Margaridas se mobilizam em defesa da igualdade de direitos para mulheres de todos os recantos

A mobilização de trabalhadoras rurais em defesa da igualdade de direitos, reconhecimento social e político, foi grandiosa em Brasília. Cerca de 100 mil mulheres de vários cantos do país: do campo, da floresta, das águas e da cidade, ocuparam a área central da Esplanada dos Ministérios.

A abertura, no dia 15, teve a presença de representantes dos movimentos sindicais e de ministros do governo federal. A Marcha das Margaridas, que acontece a cada 4 anos, mostra a força das mulheres. O lema da edição de 2023 é Pela Reconstrução do Brasil e Pelo Bem Viver e contou com apoio da primeira-dama Janja Lula da Silva.



No encerramento da 7ª Marcha das Margaridas, nesta quarta-feira, 16 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudou a multidão de mulheres presentes em Brasília.

Lula falou sobre violência política, lembrou o período em que esteve preso, em Curitiba, e citou a morte de Margarida Alves, trabalhadora rural paraibana morta a tiros na porta de casa em 1983. “Os poderosos, os fascistas, os golpistas podem matar uma, duas ou três margaridas, mas jamais resistirão à chegada da primavera”, disse Lula.

“A vinda de você aqui hoje demonstra que só pensa em dar golpe nos dias de hoje quem não conhece a capacidade de lutas de homens e mulheres desse país”, disse o presidente.
Durante o evento, Lula anunciou a criação de um plano emergencial de reforma agrária e de um pacto nacional de prevenção ao feminicídio. “Nossas pautas são convergentes. Nossos sonhos são os mesmos. Foi para isso que eu voltei. Para fazer do Brasil um país capaz de corrigir as injustiças.”

“É preciso criar uma cultura de respeito no campo e nas cidades. Não toleraremos mais discriminação, misoginia e violência de gênero. Não podemos conviver com tantas mulheres sendo agredidas e mortas diariamente dentro de suas casas, como também não é possível achar normal que, exercendo a mesma função, uma mulher ganhe menos que um homem”, disse ao lado da primeira-dama Janja Lula da Silva e de uma grande equipe de ministros.
A retomada do Programa Nacional de Reforma Agrária terá prioridade para as mulheres rurais, no processo de seleção das famílias beneficiadas pela política pública.

Essa demanda das margaridas por democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais está na pauta de reinvindicações apresentadas ao governo federal, em junho deste ano. As reivindicações do movimento foram cobradas por cerca de 100 mil mulheres que compareceram aos dois dias da marcha, na capital federal.

Para a coordenadora-geral da marcha e secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Mazé Morais, a marcha “renderá frutos históricos capazes de mudar a vida de mulheres por meio de uma plataforma de resistência”.
“Isso aqui coroa todo o processo de formação de mobilização que nós fizemos na base. Foram muitos momentos. A nossa pauta foi construída coletivamente, com a comissão [da marcha] e com várias organizações parceira”, declarou Mazé Morais.

Margarida Maria Alves

O Senado aprovou no dia 15 a inscrição do nome de Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A matéria segue agora para sanção presidencial.
Desde 2000, o nome da marcha é uma homenagem a Margarida Maria Alves, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Ela foi assassinada em 12 de agosto de 1983 em resposta a sua luta pelos direitos da categoria. Desde então, a liderança se tornou símbolo da resistência de milhares de homens e mulheres que buscam justiça e dignidade. Latifundiários da região são suspeitos do homicídio. Mas, até hoje, o crime segue sem solução e os mandantes não foram condenados.

O caso de Margarida Maria Alves chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Em abril de 2020, a comissão concluiu que o Estado brasileiro é responsável pela violação dos direitos à vida, integridade pessoal, proteção e garantias judiciais de Margarida Alves. O relatório ainda faz recomendações ao Estado brasileiro sobre como reparar integralmente os familiares da vítima; a investigação efetiva para esclarecer os fatos; o fortalecimento do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, concentrando-se na prevenção de atos de violência.
Fotos: Ricardo Stuckert / PR, Fabio Rodrigues-Pozzebom e Joédson Alves/Agência Brasil