Líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Bernadete Pacífico, é executada a tiros

Mais um crime bárbaro, uma violência inaceitável contra uma liderança reconhecida internacionalmente: a Mestra da Comunidade Quilombola Dona Bernadete, yalorixá Mãe Bernadete. Um triste e violento episódio que se repete na história do país.
Infelizmente o Brasil é um dos países que mais persegue e mata líderes comunitários. Essa vergonha tem que acabar. A intolerância religiosa e o racismo precisam ser combatidos com rigor. Esperamos que as autoridades sejam breves para solucionar mais esta barbaridade.
Uma mãe que lutava por justiça pela morte do filho Flávio Gabriel dos Santos, assassinado em 2017, teve a vida ceifada na noite de quinta-feira, 17 de agosto, na região metropolitana de Salvador. A líder do Quilombo Pitanga dos Palmares e ex-secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, na Bahia, Maria Bernadete foi executada a tiros.
Além de líder de quilombo, Maria Bernadete era ialorixá e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). A Conaq destacou, em nota, que a morte de Bernadete é uma “perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos”.
“Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização. Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho. Nessa luta, com coragem, desafiou o sistema e, como tantas mulheres, colocou seu corpo e sua voz na defesa de uma causa com a qual tinha um compromisso inabalável. Sua voz ressoava não apenas nas reuniões e eventos, mas também nos corações daqueles que acreditavam na mudança”, emenda a Conaq.
Dona Bernadete chegou a denunciar as violências e ameaças contra o povo tradicional, em encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Rosa Weber, em julho deste ano.
Em nota, a ministra Rosa Weber lamentou a morte de Bernadete. “Mãe Bernadete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas”, afirmou a presidente do STF.
Rosa Weber cobra providências das autoridades locais e o devido processo de reparação ao povo tradicional. “É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras. Assim como é direito de todos os brasileiros, os quilombolas precisam viver em paz e ter seus direitos individuais respeitados”, diz a nota.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva hipotecou solidariedade e expressou seu pesar pelo assassinato brutal em suas redes sociais.
“Com pesar e preocupação soube do assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada a tiros em Salvador. Bernadete Pacífico foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho e cobrava justiça pelo assassinato do seu filho, também um líder quilombola. O governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso. Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete”
De acordo com informações do Ministério da Igualdade Racial, o terreiro de Mãe Bernadete, localizado em Simões Filho (BA), foi invadido por dois criminosos com capacetes. Antes de executar a líder, os homens fizeram os familiares reféns.
Nossos sentimentos aos familiares, amigos e toda comunidade Quilombola.
Fotos: Reprodução