Lula em discurso aplaudido na ONU, cobra ação de ricos contra fome e desigualdades históricas

O presidente do Brasil fez nesta terça-feira, 19 de setembro, o discurso de abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, que reúne chefes de Estado e de governo, e ministros dos países da ONU. Tradicionalmente cabe ao Brasil abrir as discussões, realizadas todos os anos em Nova York.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou à assembleia geral como presidente do Brasil após 14 anos, para a sua oitava participação no encontro de líderes globais. Lula é o presidente brasileiro que mais vezes discursou na ONU.
Entre 2003 e 2009, Lula abordou temas que estão na pauta de seu terceiro mandato, como a reforma do Conselho de Segurança da ONU, a cobrança de recursos de países ricos para preservar florestas e a necessidade de combate à fome.
O discurso de Lula foi um dos mais aguardados e apaudidos devido o prestígio do Brasil na Cúpula. O presidente do Brasil citou mudanças climáticas, combate às desigualdades e fez críticas a conflitos armados e organismos internacionais como a própria ONU e o FMI. Lula também se manifestou sobre as questões ambientais e defendeu o desenvolvimento sustentável.
Em seu discurso que durou pouco mais de 21 minutos, Lula disse que a Agenda 2030, voltada para o desenvolvimento, pode fracassar se não forem enfrentadas as desigualdades históricas. Lula citou a fome no mundo e disse que 735 milhões de pessoas em todo o mundo vão dormir “sem saber se terão o que comer amanhã”. “A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã”, declarou.
Em seguida, o presidente passou a falar do combate às desigualdades, que foi o foco principal do discurso. Ele disse que falta “vontade política” para acabar com o problema no mundo.

“O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe. A parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida”, disse. “É preciso antes de tudo vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo”
“A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento, a Agenda 2030, pode se transformar no seu maior fracasso. Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas. A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento. O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado”, criticou.
Lula sugeriu que a redução das desigualdades seja a prioridade nos sete anos que restam para o cumprimento do tratado, que conta com 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, e assegurou que o Brasil está comprometido a implementar todos, “de maneira integrada e indivisível”. “Queremos alcançar a igualdade racial na sociedade brasileira por meio de um décimo oitavo objetivo que adotaremos voluntariamente”, destacou.
O mandatário do Brasil disse ainda que agir contra as mudanças do clima implica “pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas”. Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima. A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado.”
Em outro ponto da fala, Lula afirmou que “a comunidade internacional está mergulhada em um turbilhão de crises múltiplas e simultâneas” e que “a desigualdade está na raiz desses fenômenos ou atua para agravá-los”
O presidente citou ainda o combate ao racismo, à LGBTfobia, ao preconceito de gênero e contra pessoas com deficiência, e disse que “somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo a nosso redor”.
Lula também voltou a cobrar apoio financeiro dos países ricos para adotar medidas de proteção ao meio ambiente e combate às mudanças climáticas. Segundo o presidente, “a emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado”.

Ele lembrou compromisso firmado no Acordo de Paris, de aporte de recursos no meio ambiente, o qual classificou como “uma promessa”. “Sem mobilização de recursos financeiros e tecnológicos, não há como implementar o que decidimos no acordo de Paris. A promessa de destinar US$ 100 bilhões aos países em desenvolvimento permanece apenas isso. Uma promessa”, afirmou.
O presidente brasileiro também voltou a defender o desenvolvimento sustentável e citou medidas tomadas pelo governo, como o Plano de Transformação Ecológica e a Cúpula de Belém, que reuniu países com parte da floresta amazônica em seus territórios.
“Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera. Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo. No Brasil, já provamos uma vez e vamos provar de novo que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível”, afirmou.
Lula disse que o Brasil está comprometido a cumprir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e também um 18º, de combate à desigualdade racial, previstos na Agenda 2030.
Segundo o presidente, no entanto, em todo o mundo, “a maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento. O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado”.
Lula disse que os conflitos armados “são uma afronta à racionalidade humana”. O presidente afirmou ser “perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças”.
O presidente brasileiro afirmou ainda que “o Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente a sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime”.
“A ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Mas só o fará se seus membros tiverem a coragem de proclamar sua indignação com a desigualdade e trabalhar incansavelmente para superá-la”, finalizou Luiz Inácio Lula da Silva.
O Brasil reafirmou seu compromisso com o enfrentamento das mudanças climáticas e das desigualdades. Reafirmou seu compromisso com a construção da paz.
Fotos: Reprodução