdade social deve ser prioridade como o clima

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido pelo presidente da França, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, em Paris. Foi a segunda reunião de Estado entre os dois líderes este ano, depois da bilateral na cúpula estendida do G7, em Hiroshima (Japão), há pouco mais de um mês.
Vídeos compartilhados pelo presidente brasileiro mostra a recepção do presidente francês nesta sexta-feira, 23 de junho. “Depois de sete anos, o Brasil está de volta à França. Agradeço ao amigo Emmanuel Macron pela recepção”, escreveu Lula. Chefe do Executivo afirmou ter tratado, no encontro, sobre o meio ambiente, mudanças climáticas, desigualdade social e a Cúpula da Amazônia.

Segundo comunicado do Planalto, Lula e Macron conversaram sobre as negociações pelo acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, a guerra na Ucrânia, o combate às mudanças climáticas, a retomada de um intercâmbio cultural e a parceria estratégica entre os países na área de defesa.
Brasil e França firmaram uma parceria estratégica em 2006, para promover o diálogo político e as relações econômico-comerciais. Os dois países possuem ainda cooperação nas áreas de defesa, espaço, energia nuclear e desenvolvimento sustentável. A parceria Brasil-França contempla também a educação, ciência e tecnologia, temas migratórios e transfronteiriços. Segundo o Itamaraty, cerca de 90.000 brasileiros vivem na França metropolitana e outros 82.500 na Guiana Francesa, somando cerca de 172.500 no total. Com 730 km, a fronteira entre o estado brasileiro do Amapá e a Guiana Francesa constitui a maior fronteira terrestre da França.

O Brasil é hoje o segundo principal destino dos investimentos franceses entre os chamados países emergentes, tendo sido ultrapassado apenas recentemente pela China. Existem cerca de 860 empresas francesas no Brasil. A França é o 3º maior investidor no Brasil, pelo critério de controlador final, com cerca de US$ 38 bilhões investidos, e 5º maior pelo critério de investidor imediato, com investimentos de cerca de US$ 32 bilhões, segundo os dados de 2021 do Banco Central.
O presidente Lula foi a Paris para participar da Cúpula para o Novo Pacto Global de Financiamento, promovida pelo presidente Macron, na quinta e sexta-feira.

O primeiro compromisso de Lula foi uma reunião com Dilma Rousseff, presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como Banco dos Brics. A ex-presidente do Brasil foi convidada para jantar oferecido pelo presidente da França e sua esposa, aos líderes mundiais.

No início da noite, o presidente fez um discurso durante o evento Power Our Planet, no Campo de Marte. Lula falou sobre os esforços que o Brasil fará para proteger a Amazônia, responsabilizou os países ricos e coloniais pela poluição do planeta e fez um chamado coletivo pela proteção da floresta brasileira. “A Terra é nossa única casa. Juntos devemos trabalhar por um futuro melhor”. O presidente do Brasil foi ovacionado por uma multidão.
A noite, o presidente Lula e a primeira-dama Janja Lula da Silva, participaram de um jantar oferecido por Macron e pela primeira-dama Brigitte Macron aos chefes de delegação da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global.

A Cúpula contou com a participação de mais de 300 entidades públicas, privadas ou não governamentais, incluindo mais de 100 chefes de Estado.
No evento de alto nível, ao lado de diversos líderes mundiais, o presidente do Brasil defendeu que o combate às mudanças climáticas precisa ser acompanhado de ações contra a pobreza e cobrou mais investimentos dos países ricos nas economias menos desenvolvidas e em ações contra as desigualdades sociais, de raça e gênero. Falou que o novo mundo, com suas instituições antigas, não pode fechar os olhos a causa humanitária de extrema urgência.

“Nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo [vai] continuar morrendo de fome em vários países do mundo”, disse o presidente Lula.
Para o presidente, o mundo precisa aprimorar as instituições internacionais visando a uma nova governança mundial, de acordo com a geopolítica do presente, para coordenar esforços e apoiar as nações em necessidade. Segundo ele, as Nações Unidas precisam voltar a ter representatividade e força política, para que medidas importantes do ponto de vista ambiental possam ser aplicadas de forma global, como forma de combater os efeitos das mudanças climáticas.


“Se nós não mudarmos essas instituições, a questão climática vira uma brincadeira. Quem é que vai cumprir as decisões emanadas dos fóruns que nós fazemos?”, questionou. “Não se cumpre porque não tem uma governança mundial com força para decidir as coisas e a gente cumprir. Se cada um de nós sair de uma COP e voltar para aprovar as coisas dentro do nosso Estado Nacional, nós não iremos aprovar”, acrescentou.
O presidente lembrou ainda que o Brasil irá sediar a COP30, em 2025, pela primeira vez em um estado amazônico, no Pará, na capital Belém.
Na sexta-feira dia 23, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, na capital francesa. Nas redes sociais, Lula publicou uma foto em que aparece com a ex-presidente Dilma Rousseff e a prefeita Anne Hidalgo e lembrou que Paris irá sediar os jogos olímpicos de 2024.

A prefeita parisiense também divulgou o encontro com Lula. “Bem-vindo a Paris @LulaOficial! Cidadão Honorário, você está em casa aqui. Que prazer encontrá-lo e discutir os desafios que nossas democracias devem enfrentar para salvar o planeta e combater o populismo. Tudo está interligado, contamos com você”, afirmou Anne Hildalgo.
Em março de 2020, Lula recebeu das mãos da prefeita Anne Hidalgo o título de Cidadão Honorário da Capital Francesa. A honraria havia sido concedida pelo Conselho de Paris (equivalente a uma Câmara de Vereadores).
O presidente Lula também participou da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, e ao lado do anfitrião do evento, o presidente francês Emmanuel Macron, cobrou que os acordos comerciais passem a ser mais justos. “Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaça a um parceiro estratégico. Como é que a gente vai resolver isso?”.
Lula se referiu à construção da UE como patrimônio democrático da humanidade. “Depois de duas guerras mundiais, vocês conseguirem construir a União Europeia, conseguirem fazer um Parlamento, conseguirem viver com divergência, mas discutindo as coisas democraticamente. É uma coisa que eu quero para a América do Sul”.
Fotos: Ricardo Stuckert/PR)