Ativista Ailton Krenak é o primeiro indígena a fazer parte da Academia Brasileira de Letras

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Ativista e escritor Ailton Krenak é eleito para a ABL

O ativista indígena, ambientalista, filósofo, poeta, escritor brasileiro, Ailton Krenak, da etnia indígena Krenaque, é o mais novo Imortal da Academia Brasileira de Letras. Com 23 votos ele vai ocupar a cadeira 5 da instituição centenária, que pertenceu a José Murilo de Carvalho, falecido em agosto deste ano.

Disputaram com Krenak a historiadora Mary del Priore e o escritor também indígena Daniel Munduruku, que obtiveram, respectivamente, 12 e quatro votos.

Ailton Krenak é um dos mais proeminentes intelectuais brasileiros da atualidade e uma liderança histórica do movimento nacional indígena. Sua escolha para a ABL é histórica e de suma importância pois é uma voz fundamental dos povos originários.

Autor dos livros “Ideias Para Adiar o Fim do Mundo”, “A Vida Não é Útil” e “Futuro Ancestral”, lançados pela Companhia das Letras, Krenak é engajado em mostrar novos jeitos de viver – que poderiam ajudar a garantir o futuro da humanidade.

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Ailton Krenak autor do livro “A Vida Não é Útil”

O presidente da ABL, Merval Pereira, disse que Krenak é um poeta com “visão de mundo muito própria e apropriada para este momento, em que o mundo está preocupado com o meio ambiente, em que os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória de Krenak na Academia. É um indígena que trabalha com a cultura indígena, com a valorização da oralidade”.

Merval citou o livro Futuro Ancestral, de Krenak, que trata da preservação dos rios como forma de conservar o futuro. “Os rios já estavam aqui antes de a gente chegar. Esta visão da natureza, do homem junto com a natureza, é que a gente está reforçando com esse grande escritor e intelectual indígena”.

Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953, em Itabirinha, na região do Rio Doce, em Minas Gerais, e se mudou com a família para o Paraná aos 17 anos. Lá, se alfabetizou e iniciou sua vida profissional, como produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, passou a se dedicar exclusivamente ao movimento indígena e fundou, em 1985, a ONG Núcleo de Cultura Indígena. Na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, ele teve papel essencial.

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Ativista e escritor Ailton Krenak, Doutor Honoris Causa pela UnB, é eleito para a Academia Brasileira de Letras

Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas e em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta. Uma década depois, em 1999, sua obra O Eterno Retorno do Encontro foi publicado no volume A Outra Margem do Ocidente, organizado por Adauto Novaes.

Ele é membro da Academia Mineira de Letras, ele é professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB), venceu o Prêmio Juca Pato em 2020 como intelectual do ano e é presença frequente em debates e eventos literários. O escritor vive na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor (MG).

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Ailton Krenak é o primeiro indígena a fazer parte da Academia Brasileira de Letras

Em A vida não é útil, Krenak aborda a pandemia da covid-19 e diz: “Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda”. Krenak valoriza a cultura indígena e mostra que a forma de lidar com a natureza e o mundo têm muito a ensinar a sociedades capitalistas. “Já vi pessoas ridicularizando: ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o rio, contempla a montanha, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado. Há muito tempo não programo atividades para depois. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã”, diz em outro trecho do mesmo livro.

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Ailton Krenak com a Reitora da UnB Márcia Abrahão, durante recebimento do título Doutor Honoris Causa, em 2022

Aílton Krenak recebeu em 2022, o título Doutor Honoris Causa da UnB. O reconhecimento, um dos mais importantes da instituição, é concedido a personalidades que tenham se destacado pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.

A acadêmica e escritora Rosiska Darcy classificou a eleição de Krenak como histórica. “Não só para Academia, como para o Brasil, não há melhor substituto para um grande historiador do que a história encarnada, que é o Krenak. Krenak encarna hoje uma parte importante da história do Brasil. Estou muito feliz com a eleição dele”.

Fotos: Marina Silva/Divulgação e UnB